DUDU

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ontem a gente passou um dia tão delicioso...

acordamos com preguiça, transamos durante a manhã toda, levantamos só quando não dava mais pra aguentar de fome. acabamos cozinhando juntos o almoço enquanto a gente ouvia o ofertório. abrimos umas 3 cervejinhas. eu fumei um fininho inteiro.

a medida que a noite foi chegando, e eu tive que tomar coragem pra finalmente acabar de arrumar as minhas malas, a energia em casa foi caindo.

dudu tava tranquilo - pelo menos aparentemente.
eu comecei a dar os meus defeitos habituais da véspera.
fui ficando ansiosa pra caralho.
não conseguia acabar de decidir se levava mala, se usava só uma mala de mão.
tava cheia de tralha que eu precisava carregar, mas não tava nem um pouco afim de fazer escala, andar com mala, aquelas coisas.

então passei o final da tarde e a noite inteira brincando de tetris até conseguir enfiar tudo numa mala de mão.
lá pra umas 9 horas eu finalmente acabei.

entrei na banheira, liguei um incenso, acendi umas velas e pus dido pra tocar.
chamei o dudu pra ficar comigo, mas ele tava ocupado no escritorio.

quando eu saí do banho, ele tomou uma ducha e caímos exaustos na cama.

de mãos dadas, conversamos sobre o futuro. nossos medos, nossas ansiedades, as coisas todas que estão por vir nesses próximos dias.
ele se encaixou numa conchinha perfeita e dormiu, com o queixinho roçando no meu ombro.
aquele cheirinho dele, de casa, de cama, de amor.
deitada ali, com ele tão perto, tão junto, me fez pensar tanto e em tantas coisas.
começou a me bater a realização que hoje eu ia finalmente embarcar pro brasil.
eu comecei a perceber o tamanho do problema que eu to enfiando a gente.
e ai esse medo não saiu mais de mim desde então.

eu mal dormi. rolei na cama por horas. liguei o netflix, zapeei o bumble, vi uns vídeos da jout jout, e só consegui dormir lá pelas tantas.
mal fechei o olho e o caralho do despertador tocou me lembrando que eu precisava pular da cama, escovar os dentes, trocar de roupa e pedir o uber.
enquanto eu me arrumava ele levantou, colocou o café pra fazer pra mim, me ajudou com os últimos detalhes e ai foi mexer em alguma coisa na minha mochila, que quando eu perguntei o que era ele disse só que tava verificando se eu não tinha esquecido de separar o passaporte.

agora eu to aqui. a caminho do aeroporto.
e assim que eu abri a mochila pra pegar meu kindle, encontrei um envelope que dizia "para ler no voo".

eu abri logo. porque sim. e era um papel, dobrado em 4 partes. mas só tinham coisas escritas na primeira e na última parte.

"Lulu,
É muito doido o quanto você está tensa pra essa viagem e eu - sempre sofrendo, preocupado; to tranquilo. Sereno.
E tá me dando um nervoso porque você não tá me deixando escrever essa carta, pedindo pra ficar contigo. Fico viajando de ser análogo a nossa história e me dá mó bad.
Mas sabe de uma coisa? Melhor assim mesmo. Porque eu não quero que nossa história se acabe. Melhor deixar em branco, pra podermos escrever mais linhas, minha co-roteiristinha.
E você que lute pra entender minha letra."

(...)

"Te amo.
Por inteiro.
Você inteira.
Como nunca antes amei.
Dudu"

é impressionante o como nas pequenas coisas ele é capaz de me ensinar tanto e o tempo todo.
a carta me fez chorar (não muito - porque desde que eu comecei a tomar esse remédio eu não sei mais como faz pra chorar copiosamente. o que por um lado é ótimo, mas por outro é um pouco angustiante). e agora eu só consigo pensar que tudo que eu quero é que essas semanas passem voando e que eu quero voltar logo pro colo dele, pra nossa casa, pra nossa vida, pros nossos sonhos.

puta que pariu.
porque caralhos eu fui inventar de ir pro brasil?
eu sei. eu sei.
eu to no meio de uma crise de psoríase, eu preciso me cuidar, eu preciso ir em bruno e trocar o antidepressivo, eu to doente de saudade de passar um carnaval no brasil.

e porque sim.
porque é o brasil.
porque é o carnaval.
porque é o rafael.
porque eu quis. porque eu quero.

que inferno também isso de eu ficar medindo as minhas vontades o tempo inteiro.
to de saco cheio de "mas precisa?".
não! não precisa. mas eu quero.
qual é o problema de querer?

to chegando no aeroporto e é melhor guardar esse computador logo.
que bagunça isso tudo que eu to sentindo.
to entre um medo desgraçado de perder o que eu to deixando aqui e a excitação com o que me espera por lá.

diários de adultério, um romance de luisa acostaOnde histórias criam vida. Descubra agora