15° capítulo

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   Pov: Clarissa

      Jace  e eu estamos no shopping e ele me aguarda do lado de fora do banheiro feminino. Lavo meu rosto e tento assimilar todos os acontecimentos da última hora. Aparentemente, sem querer, minha mãe havia colaborado para que tivéssemos pelo menos a oportunidade de voltar a conversar. Meu rosto e meu pescoço ainda estão cheios de placas vermelhas deixadas pelo meu choro. Dos males, o menor, consegui desabafar. Estou me sentindo aliviada, vazia de sentimentos ruins. A cabeça ainda precisa de respostas, mas o coração volta a bater sem a angústia que me afligia. Uso as toalhas de papel para me secar, escovo meu cabelo e passo um brilho labial. Estou com o rosto inchado e as placas vermelhas demorarão a sair, mas é o máximo que posso fazer pela minha aparência no momento. Passo a mão pelo meu vestido e analiso se está tudo em ordem para deixar o banheiro, sem parecer uma louca descabelada, de nariz escorrendo e roupa amassada.
      Jace está encostado em uma pilastra me aguardando. A camisa azul clara que ele veste está social demais para um passeio no shopping e contrasta com meu simples vestido estampado de verão. Seja o que for que ele tinha para fazer, não era nada casual.
      Quando me vê, Jace sorri com gentileza e me guia pelo shopping com um braço protetor em minhas costas. Como eu o amo! Esse homem que me cobre de cuidados e atenção desde que eu era uma menininha. Caminho ao lado dele e não faço a mínima ideia de onde está me levando. Não importa. A proteção daquele braço sobre meus ombros é o que basta nesse momento para que eu me sinta a pessoa mais amada desse mundo.
      A praça de alimentação está cheia de gente. Jace me leva para um local um pouco mais reservado, com a linda vista panorâmica da cidade. Eu me sento em uma das cadeiras, admirando-a.
      – Espere um instante... – ele me diz. – Eu já volto! – vira as costas e eu o perco de vista.
      Estou me sentindo exausta. Assim como minha mente, meu corpo também está cansado. E meus olhos pesam no meu rosto. Mesmo assim, não abro mão desse momento. Não abro mão de poder conversar sobre tudo o que me aflige; tudo o que eu sinto; tudo o que eu espero em relação a nós. Precisamos falar sobre... nós. Sim, Jace. Precisamos falar sobre nós! O que engloba o que você sente, o que você pensa e o que você espera para nós. Nunca na vida esse pronome esteve tão dentro de um contexto palpável.
      Jace volta após longos minutos com uma bandeja nas mãos e a coloca sobre a mesa. Há um suco e um sanduíche sobre ela.
      Estou sem reação diante de todos esses cuidados. Ele não parece entender minha expressão incrédula e se mantém sério.
      – Coma... – aponta o sanduíche e cruza os braços sobre a mesa me encarando. – Você não comeu nada hoje. – E como continuo a olhá-lo embevecida, sorri e me provoca – Quer na boca, garotinha?
      Não há nada sexual nessa pergunta. Ele está só se referindo às inúmeras vezes em que eu me recusava a comer quando criança e, ele se oferecia para me dar as colheradas na boca. Dou um sorriso irônico e mordo o sanduíche.
      – Boa garota... Agora, sim, estamos começando a nos entender. – ri.
      – Começar a nos entender significa que tenho que fazer tudo o que o mestre mandar, né? – dou outra mordida no lanche. A fome agora se manifesta e a ogra incorpora.
      – Sempre admirei sua inteligência! – ele riu pra valer da minha fingida cara de brava. – Assim...! – exclama carinhoso e sorridente, enquanto me observa comer – Eu gosto de ver você assim... – inclina o queixo em minha direção.
       – Irritada? – digo de boca cheia.
      – Nada disso. Com esse apetite voraz... Quer outro? – oferece.
      – Não... – fico encabulada. Limpo o molho que escorre pelo canto da boca e bebo uns goles do suco. – Obrigada.
      – Não há de quê. – Ele está de volta! Meu Jace  está de volta. Ele toca uma de minhas mãos sobre a mesa e a acaricia. Uma onda elétrica sobe por ela e eu preciso me controlar para não retirá-la com o susto. Mas ele rapidamente recolhe a sua, como se também tivesse sentido a mesma eletricidade. Somos magneticamente atrativos, não há como fugir disso.
      Termino de comer, enquanto Jace me pergunta sobre a volta às aulas e quais os materiais preciso comprar. Caminhamos pelos corredores do shopping e ele continua mantendo sua posição protetiva sobre as minhas costas. Eu estou adorando isso, pois mantém as mulheres de olhares lânguidos que passam por nós bem afastadas. Construo a ilusão temporária de que agora ele está ao meu lado e não há outra mulher que importe.
      Entramos em uma loja que anuncia promoções em materiais escolares. Compro o que preciso, enchendo duas sacolas. Saímos da papelaria e ficamos dando uma volta pelo shopping, vendo as vitrines.
      – Eu não contei ainda a você, mas... – Jace  diz sorrindo. – Eu consegui comprar um estúdio muito bacana.
      – Mas isso é ótimo! – retribuo o sorriso, visivelmente contente pela conquista dele. – E qual é o próximo passo?
      – Fui procurado por uma banda de pop rock muito interessante que me pediu acessoria. Pretendo empresariá-los. – diz com firmeza. – São muito bons!
      – Essa é uma ótima notícia! Fico muito feliz por você! – eu me lembro da Ju e resolvo contar a ele. – Você sabia que aquela minha amiga, a Julia, canta maravilhosamente bem? – Jace  me olha admirado e eu continuo. – Ela participa de vários concursos de talento. E vence quase todos!
      – Nossa! Que bom saber disso! – parece realmente gostar. – Quem sabe não posso ouvi-la e apresentá-la aos meninos? Seria uma boa ter uma voz feminina na banda!
      – Sério?! – estou com as mãos na boca e os olhos arregalados. – Ela vai pirar! Quando pode ser isso?
     – Podemos marcar essa semana... – sugere e muda a expressão de sorridente para uma... curiosa? – Adoraria levar você para conhecer o estúdio... – diz com olhos pousados de forma intensa sobre os meus.
      – E eu terei o maior prazer em conhecer! – retribuo o seu olhar e ele pisca duas vezes antes de continuar me conduzindo pelo corredor. De repente, uma loja de bichos de pelúcia surge em nosso caminho. E a Clarissa menina que ainda existe dentro de mim, escala as paredes do meu ser, atravessa meu corpo e crava os olhos em cima de um urso enorme, branco e gordo na vitrine.
      – Olhe que coisa linda! – meus olhos estão enfeitiçados pelo brinquedo.
     Jace  me analisa atentamente. Posso sentir seus olhos pesando sobre meu rosto. O que será que eles querem me dizer? Estariam me censurando por ser uma garota grande demais para ursos de pelúcia?
      – Muito bonito mesmo! – responde rindo, retomando sua postura natural.
      – Sou uma garota patética, né? – viro para ele, rindo também.
      – Não! – fica sério. – Não quis dizer isso!
      – Qual garota na minha idade iria parar em frente uma loja de brinquedos e se encantar com um deles?! – ainda estou rindo.
      Jace levanta meu queixo ainda sério e eu paro de sorrir. Essa mão é capaz de causar estragos significativos nos meus sentimentos.
      – Ouça bem o que eu vou dizer... – seu olhar é intenso. – Você não é e nunca será uma garota comum.
      – Isso é um elogio? – estou séria também.
      – Um elogio, uma constatação e uma verdade absoluta. – solta meu queixo, sem deixar de me olhar.
      – Eu preciso dizer uma coisa a você... – minha voz sai rouca, falhada.
      – Diga o que quiser... – sua expressão agora é de curiosidade.
– Mas vamos fazer isso no carro. – Venha!
      Entramos no estacionamento e sentamos nos bancos do carro. Ele no do motorista e eu ao seu lado, no do carona. Ele se vira para mim.
     – Bem, agora está bem melhor. – seu olhar indica que eu devo prosseguir. – O que precisa me dizer?
      E agora? É pegar ou largar. Confessar ou mentir. Ficar ou correr. Não... Não há como largar, mentir ou correr. A nova Clarissa é corajosa, destemida e verdadeira com seus sentimentos.
      Encaro seus olhos perspicazes e observo cada músculo do seu rosto ficar tenso. Será que ele tem ideia do que está por vir? Será que imagina as palavras que irão sair da minha boca? Meu silencio inicial possibilita que ele também organize seus pensamentos e me diga algo coerente.
      – Eu estou apaixonada por você, Jace! – digo de uma só vez. – Completamente apaixonada...! E não há nada que eu possa fazer para mudar isso...
      – Clarissa... – interrompe muito, muito sério.
      – Espere, por favor... Preciso falar... por favor. – continuo. – Eu sempre fui apaixonada por você. Sempre! Desde que eu era uma garotinha. – engulo em seco. – Não sei como conviver com essa situação, mas eu amo você. Amo demais! Eu sempre amei...
      Jace parece analisar os músculos contraídos do meu rosto. Eu, por outro lado, observo sua boca comprimida e seu acentuado nervosismo expressado através de sua mão passando pelo cabelo; um gesto típico de quando fica nervoso.
      – Deus do céu, o que está acontecendo?! O que você está me dizendo, menina!? – pergunta mais a si mesmo do que a mim. Ele respira fundo e volta a me encarar. – Clarissa... – pega minhas mãos geladas e trêmulas entre as suas. – Pensa comigo: Nós dois nascemos praticamente numa mesma família. Eu sou treze anos mais velho do que você. Sempre a enxerguei como uma criança, uma menina que eu brincava, protegia...
     Eu estou muda. Mas não deixo de estudar seus olhos e absorver cada palavra, cada expressão, cada gesto seu.
      – Você não pode estar apaixonada por mim... – tenta avaliar meus sentimentos. – Acredito no seu amor, mas no mesmo amor que eu sinto por você. No amor que nasceu desde que vi a inocência do seu olhar pela primeira vez na minha vida!
     – Você não pode analisar os meus sentimentos desse jeito... – digo num sussurro. – Eu sei o que sinto. E eu amo você!
      – Você tem ideia do que está me dizendo, Clarissa? – ele me pergunta, procurando respostas demais onde não existe explicação.
     – Esperei por você todos esses anos... Contei cada dia, cada hora, cada segundo para que você voltasse e pudesse retribuir todo esse amor que sinto. Como pode dizer que não sei o que é o amor?! – há emoção em cada palavra minha e isso atinge Jace de forma certeira.
     – Ah, garotinha! Como eu poderia ser capaz de assumir um sentimento como esse! Eu não posso, Clarissa! Acho que nunca poderia! Sinto sim, uma atração enorme pela mulher que você se transformou. Mas isso não está certo! Eu sou capaz, eu posso controlar isso.
     – Eu sei que você não me ama... – digo profundamente exausta. Agora eu quero, eu preciso, eu necessito da minha cama.
     – Não do jeito que você quer, garotinha... – Jace toca meu rosto e eu fecho os meus olhos. – Não quero ser seu inimigo como vinha tentando nesses últimos dias. Não é isso que quero! – continua, decidido. – Podemos, sim. Voltar a sermos amigos e fingir que tudo é como antigamente...
     – Acha mesmo que podemos fazer isso? – pergunto com irritação.
     Como Jace pode resumir todos os meus sentimentos desse jeito? Decidindo sozinho o que devemos fazer?
      – Fingir?! Fingir é o que venho tentando fazer a minha vida inteira no que diz respeito a você! – grito. – Chega! Vamos embora! Eu quero ir pra casa, por favor...
     Não há mais nada a ser dito. Jace me olha chocado e balança a cabeça afirmativamente.
     – Como quiser... – coloca os óculos de sol e liga o carro.
     – Eu vou esquecer você, Jace! Eu juro! – ainda consigo dizer antes que ele dê partida do carro.
     Não há mais nada a ser dito. Não há mais nada a ser feito. Minha alma chora e, dessa vez, ele não pode tocá-la.

E mores cadê os dias de glória?
( relevem os erros não revisei ok?) espero que tenham gostado e não se esqueçam de votar e comentar oque acharam isso me ajuda muito.
Bjs até o proximo 😙✌🏼

doce inocência (clace)Onde histórias criam vida. Descubra agora