DUDU

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no final daquela conversa - que de final eu sabia que não teria nada - comemos todos à mesa.

ao mesmo tempo que me sentia traída pelo meu melhor amigo, que sentia que ele tinha extrapolado um lugar que não era dele, eu entendia que eu tinha exposto ele a um lugar muito difícil de ficar - o meio do caminho entre duas pessoas que você ama, entre a verdade e a mentira.

e aceitei de bom grado a ajuda - que eu não sei quando e se eu teria coragem de fazer por minha própria conta.
eu queria. claro que eu queria. mas eu tinha tanto medo da reação do dudu.
e a conversa entre a gente não me deixava com menos medo. me deixava com mais medo.

ele entender tudo aquilo, me ver tão por inteiro, podia fazer com ele o óbvio: afastá-lo.

do almoço que virou janta, a exaustão tomou conta absoluta dos nossos corpos.
tudo que a gente precisava era a nossa cama, e o amanhã.
os rumos são tão incertos. uma coisa de cada vez...

a conversa, é claro, não ficou em el portal.

quando chegamos em casa, deitamos, exaustos. mas não conseguimos parar. era muito por sentir, era muito por dizer.

a proximidade, o cheiro, o gosto dele. tudo isso perto demais pra não sucumbir.
eu o desejo.
eu preciso mesmo dele, em mim.
eu quero que ele entenda que o lugar que ele ocupa na minha vida é dele e só dele.
e que esse lugar é um lugar de muito amor. e de tesão também.

mas dudu precisa de um tempo.

ele foi pro canto dele na cama e criou uma parede entre a gente.
meio metro de distância que parece uma eternidade.
amanhã a gente continua a conversa.

diários de adultério, um romance de luisa acostaOnde histórias criam vida. Descubra agora