12° capítulo

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    Pov: Clarissa

      O banho de piscina mexeu um pouco com meus nervos. Eu me sinto agitada e ansiosa. Meus pensamentos sempre serão meu céu e meu inferno, quando se trata de Jace.

      Penso na minha família. No desapontamento que seria para todos se eu demonstrasse sentir por ele, mais do que amor de irmã. Como reagiriam? O que teria acontecido se alguém tivesse nos flagrado, aos beijos, na área externa daquela festa? Aos beijos...

      Deixo a água fria escorrer por meu rosto. Estou tomando banho no banheiro do meu quarto e nem mesmo esta água fria da ducha é capaz de abrandar o calor que me invade. Eu me lembro da forma como Jace me tomou nos braços e se apossou da minha boca; na maneira como ele reagiu ao meu toque... Sim, fomos criados como irmãos! Sim, ele é treze anos mais velho do que eu! Mas também sou convicta em dizer: Sim, ele me deseja. E eu o amo. Amo, com toda a minha alma. Lembro que na hora do banho de piscina, as meninas ficaram alguns minutos na companhia dele tomando sol. Falaram baixinho alguma coisa que não consegui ouvir. Logo depois, ele pegou o celular e anotou algo. Uma ponta de ciúme volta a me atingir com a lembrança. O que eles cochicharam? Por que deram risadinhas? Será que se eu perguntasse as minhas amigas, pareceria paranoica demais?

      Troco de roupa e quando termino de pentear meu cabelo, ainda molhado, ouço a buzina de um carro do lado de fora da casa. Escuto minha ex-babá gritar lá debaixo:
      – Eles chegaram! Eles chegaram! – Bastiana parece correr em direção à porta.
     Quando chego ao fim da escada, Alec está entrando pela porta da sala com uma mala na mão. Meu irmão é meu melhor amigo.
      – Alec! – eu me atiro em seus braços. – Que saudade, que saudade!
      – Oi, minha bonequinha... – acaricia meu cabelo ternamente, beija meu rosto e se afasta um pouco para me admirar. – Nossa, como está linda aos dezoito!
       – Ah! – retribuo com um sorriso.
       – Vamos comemorar! – diz dando uns passos à frente, colocando a mala no chão e abraçando Bastiana. É nesse momento que me vejo cara a cara com mamãe. Ela se aproxima da porta e coloca sua mala no chão. Tira os óculos de sol do rosto e coloca no alto da cabeça.
       – Você leva para mim, querido? – pede a Alec que prontamente pega a mala. – Olá, Clarissa. – minha mãe me cumprimenta e eu sinto minhas mãos geladas.
       Por que sempre me sinto uma idiota na frente dela? Por que é sempre tão desconfortável estar em um mesmo ambiente sem precisar medir as palavras, controlar os movimentos, calcular as consequências de um comentário?
      – Oi, mãe. Como foi a viagem? – é tudo o que consigo dizer.
      – Foi ótima, obrigada. – responde secamente. – Ah, Bastiana! – afasta-se e a abraça. – Como está tudo por aqui?
      – Noite, patroa! – Bastiana cumprimenta minha mãe com um aceno de cabeça. – Tudo bem. Fiz a comida que o meu menino mais gosta pra janta!
       – Mas você é demais! – Alec abraça Bastiana, tirando-a do chão. – Oxe, menino mais miolo mole! Ocê me coloque no chão e pare de me aperrear! – dá tapinhas no ombro do meu irmão enquanto rimos. Até mamãe.
      – Trouxemos presentes! – minha mãe coloca a bolsa de couro preta em cima do sofá e se senta. – Estou exausta! Onde está Izabelle?
       – Tá no quarto dela. – Bastiana diz. – Deve tá com aquele negócio no ouvido! Vou chamar.
      Minha família está completa agora. E imagino qual não será a surpresa de mamãe e Alec quando virem Jace em carne e osso aqui em casa. E antes que eu possa especular um pouco mais sobre essa possibilidade, o grande hóspede da casa vem descendo as escadas, bem vestido, cheiroso e com o mais bonito de todos os sorrisos que eu já vi em minha vida.
      – Meu Deus! – minha mãe diz com os olhos arregalados. – Jace, meu filho! É você?! – vai ao encontro dele e o abraça.
       Quando? Quando em toda a minha vida minha mãe me abraçou desse jeito carinhoso? Quando foi que minha mãe me abraçou?
      – Que abraço bom, D. Jocelyn! – ele a beija no rosto. – Assim vou ficar mal acostumado! Há muito tempo não sou tão mimado.
      – Ah, meu filho! Que alegria ter você de volta! – ela o solta. –Não vai embora rápido dessa vez, né?
     – Na verdade... Dessa vez não pretendo ir embora... – Jace diz indo em direção a Alec e minha mãe junta suas mãos à boca em sinal de puro contentamento.
      – E aí, irmão! – Alec o abraça com força, dando várias batidas em suas costas. Um cumprimento tipicamente masculino.
      – Pô, cara! Que alegria ter você de volta, meu camarada!
      Meu pai chega da clínica e se junta a nós. Izabelle e Bastiana também. Fico observando cada gesto, cada olhar, cada movimento desse reencontro e não posso deixar de sentir uma emoção imensa. Esse é o meu mundo. Essa é a minha família, essa é a minha vida. Esse é o homem que desejo ao meu lado para o resto dos meus dias. Essa é a segunda vez que vejo essa cena se repetir. E espero nunca mais assisti-la porque não haverá mais despedidas. Não haverá mais promessas de retorno. Esses abraços serão constantes e eternos. Essas manifestações de carinho serão diárias. Essa paz será a mola propulsora da nossa convivência em família.
      – Ah, meu filho, que bom que voltou! E vai ficar com a gente! Isso é muito bom! – minha mãe volta a abraçar Jace. Pelas minhas contas, o trigésimo abraço da noite... após o jantar.
      – Se eu não for atrapalhar... – ele diz sorrindo e põe o copo com o licor que meu pai nos serviu, no descansa-copos em cima da mesinha.
      – Você nunca atrapalha, meu querido! – segura uma de suas mãos.
      – Mamãe, os presentes! – Izabelle lembra.
      – Sim, os presentes! Filho, pegue a mala! – pede a Alec, enquanto se levanta.
       Alec prontamente se encarrega de abrir, no tapete, uma mala cheia de pequenos pacotes, embrulhados com papel de presente. Ele dá um dos seus relógios para Jace, já que não fazia ideia de que o encontraria de volta em casa. Ganho dele uma linda gargantilha com um pingente de coração. Um a um, os embrulhos vão sendo entregues aos donos. De repente, vejo minha mãe estender o braço em minha direção. Em suas mãos, uma pequena caixa está embrulhada com papel cetim e uma fita lilás transpassada acaba em um pequeno laço em cima. Sinto um calafrio percorrer minha espinha e olho para ela, intrigada. Um turbilhão de sentimentos me invade. Minha mãe se lembrou de mim durante a viagem? Ou tem o dedo de Alec nisso? Prefiro acreditar na primeira hipótese e sorrindo, pego o pacote. Minha mãe aguarda que eu o abra e isso confirma que não estou equivocada. Ela mesma comprou o meu presente. Pessoalmente. Há um silêncio no ar, uma espera coletiva, olhares voltados para mim.
      – Obrigada. – abro o papel com cuidado, com pena de rasgar e, de dentro da pequena caixa, tiro uma delicada caixinha de música.
     – Ah...! – exclamo admirada. – É linda! É realmente uma gracinha! – fico séria de repente e me dirijo a minha mãe. – Obrigada.
      Minha mãe parece observar cada movimento meu. Parece estudar os escaninhos da minha alma, vasculhar meus sentimentos, trazer à tona o que guardo de mais bonito dentro de mim. Será? Será que ela deseja se aproximar?
      – Achei que iria gostar. – diz virando as costas e anunciando a todos. – Hora de banho e cama!
      E minha observação se parte em mil pedaços no chão. Não há aproximação, não há busca, não há nada. Então... o que eu vi em seus olhos? Em que momento eu me enganei? Não há nada que eu possa fazer quanto a isso. Minha mãe é uma ostra. Não adianta querer abri-la à força. Mas eu sei, no fundo do meu coração, eu sei... Há pérolas lá dentro. No fundo da ostra que é a minha mãe, há pérolas! E um dia, eu serei presenteada com elas.

doce inocência (clace)Onde histórias criam vida. Descubra agora