eu acordei com calor, tirei a roupa e fiquei de calcinha na cama.
depois não queria mais ele perto de mim pelada. me invadindo.
não que ele sequer estivesse tentando me tocar.
mas acho que eu me senti ainda mais invadida pelo descaso do que pelo toque.a gente não transa desde que eu cheguei.
ontem foi um dia só de distância. e repulsa.a cama fria. ele de costas pra mim. eu saí pé ante pé. pra não acordá-lo.
eu não estava afim de lidar com a presença dele.vim pra sala escrever tudo que me sufoca, toda a saudade do dudu que eu to sentindo.
e logo me vesti.quando ele me ouviu tilintando o teclado, levantou meio de sobressalto, me olhou amassado e perguntou se tava tudo bem.
sem sorrir, sem amor. só uma preocupação mínima e básica que se tem com qualquer uma.
me incomoda muito esse sentimento de que eu sou qualquer uma.embora ele diga que não, eu intimamente não consigo acreditar.
e volto a isso tudo de me auto flagelar.
de me punir por fazer as coisas que faço, e de permitir que ele faça comigo o que me dói.eu estava com um vestido bem bonito, achei que ele podia me achar bonita e se admirar.
mas ele nem se importou.
resolvi então arrumar o cabelo, passar um blush. para ir ao banheiro, voltei ao quarto.
ele já estava acordado de vez, mexendo no celular.eu disse "bom dia" e ele me respondeu "café?". não um "café?" que quer dizer "bom dia". mas um "café?" que quer dizer "você infelizmente tá aí outra vez. então se alimenta que é pra não morrer de fome".
tá muito difícil lidar com tanto desamor.quando ele finalmente levantou, ele viu a zona que estava a casa, e começou a se incomodar. foi lavar louça.
a bagunça na casa era a bagunça na gente. eu já queria ter arrumado tudo desde que eu cheguei, mas quis também não ser invasiva.
to cansada desse sentimento de que tudo que eu faço incomoda. que esse espaço não tem nada de meu.então eu disse isso para ele.
porque a verdade também é que eu não estou planejando me humilhar nem mais uma gota.
não deixarei de ser eu. não vou deixar de olhar com amor e com carinho. não vou deixar de dizer as coisas que eu sinto.
então eu disse que estava sim muito bagunçada com a bagunça, e muito triste com o "café?".ele se deu conta na hora de como foi mau comigo. eu chorei, tentei me esconder, me encasular.
me sinto nua. uma nudez ruim. uma nudez completamente diferente daquela de liberdade que eu sinto com dudu. uma nudez em que não existe onde me esconder.ele sentiu na hora o quanto tudo aquilo estava me fazendo mal, e tentou mudar a energia. ele me chamou pra sair e comprar um café da manhã na padaria preferida dele.
compramos todas as coisas que a gente ama. pão francês, geleia, pão doce, coxinha, bolo... tudo que deu vontade.
levamos tudo pra casa, arrumamos uma mesa bem bonita.
e as coisas foram melhorando...comemos bem, rindo, conversando, nos amando com os olhos - e comer é desses prazeres que a gente divide com perfeição.
a gente está sempre na mesma página dos prazeres e desprazeres. a luz que me incomoda incomoda ele. o barulho que me desconcerta desconcerta ele.
nossos corpos gostam e pedem as mesmas coisas - sobretudo nessas trivialidades de prazeres reais como a comida e a música e o cinema. por que nos encontramos nas coisas, mas não encontramos um ao outro dentro de nós mesmos?tiramos a mesa. arrumamos o resto de tudo que faltava. fiz a cama. deitei na cama. ele deitou comigo.
começamos a visitar histórias do passado. viagens, adolescência, amigos.
e a nos beijar, e a nos entrelaçar.
nossas pernas se cruzaram e nossas bocas se encontraram.
e por um longo tempo a gente transou.
transamos por horas. na cama, no banho, na sala.
eu já tinha gozado não sei quantas vezes.
ele já tinha gozado não sei quantas vezes.
e ele me pediu, assim, com muita vontade e tesão, pra eu me tocar, até gozar, e ele pra olhar.
que era tudo que ele mais sonhava. mais imaginava.
que dava absoluto tesão nele estar longe me imaginando gozar pensando nele.
e foi delicioso.
foi lindo.
ele ficou tão encantado. tão apaixonado.
vidrado.logo depois, meu telefone vibrou e, como eu vinha fazendo desde sexta, corri achando que podia ser dudu respondendo minha mensagem. não era.
mas era outra pessoa que trazia calor ao meu coração, o ro.
mandou a programação de um cinema ao ar livre em miami.respondi qualquer coisa.
aquela hora eu não tava com a cabeça no ro.
o rafa queria assistir um último filme. escolhi match point.passamos o resto do dia de preguiça. nos encontrando e nos despedindo.
a gente sabia exatamente o que estávamos vivendo.
a alegria que antecede o fim.
o tic tac do relógio contando o tempo.
e a gente ainda tinha muito pra falar e pra viver e pra sentir.parece que é sempre assim.
a gente funciona muito bem quando a gente sabe que tem hora pra acabar.
a gente usa um ao outro como um jeito de fugir do mundo real.
e se conecta em absoluto nessa loucura que é fruir o presente sem a promessa do futuro.acho que quando eu contei pra ele que o dudu sabia de tudo, aquilo mudou essencialmente a forma como ele vê a gente.
acho que bateu um pânico. de trazer isso que a gente é, de ser só paixão e fuga, pra vida real. e de alguma maneira arruinar tudo.
porque não dá pra gente ser mais que isso.
a gente é só escapismo. a gente é só fuga.quando eu cheguei em curitiba eu não consegui dizer pra ele que isso era uma despedida.
eu não tinha entendido que era exatamente dizer isso que ia fazer com que a gente tivesse tido a despedida apaixonada que mereciamos.
foi só quando nós dois entendemos que a gente viveu em totalidade aquilo que nos cabe, só quando o relógio começou a contagem regressiva pra nossa derradeira despedida é que vivemos pequenos segundos de eternidade.ter entendido que era a última vez fez a gente ligar os pontos e alinhar as expectativas.
abraçamos as conversas que não tinham espaço na fuga.
entre um monte de filmes sobre o amor, as fraquezas humanas e a sensualidade, encaramos de forma leve todas as coisas que incomodam a gente.foi falando em tom de brincadeira, mas sério, que conversamos sobre tudo aquilo que me incomoda nele e tudo de mim que o incomoda.
foi brincando que ele me disse que eu ocupo muito espaço.
que eu incomodo e sufoco ele. que eu não saio do pescoço dele.***
depois de tudo que rafael me fez passar, depois de todas as coisas horríveis que eu senti, a gente fez as pazes e eu me permiti ser 100% fiel aos meus desejos. eu simplesmente passei a ignorar quaisquer das vontades dele. parei de poupar ele dos meus pensamentos e dos meus sentimentos.
disse pra ele absolutamente tudo que eu sentia. fiz absolutamente tudo que eu queria.
e o mais impressionante foi o quanto ele me amou com tudo isso.ao mesmo tempo que eu via ele reclamando do meu excesso, ele não deixava meu corpo nem por um segundo.
ele se embolava em mim, se encaixava, me trazia pra perto, me esmagava, me mimava.
e a gente ficou, naquele balé que só a gente sabe. cama, sofá, varanda, beck, coca, beijo, cama, sexo, banho, comida, coca, beck...foi maravilhoso. bem do jeito que a nossa despedida tinha que ser.
bebemos um monte de cerveja no final do dia. transamos, nos amamos, nos despedimos.
e agora aqui, olhando pra tudo isso, eu só penso que foi muito importante fechar essa história.
colocar um ponto final nela.
com todo o afeto, com todo o amor, com todo o carinho e com todo o cuidado.
mas também com toda a verdade e com toda a sinceridade.como ele diz, eu encontro outros tantos dele em cada ponto de ônibus.
mas eu bem que o avisei, que ainda que ele procure nos 7 bilhões de habitantes desse planeta, ele não vai mais me achar.agora, sentada nesse avião e pronta pra deixar curitiba, com toda a dor que tem no meu coração, eu apaguei todos os contatos dele.
eu bloqueei ele de tudo.
eu risquei ele da minha vida.ele vai sempre ser uma parte de mim.
linda, leve, gostosa. que me enche de tesão.
mas eu hoje escolhi tirar meu coração dele - for good.e essa é a terceira vez na vida que eu tomo essa decisão.
a primeira foi com bernardo, a segunda com dudu (e thank god ele me fez mudar de ideia) e a terceira agora, com rafael.
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diários de adultério, um romance de luisa acosta
Romancetrair nunca foi um problema para ela. até o marido descobrir... diários de adultério traz um relato íntimo das aventuras sexuais de uma mulher livre e cheia de desejos, que na ânsia de vivê-los, torna-se refém de seu próprio tesão. quando seu marido...