NIC

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eu gelei. eram 3 da manhã. o dudu nunca me acorda pra nada. nem pra transar. imagina pra me fazer uma pergunta dessas. perdi o ar.

"da onde você tirou isso dudu?"
eu nunca tive que chegar a esse ponto. mas pro meu nível de sono e confusão me saí muito bem. não neguei, nem confirmei.
a menos que eu tivesse falado alguma coisa estranha enquanto eu dormia, a chance dele ter só um palpite era muito alta.

ele respondeu que sonhou com isso uma vez, acordou, voltou a dormir. sonhou de novo com a mesma coisa e acordou outra vez. ficou angustiado, mas voltou a dormir de novo. na terceira vez que sonhou com a mesma coisa, acordou e me chamou.

eu consegui desconversar. mas fiquei cheia de culpa. e cheia de questões.
logo o nic!
a única pessoa conhecida do dudu que eu fiquei desde que vim morar nos estados unidos.
e olha que tem meses que eu não vejo esse garoto! o dudu então, nem se fala...

será que ele tinha visto alguma coisa no jeito que a gente se cumprimentou há anos atrás, naquele fatídico dia que eu cortei o cabelo, e isso ficou no fundo da cabeça dele até agora?

eu tava na porta esperando o luli abrir, dudu tava estacionando o carro bem na frente do prédio. o nic chegou e olhou pra minha cara e eu senti nele um quê de surpresa. ele veio me dar um beijo e me segurou pela cintura de um jeito que ele nunca tinha segurado. me olhou dentro do olho e fez um elogio bem gostoso.

"você tá linda com esse cabelo, lu".
simples. direto. sincero. levemente safado.

eu já conhecia ele há um tempo, e a gente sempre acabava se esbarrando na casa dos amigos, lá em casa, na casa dele. por um tempo a gente andava sempre com a mesma galera. mas naquela noite o jeito que ele me cumprimentou foi diferente. me acendeu um foguinho.

passei o resto do tempo reparando ele me olhando. me desejando. me comendo de longe com os olhos. aquilo me deixou excitada. mas eu fiquei com medo do dudu perceber, então não dei muita corda. até porque eu já tinha até perdido o ritmo. eu já tava há quase dois anos sem trair o dudu.

fora isso, esses tinham sido os dois anos mais difíceis da minha vida.
eu não tava satisfeita com como a minha vida tava se resolvendo no brasil. tava tudo esquisito. viemos pra miami recomeçar. logo depois papai adoeceu. do dia pra noite descobriu um câncer que evoluiu tão rápido de modo que a gente não conseguiu frear, e em menos de 3 meses levou ele embora. o tempo passou. a dor foi diminuindo um pouco. minha vida tava toda indo pro lugar de novo. passo por passo. casinha toda pronta, carro novo na garagem, viagem pra disney todo mês, adotamos o pastrami, toda hora um amigo do brasil visitando e finalmente conhecendo gente bacana que tinha a ver com a gente em miami. e de repente, numas mini férias pra nova york, a gente descobre que fomos vítimas de um advogado 171 e que estávamos ilegais no país. que tínhamos uma semana pra juntar as nossas coisas e partir. como se não bastasse, no meio de tudo isso, veio o irma, o maior furacão dos últimos 20 anos.

foi por isso, inclusive, que o dudu ficou 5 meses no brasil enquanto eu trabalhava indo e vindo - e isso tudo me trouxe um senso de urgência muito louco. me fez questionar sobre a volatilidade das coisas. a fragilidade da vida. a velocidade do mundo.
me fez questionar se eu tava certa em continuar escondendo de mim mesma as coisas que eu queria e sentia.

então quando eu deixei o dudu no brasil e voltei pra cá, assim que o nic me chamou pra fumar um com ele, eu aceitei.
eu sabia que aquilo ia acabar em sacanagem.
eu queria que aquilo acabasse em sacanagem.
eu tava disposta a finalmente voltar a sentir aquilo tudo.

eu não sentia o toque de outra pessoa - além dos muito raros do dudu - há muito tempo. o máximo que eu sentia era a excitação com os papos quentes com o rafa.

fui até a casa do nic mas quando eu cheguei lá ele me disse que tava sem maconha.
que precisava ir pegar ali perto.
eu não sabia que por "ali perto" ele queria dizer um mercadinho daqueles de gueto, bem de filme. todos do lado de fora eram mal encarados, ouvindo hip hop, ligados em qualquer movimento.

chegamos no meu carro. um volvo, zerinho, se destacando em absoluto naquele lugar miserável.
até a gente conseguir pegar a maconha eu fiquei absolutamente sem respirar.
eu tava morrendo de medo da polícia chegar.
e o pior. ele também. aquilo não me deixava nem um pouco mais calma.
claramente a gente tava chamando muita atenção.

quando finalmente o cara trouxe a ganja, eu tirei meu carro dali o mais rápido que eu podia.
dirigi, dirigi, dirigi. até parar num sinal.
ainda tava arfando, meu coração tava acelerado.
ele me olhou, eu olhei pra ele, a gente começou a gargalhar. e a se pegar.

o sinal abriu. os carros atrás começaram a buzinar.
a gente entrou na primeira rua que tinha por ali.
pulamos pro banco de trás.
eu sabia que com aquela cara de safado ele não ia me decepcionar.

ele tirou a camisa e abriu a calça.
através da cueca já dava pra ver o pau gigante.
que garoto delicioso.
caralho.

eu abaixei a calça, a cueca, e chupei ele com vontade.
depois, ele levantou meu vestido, chegou minha calcinha pro lado e meteu.
a gente trepou. horas. no carro mesmo.
e foi muito muito bom.

ele me comia do jeito que eu gosto; com força e vontade. tanto que toda vez que algum carro entrava na rua a gente tinha que diminuir o ritmo pra ninguém perceber o carro balançando. nossos corpos estavam suados. os vidros, todos embaçados. ele tampava a minha boca com medo dos gemidos que eu dava chegarem até as casas. ao invés de me calar, eu mordia a mão dele, chupava o dedo como se fosse o pau. antes dele gozar eu já tinha gozado três vezes. a tensão de estar ali, prestes a sermos descobertos, aumentava a vontade e o tesão.

quantas coisas erradas eu conseguia fazer ao mesmo tempo?
quanto que eu podia levar meus desejos num extremo?
quanto que eu posso aproveitar do tempo que eu tenho viva?
deixei ele e voltei pra casa, pensando já nas nossas próximas sacanagens.

dirigi ouvindo o ney, cantando junto com ele, aos berros.
"meu amor, me diz o que você faria, se só lhe restasse um dia? se o mundo fosse acabar, me diz o que você faria?"

aqueles encontros foram ótimos.
até porque não tinham a pretensão de ser nada mais do que aquilo.
sexo, furtivo, casual, delicioso.

o nic é a foda perfeita.
quer dizer. é a foda pela foda perfeita.
puro tesão.
um pau delicioso. uma energia inesgotável. um pouco de sujeira que é pra colocar tempero.

o jeito que ele batia gostoso na minha bunda, me chamando de piranha. a maneira com que ele me puxava pelo cabelo me comendo de quatro. a forma como ele metia o pau no fundo da minha garganta me fazendo engasgar.

mas era isso. acabava, eu já tava louca pra voltar pra casa e dormir.
não queria passar a noite com ele. não tinha papo, não tinha nada em comum. era o sexo e a conta.
não tinha isso de mandar mensagem de bom dia. eu não me pegava pensando nele ou no que eu podia fazer pra agradá-lo.

o nic não significa nada pra mim. o nic é reparação feminista.

e aí é que tá; como é foda não medir as coisas pela sua própria régua... o que era insignificante pra mim, podia não ser pro dudu. uns dias atrás mesmo dudu se surpreendeu por saber que o rafa tem 40. dudu achava que era mais velho que ele. então talvez o rafa, uma figura que ele nunca viu, e não sabe quase nada sobre, fosse ser uma revelação menos traumática do que o nic, um cara que ele conhece, já recebeu em casa, tem amigos em comum. um cara que, sabe-se lá por qual motivo, ele sonhou 3 vezes que estava transando comigo.

acho que até por isso que eu não contei ainda pra ele sobre o nic.
fico na dúvida se eu devo.

enfim... agora já estou quase pousando no santos dumont e isso tudo se tornou também insignificante. em alguns minutos eu vou entrar na casa de minha mãe e falar do jeito que for. do jeito que eu conseguir. vou tirar do peito e da memória o que eu conseguir lembrar. o que eu sentir que devo.

diários de adultério, um romance de luisa acostaOnde histórias criam vida. Descubra agora