Pov-Clarissa
O som das vozes das pessoas que olham a vista nos traz de volta à realidade. Jace parece envergonhado e eu também. Damos uma distância de um passo um do outro e ele levanta as mãos como se me pedisse calma. Passa uma delas pelos cabelos lisos e claros, levando-a ao queixo, logo em seguida.
Demoro a entender que o pedido tinha sido feito para que ele também pusesse em ordem seu autocontrole e pensasse em algo certo a dizer. Eu continuo sem fôlego, respirando com extrema dificuldade. Minhas mãos tremem ainda de emoção. Sim! Eu amo esse homem com todas as minhas forças. E quero. Eu o quero.
- Clarissa ... me desculpe. - fala apreensivo.
Está muito perturbado. Sinto que é a hora de dizer um pouco da verdade que ainda escondo dentro de mim.
- jace , eu quis tanto quanto você! - digo olhando em seus olhos. - Não se culpe porque eu não me arrependo de nada do que aconteceu aqui.
- Eu acho que você não está entendendo... - aproxima-se. - Não é uma questão de se arrepender ou não. - revira os olhos e sua expressão é de apelo. Ele junta as mãos. - Isso nunca mais pode acontecer. - repete como se estivesse tentando convencer a si mesmo - Isso nunca mais vai acontecer!
- Como quiser... - sinto uma dor profunda no meu peito e minha vontade é de sair correndo. Mas a nova Clarissa só se permite caminhar em direção à saída. Como da outra vez, jace agarra um dos meus pulsos e me encara, ainda sustentando o olhar duro e o maxilar trincado... - Você acha que há algo de errado com você, não é? - estuda atentamente meu rosto como se buscasse por si só a resposta para essa pergunta.
- Não há nada de errado com você. Eu te desejei... - respira e solta meu braço. - Meu Deus, o que estou dizendo! - está confuso, muito confuso. Totalmente transtornado.
Resolvo que é preciso dar as cartas novamente, tranquilizando-o.
- jace, está tudo bem... - seguro uma de suas mãos e o olho com convicção. - Está tudo bem... - dou um sorriso e aguardo até que ele faça o mesmo.
- Amigos? - aperto a mão dele.
- Amigos! - dá uma risadinha nervosa e me olha sério.
- Um olhar doce e inocente - ele diz e eu faço uma careta - ... em uma mulher... Você agora é uma mulher!
Uma mulher linda. Linda. A menininha feia e desinteressante agora é uma mulher linda. Vai ser difícil dormir com um barulho desses, não é mesmo, jace? Fuja se for capaz.
Mais uma vez, ouvimos passos entrando na área externa. É Mauro. Ele caminha em nossa direção e quando me vê segurando a mão de jace, se aproxima de forma um tanto quanto agressiva. Ameaçadora até.
- Clarissa?! Por que demorou tanto? Disse que ia ao banheiro! Fiquei preocupado e... - o médico residente interrompe sua frase. Talvez por perceber o clima que há no ambiente. Se tivesse chegado minutos antes, teria nos visto em um beijo de tirar completamente meu fôlego.
- Olá. Eu sou o jace... - jace solta minha mão e estende a dele para Mauro, que a aperta com desconfiança. - E você deve ser o namorado de Clarissa... - diz a palavra namorado, trincando os dentes. Ciúme. É visível que está se roendo de ciúmes. Eu não sei ainda se é ciúme da antiga menininha que ele defendia dos perigos ou se é da mulher que acabara de beijar. Tento desmentir a situação, mas Mauro, que ainda segura a mão de jace, se apressa em falar.
- Muito prazer. Eu sou Mauro. Clarissa e eu... - agora é a vez de jace interrompê-lo.
- O prazer é meu. - responde secamente e vira-se para mim. -Vou até seu pai! E você devia fazer o mesmo! - está sério e dirige-se à Mauro - A propósito, sou só o irmão postiço dela, não se preocupe comigo. - vira-se e caminha firmemente em direção à saída da área externa.
Irmãos?! Nossa, jura?! Depois da maneira como nos beijamos, ele ainda espera que pode ser meu irmão?! Quase dou uma risada. É hilário pensar que ele acredita mesmo que Mauro é meu namorado. Quanta ironia! Logo eu, que estou louca para me ver livre desse cara chato pra caramba! Ainda tive a coragem de gritar por jace. De implorar que voltasse; de dizer que Mauro não era meu namorado e que eu queria muito que me tomasse em seus braços e me beijasse de novo, de novo, de novo...
Está frio aqui sem o seu calor, sem seus braços ao redor de minha cintura. Em seus lábios quero me perder... Perdida eu estou em meus pensamentos quando Mauro me chama pela segunda vez. Eu tinha levado meus dedos aos lábios, num gesto automático e não havia dado conta disso. Retiro a mão da boca e encaro seu olhar curioso.
- Hum? - digo ainda absorvida pelos últimos acontecimentos.
Aff. O que esse cara ainda está fazendo aqui, olhando para mim desse jeito? Ele não se manca? Onde aperta o botão do Caia fora, você é chato a beça, no caso!?
- Vamos tomar algo no bar? - propõe. Meu pai está no bar. É lá mesmo que vou despachar esse encosto.
- Vamos. - respondo secamente, sem a menor paciência.
Você agora é uma mulher! Uma mulher linda. Caminho para fora da área externa, em um misto de coragem e temor. Aceito o desafio. Eu o quero. Eu quero muito. Estufo o peito. Uma mulher linda. Dou um sorriso de vitória antecipada para mim mesma. Fuja se for capaz, jace. Porque eu o quero. Eu o quero pra mim.
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doce inocência (clace)
RomansaClarissa é ainda muito jovem quando precisa lidar com o primeiro grande problema -aparentemente clichê: o amor platônico por jace um homem mais velho, músico e melhor amigo de infância de seu irmão. Todo seu drama pessoal Na tentativa de escond...