Senhor Jeon era um alfa forte e um líder ferrenho. Seus temores não eram como os da maioria, não se preocupava em contas para pagar ou filhos para alimentar, tudo o que passava por sua cabeça eram formas de emergir seu poder e ser um porto seguro on...
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Jeon bateu na porta de madeira diversas vezes e tornou a bater alguns segundos depois, atordoado demais para esperar.
— Moleque atrevido… — Ele escutou Senhor LeBlanc resmungando do outro lado da porta, indicando que já sabia que era Jeon ali. — O que quer, menino? — Perguntou quando finalmente a abriu, sem se importar em fechá-la, deixando essa função para o outro alfa.
Ele entrou na casa e buscou pelas palavras certas, mas elas faltavam em sua mente.
— Eu preciso… eu não sei… porra, eu não sei! — Jeon disse encarando o idoso com os olhos angustiados.
Senhor LeBlanc o observou por algum tempo e só precisou respirar mais fundo para entender o que havia acontecido.
— O ômega, uh? — Perguntou com um olhar questionador.
— Eu não sei o que está acontecendo, ele está… é como se eu não fosse eu mesmo quando estou perto dele, eu fico territorial e com medo de fazer algo errado e eu sempre faço. Eu sempre faço algo errado.
O idoso suspirou e caminhou até sua sala de estar simples, a lareira estava acesa, dando um tom aconchegante para tudo e Jeon estava grato por isso. Ele ficou parado na frente de LeBlanc, esperando pela permissão de se sentar. Era um costume, não conseguia deixar de fazer.
— Se sente, menino. — O velhote disse emburrado, já havia repetido um milhão de vezes que o alfa não precisava manter toda aquela formalidade entre eles, não mais. — Se lembra daquele livro que te emprestei e você praticamente o roubou?
O alfa negou com a cabeça, sem compreender onde Senhor LeBlanc pretendia chegar com aquilo.
— Eu ainda estou lendo, Senhor. É um livro grande, mas eu vou devolver. — Jeon se defendeu rapidamente, sabia o quão apegado o idoso era com seus preciosos livros.
— Não esse, "O Príncipe"…
Jeon abaixou a cabeça conforme se recordava de cada página e ensinamento daquele livro.
— Eu me lembro como se fosse ontem de quando você chegou no galpão, assustado e sujo, sem comer há dias, mas ainda assim não permitiu que ninguém colocasse a mão em você, parecia um verdadeiro lobo… Sinceramente? Eu não tinha nem ideia de como lidar com isso. Como não queria comer e nem falar com ninguém, cogitei que teríamos que te deixar morrer e depois te enterrar no Cemitério dos Procurados… Parecia ser o destino certo para uma criança tão arredia, beirando à selvageria…
— Então o senhor me deu o livro... — Jeon disse sorridente. Por mais que as memórias daqueles dias fossem a causa da maioria de seus pesadelos, ele ainda se recordava do olhar amoroso que recebeu do alfa ao se aproximar com a obra em suas mãos.
— Eu estava sem sono aquele dia, lia "O Príncipe" por volta da décima vez quando te vi me observando nas sombras… os olhos tão castanhos que realmente pensei estar sendo encarado por um animal da floresta, mas então você se aproximou pela primeira vez, não por minha causa, claro que não, estava terrivelmente interessado pelo livro. — O velho dizia nostálgico, quase como se pudesse ver aquela cena mais uma vez. — Eu não pude fazer nada mais do que te oferecer a leitura e você o pegou, correndo para longe em seguida. Eu estava certo de que você rasgaria tudo, talvez fizesse uma fogueira, mas para minha surpresa você o leu e, no dia seguinte, me disse sua primeira frase desde chegou.
