22° capítulo

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Pov:Clarissa

Nessa manhã, eu acordo muito bem disposta. O fato de começar a tomar as rédeas da minha vida e aceitar que preciso aprender a conviver com todos os meus sentimentos, me desperta para a beleza da vida.
Estou atrasada e me preparando para ir ao colégio. Sorte que, desde a noite de ontem, minha bolsa já está pronta com o material que preciso levar hoje.
Termino de me aprontar, pego minhas coisas e entro na cozinha feito um furacão. Meu pai e Alec estão tomando café. Bastiana esquenta o leite, mas não há tempo para nada. Estou muito atrasada.
– Bom dia! Bom dia! Bom dia! – digo apressada, beijando os três no rosto.
– Bom dia, maninha! – Alec responde enquanto leva o copo de suco à boca.
– Bom dia, filha! – sorri. – Dormiu bem?
– Sim, como uma pedra! – estou sendo sincera. Recuperar meu barquinho me deu coragem.
– Não vai tomar café? – Bastiana pergunta com a leiteira já pronta para encher o copo.
– Não, estou super atrasada! Como alguma coisa na escola! – pego uma maçã na fruteira que está sobre a bancada e dou uma mordida.
– Oxe, menina! Logo hoje que não fiz ainda sua merenda... – Bastiana diz chateada. - Lá vai ocê comer aquele monte de porcaria!
– Não se preocupe, minha linda! – beijo o rosto dela. – Partiu!
– Não quer uma carona? – meu pai limpa a boca com o guardanapo e se levanta. – Já estou saindo também.
– Opa! Bora! – digo ajeitando a alça da bolsa no ombro.
– Já é! – meu irmão exclama, imitando forçadamente o jeito dos garotos que utilizam a gíria. E caímos na risada.
Izabelle entra na cozinha reclamando que perdeu a hora. Ainda está com o rosto amassado pelos travesseiros e a aparência de quem dormiu tarde. Estou saindo a tempo de ouvir Bastiana retrucar.
– Se eu te acordo, tomo fora. Se eu não acordo, ocê reclama! Eu não entendo ocê, menina!

Minha animação toda fica comprometida quando lembro que temos os dois primeiros tempos de Geografia. Voilà! Maia para os interessados nos índices de crescimento da população mundial. Aff. Não tenho a menor paciência para as caras e bocas que ela faz!
    No intervalo, Rebeca surge das profundezas de um bueiro qualquer e se dirige a mim e minhas amigas como se fizéssemos parte do seu rol seleto de best friend forever da semana. Patética!
    – Meninas! – diz toda empolgada e encostando-se a mim. Eu retiro meu ombro com força e faço uma cara de Quem é você na fila do pão?, mas ela finge que não nota e continua sua tagarelice.
    – Já viram o novo professor de Educação Física? – abre a boca com a nossa expressão desdenhosa. – Não? Nossaaaa! Para tudo! É um gato!
    – Ahhh, que bacana! É mesmo, Rebeca!? – Ju debocha, mordendo um pedaço da casquinha do sorvete que tinha tomado.
    – O que você tem mais a dizer a respeito disso? – Soninha zomba e nós três começamos a rir. Mas a falta de noção de Rebeca não tem limites e ela continua agindo como se estivesse no meio de uma zoação entre... amigas.
    – Estão duvidando de mim, é? Pois fiquem sabendo as três... – aponta para nós. – ... que vão babar! – sai rebolando e jogando o longo cabelo pro alto. Nossa! Que amor de pessoa!
    – Viva as pontas duplas! – Ju exclama jogando o guardanapo fora.
    – Uiii! – Soninha completa. – Você é cruel!
    O sinal toca e vamos com nosso material em direção aos vestiários femininos. Teríamos nossa primeira aula de natação com o mais novo professor de Educação Física do colégio.
    Quando estou próxima às grades que separam o vestiário da piscina, observo o novo professor, de costas, retirando uma das raias horizontais móveis.
    A visão daquelas costas dentro da camiseta e do cabelo claro molhado me traz uma estranha sensação de desconforto. Eu conheço os músculos daqueles braços como e com a palma da minha mão. Conheço o movimento daquele quadril, a agilidade daquelas mãos, o gingado dos passos...
    Estou chocada. Jace... É o Jace! Mas que diabos ele está fazendo aqui?
    Estou paralisada com as bolsas nas mãos. Eu preciso de uma consulta urgentemente para avaliar esses meus problemas motores. Minhas amigas não entendem porque parei de andar e me olham assustadas.
    – O que houve? – Ju pergunta enquanto Soninha acompanha meu olhar.
    – Jace... – diz baixinho.
    – Meu Deus! É o Jace! – Ju quase grita com o susto. – Mas o que é que ele está fazendo aqui e... vestido daquele jeito?
    – Ele... – minha voz falha e engulo em seco. Pigarreio e conserto a minha postura. – Ele também é formado em Educação Física.
    – Como assim, Brasil?! – Ju leva as mãos à boca. – Cara, isso significa que ele vai dar aulas... pra gente? – aponta para nós três e solta um suspiro alto. – Aí babou! – leva as unhas à boca e já começa seu processo de decepar o dedo.
    – Vamos trocar de roupa, vamos! – Soninha nos empurra gentilmente.
    – De jeito nenhum! – digo sobressaltada. – Nunca que eu vou me sujeitar a uma coisa dessas!
    – Amiga, alôoou! – Ju estala os dedos no meu rosto. – Há tempos você daria tudo para que isso pudesse acontecer! Aproveita a oportunidade e agarra logo esse bofe!
    – Eu não estou entendendo... – Soninha está pensativa. – O cara pede distância, você dá. Jura que não sente nada por você... E vem trabalhar justamente aqui?
    – Eu acho que ele está caidinho por ela, isso sim! – Ju cruza os braços e assim como nós, continua observando Jace de longe. – Acho que tudo isso faz parte do joguinho de sedução dele.
    – Pensando bem... Vamos trocar de roupa! – digo decidida. – Ele está jogando? Pois, então. Vamos ver quem dá as cartas primeiro! Ou melhor, vamos ver quem vence esse jogo!
    – Hummm... – Ju bate palminhas e me segue até o vestiário. – Assim que eu gosto! Adoro uma competição saudável! – esfrega as mãos e vira os olhos, fazendo uma careta.
    Visto o maiô preto e prendo meu cabelo num coque alto. A touca da mesma cor que o maiô cobre minhas orelhas e eu ponho os óculos de natação no alto da cabeça. Guardamos nossos pertences no armário e caminhamos em direção à piscina.
    Então é esse o seu novo emprego? Um emprego cujo salário não paga nem um dos ternos que ele usa! Por quê? Para me punir? Para me castigar por eu amá-lo tanto? Não consigo entender! Por que ele está fazendo isso?
    Se for para satisfazer um capricho de ser professor, ele poderia ter escolhido qualquer colégio. Qualquer um! Menos o meu! É desse jeito que pretende se manter afastado?
    Ele tinha estudado naquela escola, está certo. Há muitas lembranças vivas para ele naquelas paredes, mas mesmo assim... Ele fez de propósito! A pergunta, porém, é insistente: Por quê?
    – Meninas! – Jace aproxima-se de nós. Eu estou parada de frente para ele, de braços cruzados e com fogo nos olhos! - Que bom que serão minhas alunas! Fiquei contentíssimo quando vi os nomes no diário... – seus olhos estão pousados em mim, feito um ímã.
    – Que palhaçada é essa?! – confronto-o entre os dentes. – Por que não me contou nada?
    – Contou o quê? – um sorrisinho de canto de boca aparece, enquanto enrola a cordinha do apito na mão.
    – Que viria dar aulas aqui...? – estou profunda e absurdamente irritada.
    – Por acaso estou sentindo uma... irritabilidade em sua voz? – Jace ironiza. Está sendo um divertimento para ele conduzir parte da minha vida!
    – Claro que está! – quase grito. – Não foi você mesmo quem me pediu para...
    – Ei! – ele me interrompe. – Que tom é esse, mocinha?! Respeite o meu trabalho, por favor! – chega mais perto e fala baixo. – A direção me ligou, me fez uma proposta e eu aceitei. Isso é tudo! Eu não tenho que dar satisfações a você! – olha de um lado a outro. – E para de fazer cena porque está todo mundo olhando!
    – Ah!!! – digo ainda mais alto. – Pois você devia ter ficado preocupado com as minhas cenas antes de... – Soninha, segura meu braço.
    – Cara, se controla! Ele está só tentando provocar você.
    Argh! Só, Soninha? Só?
    – Vamos lá, pessoal! – Jace diz batendo palma e olhando fixamente para mim. Leva o apito à boca e assopra forte. – Vamos aquecer para cair na água!
    Mi-se-rá-vel! Mas que ódio! Que ódio! Que ódio! O que ele pretende com isso?
    Jace agora é meu professor. É autoridade dentro do colégio. Estou batendo o queixo de tanto sentimento acumulado. Se ele pretende que eu passe a odiá-lo para conseguir me afastar...Vai realizar seu desejo mais rápido do que pensa! Começando em 3, 2, 1...
     Jace é meu professor. Autoridade sobre mim. Meu professor... Detentor de mais um poder.
    Mais um. Há uma linha tênue entre o amor e o ódio. E eu agora caminho sobre ela, segura do meu objetivo. Quando todo o amor que eu sinto se transformar em ódio, tomarei todos os poderes que estão em suas mãos.
    E serei plena de mim mesma.


E vocês piscaram e eu voltei! Mas eai será que a clary vai mesmo sair dos encantos do jace? Ou...
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doce inocência (clace)Onde histórias criam vida. Descubra agora