Pov: Clarissa
Há dois dias, venho ignorando completamente a presença de Jace. Não tenho feito as refeições em família, alegando ter muita coisa para estudar. Hoje, porém, sou pressionada por Alec a almoçar na sala. Ele está de folga e pretende ir com Jace até o estúdio. Eu sei de onde está vindo tanto apreço musical do meu irmão ultimamente. E esse apreço atende pelo nome de Julia.
Papai está de plantão no hospital e o restante da família, senta à mesa agora para o almoço. Jace está a minha frente e me observa pelo canto dos olhos. Eu sinto. Alec, seu interlocutor, conversa animadamente com ele e, se está percebendo seus olhares furtivos para mim, não demonstra. Minha mãe participa da conversa e, às vezes, interrompe para perguntar alguma coisa. Não estou prestando atenção. A tarefa de mastigar e engolir a comida exige demais de mim no momento. Se eu pudesse, voltaria para o meu quarto, de onde eu não devia ter saído desde que cheguei do colégio.
– Já tem data para a estreia da Julia? – ouço minha mãe perguntar e o assunto me interessa.
– Acredito que daqui a uns dois meses já estará tudo pronto e a Julia preparada para o grande dia! – Jace passa os olhos por mim, mas não me encara.
– Ela é um talento! – Alec fala, empolgado. – Estou realmente admirado! – leva um pouco de comida à boca.
– Pelo visto você também está pegando a doença do Jace... – Izabelle fala com ironia. Todos os olhares da mesa estão voltados para ela. O rabo da serpente passa esfregando a ponta do meu nariz e se enrosca no pescoço de Jace. Sinto meu rosto queimar e fixo o olhar em um ponto qualquer da mesa. Minha respiração está suspensa e tudo o que eu faço agora é me concentrar em contar o número de pombinhas brancas imaginárias para não voar em Izabelle outra vez! Eu não marquei sua cara o suficiente.
– O que foi que disse, Izabelle? – Jace vira-se para ela. – Seja mais direta, por favor... Estou muito interessado em ouvir o que você tem a dizer! – o tom de Jace é tão ameaçador que eu agarro o assento da cadeira e aperto com toda a força que eu posso. Minha mãe encara Izabelle atentamente, esperando uma explicação para esse tipo de comentário. Tudo o que se refere a Jace ou Alec diz muito respeito a ela!
– Eu quis dizer que, agora, Alec vive às voltas com as adolescentes assim como você... – olha para mim. – São os titios da criançada!
– Ah, mas isso eu faço desde sempre! – Jace ri, retribuindo a ironia. – Minha graduação no assunto foi com você!
Todos riem também. Menos Izabelle e... eu. Juro que estou vendo sua cabeça tombar para trás como se tivesse levando uma bofetada. Ela recua, mas avança de novo sobre a presa enroscando seu chocalho.
– Mas pelo menos você não precisava... me colocar para dormir, não é mesmo? – levanta com raiva, pega a bolsa e vai saindo. Com exceção da minha mãe, nós três entendemos muito bem o que a cascavel está querendo dizer. Eu sinto o suor escorrer pelas minhas costas e minhas mãos doem de tanta força que faço para me segurar na cadeira.
- Izabelle! Eles só estão brincando! – minha mãe exclama, rindo.
– Aguardo você no salão...! – dá uma risadinha quando ela sai. – Vocês não são fáceis, hein! Não perdem essa mania de implicar com ela! – levanta-se ainda acreditando que tudo não passou de uma brincadeira. – Vocês me deem licença...
– Vamos, filho? Você pode me levar mesmo?
– É claro, mãe! É só o tempo de escovar os dentes! – olha para Jace e depois para mim. Pisca o olho. – Vou subir com você, espere!
Basta ficarmos sozinhos para que Jace crave os olhos em mim. Eu me levanto com a expressão fechada e coloco o guardanapo sobre a mesa.
– Com licença... – digo sem olhar para ele.
– O que houve, Clarissa? Está chateada com alguma coisa? – pergunta assim que minha mãe e meu irmão desaparecem da sala. Deus! Por favor, não me abandone nesse momento! O que mais terei de suportar no dia de hoje?
– Imagina... – transpareço calma, sem qualquer emoção na voz. – Impressão sua... Só estou um pouco... cansada. Tenho estudado muito!
– Isso é bom! É o que deve fazer qualquer menina da sua idade! – qual botão desliga seu sorriso não debochado? Ajeito a cadeira, sem demonstrar qualquer sinal de raiva ou aborrecimento. Apoio as palmas das minhas duas mãos sobre a mesa e encaro Jace com toda a naturalidade do mundo.
– Você pode me fazer um favor? – pergunto sem qualquer alteração em minha expressão.
– Se eu puder ajudar... – diz cruzando as mãos, cotovelos apoiados na mesa.
– Você pode, sim... – respiro fundo e digo pausadamente. – Vá para o inferno de onde você nunca deveria ter saído e me deixa em paz!
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doce inocência (clace)
RomanceClarissa é ainda muito jovem quando precisa lidar com o primeiro grande problema -aparentemente clichê: o amor platônico por jace um homem mais velho, músico e melhor amigo de infância de seu irmão. Todo seu drama pessoal Na tentativa de escond...