9° capítulo

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Pov: Clarissa

Avisto meu pai, Jace e alguns médicos próximos ao bar. Mauro me acompanha no trajeto até lá. Ao me aproximar, percebo que meu pai está um pouco mais à vontade do que o habitual em um evento como este. Ele sempre leva muito a sério sua vida profissional, por isso eu estranho seu comportamento um pouco mais solto. Acredito que os goles de uísque a mais se devam a volta de Jace. Nunca foi segredo para ninguém que papai o considera um filho e que tudo que ele mais quer é a presença dele em nossa casa.

Quando seus pais morreram, Jace passou um período relativamente curto morando conosco, mas a dor das lembranças, tão fortes e presentes, ainda moravam na casa ao lado e, principalmente, dentro de si mesmo.

– Oi, filha. – papai sorri quando me vê, me puxa para perto e beija a minha testa. – Gostou da surpresa? – continua sorrindo.

Ele acredita ter realizado o sonho da filhinha de rever o irmãozinho! Pobre papai! Não sabia da missa, a metade. Retribuo o sorriso, balanço a cabeça em sinal afirmativo e me aconchego em seu peito. Ele parece muito feliz e orgulhoso com a volta do filho do coração, mas também com a beleza da sua filha caçula.

– Ela não está uma moça linda, Jace? - exibe a mim com orgulho, apertando sua mão em meu ombro.

Observo atentamente o olhar de Jace. Há neles cobiça, um desejo velado. Ele passa os olhos rapidamente sobre mim. Agora estou iluminada pelas luzes do salão. Não há semiescuridão que oculte nenhum detalhe de minha aparência. Jace dá um sorriso respeitoso. Seu olhar experiente percorre meu corpo, mas parece que ninguém nota a ponta de malícia... Eu vejo, sim, malícia nesse olhar! Ele me deseja. Eu sei que deseja.

– Muito... – desvia seus olhos para o seu copo de uísque com gelo.

– Estou muito feliz que esteja aqui, filho! – meu pai me solta e abraça Jace pelos ombros.

Mauro observa a tudo atentamente e parece não deixar passar nada. Eu acho que ele também notou o olhar de Jace sobre mim.

– Também estou, meu velho e querido amigo! – retribui o abraço com tapinhas em suas costas. – Estou certo de que vou ficar muito bem vivendo com vocês! – ele diz e olha diretamente para mim.

Opa! Como assim?! Vivendo com a gente?! Como foi que perdi essa parte?! Sinto uma esperança palpitante brotar do meu peito. Então ele iria morar conosco mesmo? – Mudar de vida é tudo o que eu quero agora. – Jace bebe um pouco do conteúdo do seu copo. – Um estúdio para que eu possa trabalhar... Até mesmo voltar a dar aulas de Educação Física, por que não? – levanta o copo em direção a meu pai e continua. – Eu só quero poder voltar a ter uma vida mais calma...

– Gente, a pista de dança está bombando... – Izabelle chega falando alto. - Não é, Diogo? – o médico residente sorri para ela, concordando. – Vim só beber um gole de... – não completa a frase porque um copo cheio de um líquido vermelho que estava sobre a bancada do bar, já está em seus lábios. Ela bebe e solta um gritinho, me pegando pelos braços. – Ai, eu adoro essa música! Vem Clarissa! – me empurra para frente, na direção da pista de dança. – Vem você também! – segura Mauro pela mão e também o empurra. Ele esbarra em mim e eu tenho vontade de dar um soco no meio da cara da minha irmã! Que criatura mais insuportável quando quer ser! E ela quer sempre.

Olho de soslaio para Jace, que mantém o rosto impassível. Não consigo sequer imaginar o que se passa por sua cabeça.

A música é lenta. Resumindo: a idiota aqui vai ter que dançar colada com o idiota que está a sua frente. Um dia, eu ainda queimo todas as roupas de marca de Izabelle numa fogueira só! Joana d'Arc que nada! Izabelle não sabe o que é ser bruxa! Na pista de dança, assumo minha posição e Mauro me conduz. Encosto minha cabeça em seu braço para não ter que encará-lo. Esta situação já está chegando ao cúmulo do insustentável.

doce inocência (clace)Onde histórias criam vida. Descubra agora