T A L E N T O É U M MI T O

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Outro capítulo g



Amanheceu de modo ensolarado, acordei sem atrasos, depois que me tornei adulto dominei bem o conceito de pontualidade, aliás, tive poder sobre ele após me tardar para salvar Ambre. Consegui uma xícara de um bom café e apenas para me despertar completamente segui com ela para o jardim, não estava me adaptando a ficar encurralado nessa casa o dia todo, em segundos esporádicos precisava encontrar pontos dela para ver o sol e conquistar ar.  Mas parece que não fui só eu que tive essa ideia, Amerie já estava lá, como se encontrou em qualquer lugar que resolvi estar na última semana, seus cabelos avermelhados sem esvoaçavam enquanto lia sentada na espreguiçadeira próxima a piscina. Era um cena bonita, o jeito como se concentrava nas palavras e passava as páginas com delicadeza, seus dedos dançando pelo papel e seus olhos hipnotizados pelo livro.

Mesmo estranhando que não esteja na biblioteca como de costume me sentei ao seu lado, ela ergueu o olhar minimamente, mas não se incomodou com minha presença, apenas sorriu de modo leve e voltou a sua leitura.

— Devo achar esquisito que você está aqui ao invés de estar na biblioteca? — não consegui me segurar, precisava saber, e puxei assunto do modo mais calmo possível. Amerie continuou a não me olhar, o livro ainda era mais interessante.

— Ao contrário do que os funcionários dessa casa pensam não é porque você faz muito uma coisa que ela se torna uma regra. Não tomo café na biblioteca porque lá é meu lugar favorito, mas sim porque não há ninguém naquele cômodo, não havia ninguém no jardim hoje então... — vira mais uma folha cheia de frases e deixa que eu entenda como quiser.

Ignorei sua ironia evidente e prestei atenção na capa do manuscrito que ela aproveitava. Franzi as sobrancelhas e sorri confuso ao ler o título, isso capturou a atenção de Amerie, que ergueu uma sobrancelha como se me desafiasse a perguntar. Ri alto, notando seu incomodo para eu fizesse o que queria.

— "O livro do amor" O que? Está tentando descobrir como fazer alguém se apaixonar por você? — debocho sabendo que esse é o menor de seus desejos. Amerie sorri com diversão ao simplesmente fechar o exemplar em suas mãos e me confidenciar uma meia verdade.

— Tentando desvendar porque ele é tão importante, a ponto de um cara foder seu futuro possivelmente brilhante por causa de um. — seu tom não é o mais amigável possível, então fecho a cara e me afasto o pouco, criando algum espaço pessoal.

— Está falando de mim? — porque se for não me sinto confortável com isso, Amerie revira os olhos e se senta em posição de índio na minha frente.

— Do meu pai na verdade, por que? Amor é a razão dos seus erros? Seria surpreendente. — há um que de ironia também, mas resolvo ignorar. 

— Você tem pensamentos extremamente geniais. — ai é que a causo surpresa. Porque começo com isso do nada. Ameie faz uma careta.

— Normalmente eu diria obrigada, mas não soou como um elogio. — é sobre esse tipo de coisa que estou falando.

— Mas não é muito... Capaz de fazê-los compreensíveis aos outros, você tem inúmeras qualidades Amerie, mas as vezes você se perde em sua mente e se perde em ideias que só você consegue entender, porque você não fala muito, porque você não treina como se tornar sociável. — não é uma ofensa de forma alguma, quero a ajudar com essa dificuldade. Ela suspira e encolhe os ombros me olhando quase vulnerável.

— Eu tenho fobia social. — relata como se fosse algo natural. —Provavelmente. — não expressa certeza. — Consequência de como me criaram... Eu não lido bem quando as pessoas estão perto, quando há várias vozes ao meu redor, quando sinto suas respirações altas, é como se estar com outras pessoas bloqueasse a vida em mim. Tento lidar, tento não demonstrar, se Charlezie notasse ela usaria contra mim, só que é realmente difícil ser... Desse jeito. — não entendo porque ela é tão sincera comigo, achei que fosse hesitar mais. — Eu consigo fazer isso com você, me expressar porque você também gosta de estar sozinho, e sabe o quão em paz ficamos assim. — no meu caso era mais profundo que isso, eu simplesmente não conseguia fazer parte de algo novamente e perder.

Tudo Ou Nada - ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora