RAFAEL

538 33 4
                                    


depois de muita, muita conversa, dudu acabou concordando que eu devia sim encontrar gabriel. que seria prudente a gente entender as sensações e as emoções juntos. aqui. e que tudo bem, de verdade, por ele.

só que parece que quem não ficou nada bem foi o gab. depois que contei que abri o jogo pro dudu, ele foi escorregadio. disse que tinha adoecido, que não tava se sentindo muito bem, com uma gripe forte; meu sentimento é de que ele ficou muito incomodado com essa coisa toda e agora tá me evitando.

tudo bem. a vontade já passou mesmo.

mas dentre as vontades que nunca passam tem sempre aqui o rafa.
chamei ele no whatsapp pra dizer que faltavam poucos dias pra eu ir pro brasil.
perguntei como ele andava com tudo aquilo. se tinha refletido e se queria conversar.
ele disse que queria, quando eu chegasse. olhando no olho.

ele não foi propriamente frio, nem quente.
só foi sei lá. aquele rafael, que não sabe nunca o que quer, ou não sabe dizer.
enfim.

o fato é que eu disse:
vamos decidir logo essa viagem?
carnaval no rio?

ele disse que não tava nem um pouco afim de passar o carnaval na bagunça.
ele já não gostava de carnaval lá no nosso primeiro encontro. não ia gostar agora, né?
pra mim isso não é surpresa alguma...

e pensando bem eu também não tava nem um pouco afim de perder a bagunça do carnaval por ele; tem quatro anos que eu não passo carnaval no brasil. e acho que nesses quatro anos eu me aproximei ainda mais do carnaval - por mais nonsense que isso possa parecer.
acho que eu aprendi - primeiro quando olhei de longe, depois quando olhei pra dentro - a dar mais valor àquela festa da carne e das conexões. do amor, do calor, do som, do batuque, da purpurina.

não tem nenhum lugar melhor para passar a próxima semana do que no rio de janeiro.
todo o tesão e toda a energia se reúnem nas ruas. toda a emoção me espera.
e é exatamente esse o lugar onde eu quero estar. esse lugar onde eu vou pegar toda a energia de tesão que emana de mim e colocar pra fora. esse lugar onde eu vou experimentar, pela primeira vez, e de verdade, a sensação de ficar com alguém com o dudu sabendo que essa possibilidade ta ai.

sei lá. sinto como se agora, no rio, tudo fosse mais fácil.
e ele sabe que o máximo que pode acontecer é eu viver uma paixão de carnaval.

é o momento perfeito pra beijar na boca só pelo momento. pra sentir, viver, fruir, deixar fluir, e depois deixar pra lá.
sem mais mentiras.
sem mais historinhas mirabolantes.
mas pronta pra várias novas histórias; curtas, quentes, coloridas.

eu até queria que o rafa fosse pro rio, mas ao mesmo tempo eu fico me lembrando da nossa última vez e de como foi incrível ir a curitiba passar uns dias com ele. de como tudo nele e naquele apartamento me pareciam o mais delicioso e feito pro amor no mundo.

em flashs eu vejo a gente, deitados agarrados no sofá, chapados, comendo o melhor hambúrguer da vida que ele fez todinho pra mim, com a lata de coca cola mais gelada do planeta. a gente assistindo o poderoso chefão - que depois de uma vida inteira ele finalmente me fez assistir até o final - a excitação dele de ver um filme que ele gosta tanto, aquele jeitinho todo dele de ir descrevendo as cenas, copiando as falas, pulando do sofá e me matando de rir imitando os personagens.

isso me emociona. a paixão que eu vejo rafael sentir, que extrapola os poros dele e chega no olho, que brilha, doce e intensamente, a paixão que ele sente quando vê um filme que gosta muito, quando conta de um livro que gosta muito, ou quando me faz viajar com ele pra um daqueles lugares lindos e incríveis que ele conhece me tocam. a paixão que ele sente quando me faz cócegas por horas, até eu perder o fôlego. a paixão com que ele me tira pra dançar la barca, como se fosse valsa. o tesão com o qual ele me olha quando eu me toco pra ele, com ele. a paixão nos olhos dele quando ele me come com força, e afeto. a paixão nos olhos dele quando ele me olha, e vai me devorando e tirando a minha roupa e o meu juízo.

e já estou eu aqui, há milhares de milhas, toda molhada, só pensando em como vai ser lindo e mágico outra vez estar com ele. outra vez dividir os dias e a cama e o acordar com ele.
como vai ser incrível sentir cada pêlo do meu corpo se arrepiando quando ele me tocar, e sentir minhas pernas se abrindo, meu sexo molhando, meu corpo se retesando. meus ombros subindo friccionados de maneira automatica. minhas costas se repuxam. eu mal consigo me controlar. 

eu já estou lá.
mas ele não está aqui.

de todo modo, ele comprou a bendita passagem.
vou pra curitiba no final de semana depois do carnaval.

mas eu não senti força de verdade nele.
nas mensagens dele.
não senti excitação.

a aparição de gab e o que ela trouxe me quebrou as duas pernas.
será que sou só eu fantasiando?
que, por um lado,independente de toda a boa vontade de dudu, isso tudo será demais pra ele aguentar e a separação é inevitável?

e, por outro, rafa e gab e todos os outros, só gostam mesmo do proibido? uma vez que está tudo às claras, não tem mais paixão e tesão pra eles; não é mais especial?
será que vou ficar sem nem uma coisa nem outra?
que medo de dar tudo errado, de eu dar um nó completo na minha vida e não conseguir desafrouxar...

é foda essa sensação de dúvida. de não entender onde mora o meu problema.
será que só se eu me mutilar e suprimir as minhas verdades e as minhas vontades que eu vou conseguir ter alguém do meu lado?

tá foda, ta dando muita vontade de voltar atrás.
mas acho que, principalmente, porque essa possibilidade não existe.

diários de adultério, um romance de luisa acostaOnde histórias criam vida. Descubra agora