RAFAEL

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aqui estou eu, deitada na cama desse homem que eu amo, depois de transar com ele pela primeira das muitas vezes que ainda vamos transar nesse fim de semana.

quando eu cheguei peguei um uber até a casa dele. a meia hora de ansiedade aliviada pelo papo maravilhoso com o motorista.

e lá estava ele, na portaria, me esperando. lindo, igual a todas as vezes que a gente se reencontra. o sorriso lindo. o olhinho apertado brilhando. a nossa história sendo toda revisitada naquele simples cruzar de olhos.

desci do carro direto pro abraço e pro beijo dele.
entramos no elevador, já nos amando. entramos em casa e antes mesmo de eu conseguir tirar a mochila e ir até o banheiro ele já foi tirando a minha roupa, me pegando, me beijando, me querendo.
éramos eu e ele e todo o tesão que a gente acumula em todo o tempo que a gente passa sem se ver.

mas agora me sinto absolutamente mal e sozinha.
acho que foi o tanto de culpa na minha cabeça.
mas acho também que foi o jeito como o rafa me tratou.
como uma puta.
eu não gostei.

se fosse outro cara, eu possivelmente ia gostar.
me perguntando com quem eu transei nesse carnaval. me propondo várias sacanagens. deliciosas e descabidas. me contando com quem ele transou no carnaval.

só que não é isso que eu quero nele.
eu quero ele pra mim.
não é que eu tenha uma só gota de ciúmes. eu não poderia me importar menos com quem ele transa. mas eu precisava saber que uma tinha a cintura linda, e a outra peitos lindos, e a outra era mignon? agora eu vou ficar imaginando um monte de mulheres perfeitas e me comparando com elas.
ou não também.
não sei.

acho que o que está me fazendo sentir essa bad é que, ele mal acabou de gozar e foi pro banho. tomou uma ducha rápida, se vestiu e foi trabalhar.
ele tentou se explicar, disse que tinha isso isso e aquilo pra fazer. whatever. não tô nem aí.
eu só to cansada de nunca ser a prioridade dele.
é justo? claro que não. eu sou casada, então teoricamente ele também não é a minha prioridade.

mas é.

no fundo, eu sempre deixo tudo por ele. eu saio de onde eu to pra falar com ele, eu paro o que eu to fazendo pra conversar com ele, eu deixo meu trabalho, meus amigos, minhas festas, qualquer coisa quando ele aparece.
e ele não se organizou o bastante pra sair mais cedo hoje e ficar comigo.
então é óbvio que ta doendo.
é óbvio que eu to mordida.
e com raiva.

o sexo é bom, sempre. mas dessa vez eu me senti suja. me senti mal.
e eu quero falar isso com ele.
eu quero que ele entenda que não é isso que quero dele/com ele.
eu quero o mundo de amor e verdade. intensidade. desejo. tesão.
pelo menos enquanto eu to aqui.

eu vim dos estados unidos pensando só e tanto nele.
e agora que eu to aqui eu to enjoada, com vontade de vomitar, me sentindo péssima.

foi por isso que eu criei toda aquela confusão? com dudu, com mamãe, com o mundo todo?
foi pra esse cara que me tratou que nem uma puta delivery que eu deixei o ro no rio?

é foda. porque essa relação é sempre assim. alto alto alto alto baixo baixo baixo... muito alto, muito baixo. muito amor, muito tesão, muito sofrer.

***

ele ainda não chegou do trabalho. a única coisa que mudou é que passou, sei lá, meia hora. eu ainda não consegui trabalhar o que eu precisava. olhei o twitter. fumei um pouquinho do beck que ele deixou apertado pra mim. achei um huxley que ele ta lendo. me deu vontade de ler.
mas tá marcado com a orelha.
preciso achar um marcador.

ia colocar o pacote de camisinha usado como marcador. mas se eu conheço meu gado isso dá até morte.

quero arrumar a casa.
tá cheio de louça na cozinha, a cama não tá feita, tem coisa jogada na sala. logo ele. mr TOC.
eu realmente não sei o quanto ele queria que eu viesse.
eu não sei o quanto eu queria estar aqui.

nessas horas eu penso no dudu.
no pedido dele de eu me manter absolutamente distante dele enquanto eu estiver com rafa. sem telefone, sem mensagem, sem nada.
eu sei que ele falou que era pra que eu tivesse meu tempo e meu espaço. pra que eu entendesse meus sentimentos.

mas a verdade é que é doloroso demais pra ele lidar com tudo isso.
é mais fácil pra nós dois se a gente se mantiver distante por esses dias.

eu to louca pra poder dizer pra ele que eu não vou mesmo ter mais nada com rafael.
isso já tá mais que decidido.
já estava. desde miami. desde a nossa longa e devastadora conversa.
quanto mais eu ia contando pra ele dos porquês de rafael ser tão determinante na minha vida, mais eu tinha certeza que os motivos que fazem de rafael tão importante estão todos apenas dentro de mim. não são as atitudes dele que fazem com que eu o ame. e sim as minhas projeções. na ausência criei um rafael que não condiz com o verdadeiro. tal qual a luisa que eu projeto e não condiz com a que existe dentro de mim. nosso amor a gente inventa.

mas eu não tive coragem de falar pra dudu que eu vou terminar tudo.
porque a chance de eu chegar aqui e arregar sempre existe.
e seria muito muito irresponsável da minha parte dar pra ele essa esperança e não conseguir concretizar depois.

o foda é que quando o assunto é rafael eu perco o controle.

claro, quando ele entrar pela porta, eu vou me derreter toda de novo.
ele tem isso de me fazer virar uma ameba.
eu olho pra ele e de repente eu sou uma ameba.

***

lá se vão 3 horas que ele saiu. ele disse que ia levar duas. no máximo.
e nem me responde na merda do whatsapp.

só quem passa o nível de raiva que eu sinto sabe do que eu to falando, mas acho que não é possível que mais alguém no mundo sinta esse high nesse tipo de sentimento bosta.
às vezes eu penso que eu amo o rafael. às vezes eu penso que eu uso ele pra me punir dos meus próprios pecados.
penso que eu tento ser pra ele a mulher que eu não sou de verdade - porque ninguém é - mas que merece ser amada.
a verdade é que a mulher que eu sou merece muito mais ser amada que essa personagem mole que eu viro quando eu to com ele. essa ameba é impossível de amar mesmo.

cadê aquela luisa leve, fresca, atraente? eu sinto que ele só me suporta porque ele tem aquela luisa na memória.
de que outra maneira ele poderia se envolver com essa menina carente, insegura e cheia de problema? e casada. e que mora em outro país. e que fica mandando um monte de nudes pra ele. eu não gosto de quem eu sou quando estou com ele.

acho que deu né.

vou desfrutar desses 3 dias. amá-lo com tudo que eu tenho e sou, e me despedir dele. for good.
eu não posso mais me enganar.
eu não posso amar alguém que não me ama de volta.

diários de adultério, um romance de luisa acostaOnde histórias criam vida. Descubra agora