Pov: ClarissaTrês dias se passaram e eu estou aqui no meu quarto, sem vontade de fazer nada. As minhas férias terminam daqui a três dias e nem meu material escolar consegui comprar.
Estou me sentindo envergonhada, culpada, profundamente triste. Em momento algum Jace disse que sentia algo por mim. Toda a culpa pelo que ele julga estar acontecendo é minha. Eu sinto. Eu reajo. Puro machismo! Ele não. Ele não sentiu nada... Coitadinho! Pobre coitado! Foi seduzido pela irmãzinha inexperiente de dezoito anos! Pobre homem maduro de trinta e um!
Estou com raiva. Muita raiva. E tenho certeza de que é isso que ele quer que eu sinta. Nesses três dias, mal nos cumprimentamos e, quando precisamos fazer nossas refeições juntos, dizemos o mínimo do indispensável. Todo esse distanciamento me deixa louca. Chego a pensar que prefiro a amizade dele a sentir todo esse gelo. Jace está me evitando e, quando não consegue evitar, me ignora. Dói. Dói muito. Acho que nunca mais conseguiremos recuperar a intimidade que uma vez tivemos. Sempre haverá esse vão, esse quase, esse mas entre nós. E eu só consigo pensar no eu quero, no agora, no porquê não... Minha vida parece perder o sentido e eu me vejo cair num poço fundo, muito fundo e sem nada a que eu possa me agarrar.
Todas as noites após o jantar, Jace tem saído. Fico imaginando onde ele está, com quem... E quando o fazendo o quê começa a dominar a minha mente, dou tapinhas no meu próprio rosto. Suicida. Você gosta do caminho que a leva à morte...
Passo a manhã trancada no quarto. Não me alimento adequadamente há três dias. Resolvo tomar um banho e descer para almoçar, antes de ir ao shopping comprar o material escolar.
Desço exatamente na hora em que minha mãe e Jace estão se servindo. Não há mais ninguém em casa para a refeição. Somos só nós três. Não podia ter escolhido me alimentar em um pior momento.
Jace está ao lado da cadeira vazia em que eu costumo me sentar. Todos os sintomas típicos de quando o vejo, invadem meu corpo. A diferença agora é que se tornou constrangedor estar ao seu lado.
– Boa tarde. – cumprimento antes de me sentar.
– Boa tarde... – minha mãe me responde, enquanto Jace só move a cabeça para frente, me estudando com seus olhos observadores.
– Vai sair? – ela me pergunta, analisando meu vestidinho curto de verão, antes mesmo que eu comece a me servir. Estou dobrando o guardanapo e colocando sobre o colo.
– Vou até o shopping comprar meu material do colégio. – respondo colocando um pouco de arroz em meu prato.
– Jace acaba de me dizer que vai ao centro da cidade. Por que não pega uma carona com ele? – minha mãe parece não fazer a menor ideia do que acaba de propor.
O silêncio se instaura ainda mais pesado, enquanto ela me analisa com atenção. Procuro coordenar os pensamentos e transmitir naturalidade em minha voz.
– Não há necessidade. – digo concentrada na salada verde que estou adicionando ao meu prato. – Eu vou de ônibus.
– Isso não tem o menor cabimento, Clarissa! – a voz grave de Jace invade a sala e eu o encaro, surpresa. – Se eu estou indo para o centro, não há porque você ir de ônibus. Eu vou levá-la e não se fala mais nisso...
Hã? Mas que grandessíssimo filho da mãe! Jace passa três dias me ignorando, três! Os piores dias da minha vida! E agora vem com essa cara de pau agir como se eu estivesse negando sua carona a troco de nada?
Engulo a minha raiva enquanto acrescento agora um pedaço de carne a minha alimentação do dia. Perdi o apetite. Estou sem vontade de comer, de responder, de permanecer aqui...
Minha mãe está me encarando. Começo a sentir minhas mãos trêmulas. Continuo calada e levo um pouco de comida à boca, enquanto ela parece ter iniciado um assunto com ele. Não absorvo nada do que ela diz. Aliás, não tenho absorvido nada. Meu único pensamento é uma saída para o grande labirinto em que eu me encontro. Não absorvo nem, tampouco, exprimo. Finjo. Finjo que não sou, que não quero, que não sinto o que sinto e que não ligo para o dito. Eu não absorvo, nem exprimo... Eu finjo. Eu minto. E me guardo num casulo dentro de mim mesma. Eu não sou eu. Sou outra. Meus pensamentos me levam para longe e, em meio deles, ouço a voz da minha mãe, uma... duas vezes. Ela me chama e me devolve à realidade dura da qual eu desejo ardentemente escapar.
– Oi? – finalmente respondo.
– Oi? Como oi? – minha mãe me olha com um ar severo. – Você está há minutos remexendo esse prato. Não comeu nada! – Sim, ela está irritada. – O que há com você? Está pálida, emagrecendo muito...
– Só estou sem apetite. – dou de ombros. – Só isso...
– Vou pedir a seu pai que prescreva uns exames para você, isso não está normal! – minha mãe continua sua sessão de preocupação excessiva, em um tom mais alto.
Levanto num salto. Perdi a paciência e não estou disposta a ser humilhada na frente de Jace dessa forma. Não sou mais uma garotinha que precisa ser punida por suas travessuras.
– Aonde pensa que vai?! – ela se exaspera quando viro as costas e pego minha bolsa. – Eu ainda não terminei...
– Pois eu já... – coloco a alça da bolsa atravessada ao meu corpo e fecho a porta atrás de mim.
Que saco! Até quando eu tenho que aguentar esse tipo de coisa? Por que eu nunca posso ser levada a sério? Bato o portão e ganho a rua, indo em direção ao ponto de ônibus. Final de semana, o fluxo de trânsito é bem menor, mas em compensação, o número de coletivos circulando também é. Estou muito aborrecida, muito. Só quero poder ter o direito de ser quem eu sou, sentir o que sinto e fazer o que tenho vontade sem ser criticada, julgada ou reprimida o tempo inteiro!
Um carro prata se aproxima lentamente e para ao meu lado. A janela do carona se abre. Jace me olha sério do banco do motorista. Os óculos de sol não permitem que eu consiga ver os seus olhos, mas posso sentir toda a expressão pesada de suas feições. Ele está com raiva de mim. Raiva por eu estar tão próxima dele. Raiva por eu demonstrar o que sinto por ele. E mais que tudo, deve estar com raiva de si mesmo, por não saber como controlar seus instintos. E por que diabos ele não toma o primeiro avião rumo ao inferno de onde veio? Afinal, não fui eu que me instalei na casa dele!
– Entre, Clarissa! – ele diz controlando a raiva na voz.
Finjo que não é comigo. Não sou obrigada a nada. Muito menos a entrar no carro de um homem que há três dias me pediu para manter distância. Um homem que me acusou de estar prejudicando-o na retomada de sua vida. Ele que vá para o inferno! Para o inferno com esse maldito carro.
– Clarissa, entre no carro! – fala mais alto e algumas pessoas que estão próximas começam a perceber a quem ele se dirige.
– Jace, me deixa em paz...! – digo entre os dentes e com os olhos destilando raiva.
–Clarissa, entre nessa droga desse carro... AGORA! – ele diz ainda mais alto e bravo.
Eu olho para os lados e me sinto profundamente envergonhada. Ele venceu. Caminho até a porta do carona e entro no veículo. Jace põe o carro em movimento pela avenida em direção ao centro. Eu estou quase explodindo de tanto ódio, mas seguro o máximo que posso. Até que não aguento mais.
– Se você acha que pode falar comigo daquele... – não consigo terminar.
– Pelo amor de Deus, Clarissa! – os óculos de sol ainda não me permitem ver os seus olhos, mas posso sentir toda a sua raiva. – Fica calada!
O sangue ferve em minhas veias. Meu corpo todo treme sem controle e eu sinto uma vontade horrível de chorar. Fico lutando contra minhas lágrimas, enquanto Jace estaciona dentro do shopping, tira finalmente os óculos e me encara.
– Desculpe! – expira profundamente. – Por favor, me desculpe... Fui extremamente grosseiro com você e isso não está certo. Peço sinceramente que me desculpe.
As lágrimas teimosas que eu, inutilmente tentei segurar, começam a descer pelo meu rosto. Odeio chorar! Não consigo pronunciar uma única palavra. Estou cansada demais, ferida demais. Só queria voltar para casa... Jace vence a distância que há entre nós e me aconchega em seus braços. O cheiro dele começa a alcançar meu sentido olfativo e o calor do seu corpo manda um sinal para meu coração de que eu estou onde deveria. No lugar certo. No meu porto seguro. Nos seus braços. Minhas lágrimas começam a pingar na sua camisa e eu esvazio minha alma de encontro à certeza de seu consolo. Seus braços são minha base. Seus braços são meu lar. Estou... exposta, vulnerável. Ele pode tocar minha alma com as suas mãos.
– Minha garotinha... – acaricia meus cabelos gentilmente e beija o alto da minha cabeça. – Eu não quis magoar você, me desculpe. Eu nunca quis isso!
Ficamos nós dois, aqui, durante os minutos que se arrastam, até que eu me acalme. Choro por todos os anos que ficamos separados; choro por todas as despedidas; choro por toda essa distância afetiva que nos separou esses três dias...! Sento no banco e apoio a cabeça no encosto, respirando profundamente. Jace apenas me observa.
– Precisamos conversar mais sobre... nós. – diz finalmente. – Vem! – pega minha mão, me convidando a sair do carro – Mudei de planos!
– Como assim? – digo ainda secando meu rosto.
– Eu tinha umas coisas para fazer, mas elas podem esperar. Vamos passear e comprar suas coisas... – dá um sorriso que enche meu coração de ternura. – Eu... – suspira e me olha com carinho. – Eu quero minha garotinha de volta...! E ele toca minha alma com suas mãos.É galera esse aí é mais bipolar que tudo kkkkkkkkk
Não se esqueçam de votar e comentar oque acharam, sério me motivam muito...
Quem sabe não volto com outro ainda hj? Bjs até o proximo😙✌🏼
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doce inocência (clace)
RomanceClarissa é ainda muito jovem quando precisa lidar com o primeiro grande problema -aparentemente clichê: o amor platônico por jace um homem mais velho, músico e melhor amigo de infância de seu irmão. Todo seu drama pessoal Na tentativa de escond...