Fique Quieto

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Edson perde toda a expressão que tinha no rosto, ficando tão pálido quanto o sujeito que estava a sua frente. Encontrava-se tão nervoso, que nem mesmo conseguia pronunciar alguma palavra.

- O que foi, meu bem? Parece que está vendo um monstro na sua frente. - Fala o estranho - E talvez esteja mesmo. - Diz, ao tempo que solta uma risada terrivelmente assustadora.

- Onde está ela, onde está Júlia? O que fez com ela, seu desgraçado!? - O medo fez com que o homem da casa tivesse uma reação contrária, e, num momento de extrema raiva, partiu para cima do sujeito.

Tal ato não foi um exemplo de coragem, é bem verdade. Estava cego, devido ao mix de sentimentos que sentia, em especial, raiva, que nem mesmo conseguiu acertar nenhum soco naquele sujeito a sua frente, que por sua vez não precisou de nenhum grande esforço para sair ileso.

Era a vez do revide. Na mão do estranho uma faca. Ele avança em direção a Edson e lhe acerta uma facada no ombro, de modo que a faca fica travada, o homem da casa solta um grito de dor, que ecoa para fora da residência. O sujeito ainda lhe dá um chute na cara, fazendo com que Edson caia no chão.

Era o fim, pensou o residente naquele momento. E de fato seria, não fosse as sirenes de carros policiais revelando a chegada dos mesmos a rua da residência.

O estranho então se vê obrigado a recuar, mesmo sem ter finalizado a sentença do pobre homem. Foge pela porta, mas não sem deixar de ser visto pelas duas viaturas policiais que vinham em direção a casa. Em uma delas, estava somente o xerife, que através do rádio comunicador pede aos policiais do outro carro, para prestarem socorro a Edson, enquanto ele vai em busca do fugitivo.

Dito e feito, os policiais entram na casa e encontram o morador sentado no chão, encostado na geladeira, já sem muita noção do que estava ocorrendo, devido ao sangue perdido.

- Peça uma ambulância para ele. - Diz um policial.

- Pode deixar, já estou fazendo o pedido. - Responde o outro, indo verificar se havia algo de estranho nos outros cômodos.

O policial que ficou pergunta a Edson:

- Consegue me ouvir? A ambulância já está a caminho, só pegue este pano e pressione o local que está sangrando até o socorro chegar.

- Tudo bem. - Responde Edson. - O sujeito acabou de fugir, ele ficou com medo das sirenes.

- Chegamos a vê-lo sair da residência, o detetive decidiu ir sozinho atrás do mesmo.

- Mas... sozinho? Ele está maluco?

- Não tanto quando você, o que pensou estar fazendo? Fomos até o hotel atrás do senhor para recolher algumas informações extras e já não estava lá. Então avisamos para o delegado, que rapidamente se deslocou em nossa direção e nos guiou até aqui, temendo que você estivesse vindo para sua casa, apesar da ordem para não vir.

- Sim, eu sei, mas eu me senti obrigado em fazer alguma coisa a respeito, afinal a mulher que eu amo foi sequestrada. Além do mais, ocorreu algo sobrenatural que tenho que contar ao detetive. Aquele sujeito conseguiu imitar a voz dela de maneira idêntica, não só o tom, como também o jeito que falava. Me fez acreditar que fosse ela.

- Com que estamos lidando afinal? - Indaga o policial.

- Como assim, acredita que não seja humano? - Diz Edson.

- Ele sempre teve uma imaginação fértil - responde o outro policial, que havia voltado para perto dos dois. - Não ligue para o que ele diz. Teve uma vez que ele jurava que alienígenas haviam raptado um senhor que morava na zona rural da cidade, pois havia marcas na plantação. Pois bem, descobrimos que não passava de uma farsa para o dono da fazenda ganhar fama e por consequência aumentar suas vendas.

- É, não me leve a sério, gosto muito de jogos, filmes, HQs e tudo que envolva o mundo dos nerds.

- Entendi, de todo modo foi muito estranho.

A ambulância chega neste momento, interrompendo a conversa dos três. Edson é encaminhado para o mesmo hospital de antes, enquanto os policiais entram na viatura para dar suporte a seu superior.

- Câmbio, senhor, onde está?

Nenhuma resposta obteve o policial.

Os dois então decidem andar pelas ruas a procura da viatura do delegado, que certamente revelaria onde o mesmo se encontrava. A essa altura, temiam que ele houvesse descido do carro e adentrado em alguma propriedade atrás do sujeito.

Depois de dar voltas por praticamente toda a cidade, que não era lá muito grande, só restava um lugar provável para encontrarem seu superior, o cais abandonado da região.

Antigamente ele servia como ponto de encontro para a prática de tráfico de órgãos.

- Será que ele está mesmo lá? Já faz mais de 50 anos que o local está interditado.

- É bem verdade, mas de fato seria um ótimo esconderijo para um sujeito como o que estamos atrás.

- Concordo, bem vamos até lá então.

- Certo.

E dirigiram-se até o local. Ao longe, de fato viram a viatura policial. Então se aproximam o local onde as vendas eram praticadas.

Mas ali, naquele local, foram surpreendidos, ao ver o policial conversando com o tal suspeito em um tom amigável. O que aquilo significava, afinal?

Aproximaram-se deles para tentar ouvir a conversa.

- Então os órgãos dela ainda não foram transportados? - dizia o delegado

- Não, não foram, só peguei a minha parte. - Respondeu o estranho, que tinha uma voz feminina. Provavelmente a voz da esposa de Edson, como este havia mencionado.

- Nosso acordo não envolviam atrasos, espero que isso não se repita.

- Não se esqueça com quem está falando, garoto. Eu já tenho mais de 7 mil anos de existência, e não aceito que fale nesse tom comigo.

- Me desculpe, isso não se repetirá.

- Espero que não. Mas então, o que faremos com seus amiguinhos escondidos atrás daqueles barris?

- Não se preocupe, eu darei um jeito neles. Não é nada inteligente ouvir a conversa de seu superior às escondidas.

Nesse momento, os dois policiais se olham e acenam um para o outro, num comando de bater em retirada. Sairam correndo em direção à viatura na esperança de escapar e relatar a outras autoridades o que ali haviam visto.

No entanto ouve-se um tiro, que resulta na queda de um dos policiais sobre a vegetação. Este prontamente fala ao outro:

- Não pare, você precisa avisar sobre tudo que viu aqui. Só diga para minha esposa e filhas que as amo. Adeus, companheiro.

Seguindo o pedido de seu companheiro, o policial continuar indo em direção da viatura e adentra na mesma, ao mesmo tempo que ouve outro disparo. Era um segundo tiro em seu parceiro, que agora já não demonstrava sinais vitais.

Mesmo assolado com o que estava presenciando, liga o motor e acelera em direção a pista, tentando deixar aquela área de horror.

Não Diga Um AOnde histórias criam vida. Descubra agora