O DECIMO PRIMEIRO DIA

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Nesse dia levantaram-se tarde, e dispensando todas as cerimônias habituais foramdiretamente para a mesa assim que saíram de seus quartos. O café servido por Giton,Hyacinthe, Augustine e Fanny foi em grande parte destituído de eventos, embora Durcet nãoconseguisse passar sem alguns pedidos de Augustine, e o Duque sem arremessar seu bravoinstrumento entre os lábios de Fanny. Ora, como do desejo aquilo que o desejo causa nuncavai mais do que um passo, com personagens como nossos heróis, trataram sem hesitação deos satisfazer; felizmente, Augustine estava preparada, enviou uma firme brasa para a pequenaboca do banqueiro, e este quase ficou duro; quanto a Curval e o Bispo, limitaram-se a acariciaros traseiros dos dois rapazinhos, e depois nossos campeões dirigiram-se ao auditório."Um dia, a pequena Eugénie, que estava já mais familiarizada com as restantes mulherese a quem seis meses na casa tinham tornado ainda mais bonita, Eugénie, dizia eu, aproximousede mim e levantando suas saias, fez-me olhar para sua bunda." Está vendo, Duclos, como aFournier quer que eu tenha hoje meu traseiro"?Uma crosta de dois centímetros de merda cobria seu lindo ânus. "E por que motivo quera Fournier que você use isso"? perguntei. "É por causa de um senhor de idade que vem estatarde", explicou, "e ele quer uma bunda cheia de merda"."Bem, bem", disse eu, "vai ficar muito satisfeito com você, tenho certeza, porque suabunda não podia estar melhor encrustada". E disse-me que foi a Fournier quem a besuntouassim de merda. Curiosa por assistir a cena iminente, voei para o buraco de observação assimque a doce Eugénie foi chamada. O ator principal era um monge, mas um dos monges a quechamamos capuchões, um Cisterciense, alto, forte, e de perto de sessenta anos. Acaricia acriança, beija-a na boca, e perguntando se está arrumada e limpa, levanta-lhe ele mesmo assaias para verificar um constante estado de limpeza do qual Eugénie lhe dá plena certeza,embora sabendo que nada está tão longe da verdade; mas ensinaram-lhe que falasse assimcom o monge."Que é isto, sua marota"? exclama o monge ao ver semelhante porcaria. "O quê? Vocêatreve-se a dizer que está arrumada e limpa e sua bunda está toda suja? Ora, pela Virgem,tenho certeza que há mais de quinze dias esta bunda não é limpa. É muito aborrecido realmente, porque gosto das coisas limpas, gosto sim, e parece-me melhor dar um jeito nisso".Ao mesmo tempo que falava, depositou Eugénie na cama, ajoelhouse por trás de suasnádegas e começou a afastá-las com ambas as mãos. No começo, podia pensar-se que ohomem se propunha simplesmente observar o estado de coisas, que lhe causara grandesurpresa, mas pouco a pouco acostuma-se as coisas tais como são, passa a ver virtude ondeanteriormente só via falta, tira sua língua para fora e aproxima a cabeça e começa a polir apedra preciosa, remove os torrões e manchas, o objeto prístino que ocultam inflama seussentidos, seu pau levanta, seu nariz, boca e língua parecem trabalhar simultaneamente, seuêxtase parece tão delicioso, que só lhe falta ficar privado do poder da fala, seu esperma sobefinalmente — agarra seu pau, esfrega-o e enquanto descarrega acaba de limpar aquele anus,agora tão fresco e puro que ninguém poderia supor que estava imundo um minuto ou doisantes.Mas o libertino não estava ainda pronto para dar por concluído o negócio, essa suamania voluptuosa constituía apenas uma preliminar; põe-se de pé, dá mais beijos em suapequena companheira, exibe a vista desta uma grande bunda de péssimo aspecto e muitosuja, e ordena-lhe que lhe dê uma vigorosa sacudidela, que a socratize; isso levanta de novofuriosamente seu pau, volta agora a bunda de Eugénie, avassala-a de carinhos, lambidelas eassim por diante, mas o que fez depois disso não me compete a mim relatar, nem figurariaapropriadamente nestas narrações introdutivas; os Senhores, terão a bondade de permitir queMadame Martine conte o comportamento de um vilão com quem tinha grande intimidade; e afim de evitar todas as perguntas, Senhores, que vossos próprios regulamentos me proíbem detratar ou responder, continuo com outro episódio."Apenas uma palavra, Duclos", disse o Duque, que então interrogou a narradora demaneira indireta o que lhe permitiu dar uma resposta ajuizada. "Era grande o do monge? Foi aprimeira vez de Eugénie..."? "Sim, Senhor, a primeira, e o do monge era mais ou menos dotamanho do seu"."Ah, puta que o pariu"! exclamou Durcet; "uma grande demonstração, gostava de ter vistoisso".O Senhor ficaria igualmente curioso, disse Duelos ao pegar no fio de sua narrativa,acerca do indivíduo que, alguns dias depois, passou por minhas mãos. Equipado com um vasocontendo oito ou dez grandes montes apanhados a torto e a direito e cujos autores teria ficadomuito perturbado se tivesse identificado, era minha obrigação esfregá-lo dos pés à cabeçacom essa cheirosa pomada. Nem um centímetro de seu corpo foi negligenciado, nem mesmo orosto, e depois de ter massageado seu pau, que esfreguei ao mesmo tempo, o porco infame,que durante todo o tempo se olhara num espelho, deixou evidência de sua humilde virilidadeentre minhas mãos.E finalmente, chegamos, Senhores; posso agora informá-los de que vai ser prestadahomenagem no verdadeiro templo. Foi-me dito que estivesse pronta, conservei meus intestinosfechados durante dois longos dias. Era um Comandante da Ordem dos Cavaleiros de Maltacom quem iria quebrar lanças; costumava visitar uma moça diferente todas as manhãs paraesses exercícios; em sua casa transpirou a cena seguinte."Nádegas muito boas", foi sua opinião quando abraçou meu traseiro. "Contudo, minhafilha", continuou, "é preciso mais do que ter apenas uma bunda razoável, sabe. Essa bundadeve saber cagar. Diga-me, tem vontade"?"Tanta vontade, que estou morta por satisfazê-la, Senhor", confessei. "Bom, por Jesus,isso é delicioso"! exclamou o comandante, "é o que se chama um excelente serviço asociedade, mas, minha patinha, você gostaria de cagar neste vaso de noite que tenho aqui"?"Verdade, Senhor", respondi, "com a vontade que tenho de cagar, faço em qualquer parte,cago até em sua boca". -"Não! Em minha boca? Ora, eu seja abençoado, isso é delicioso, e é precisamente olugar que tinha em mente para você", acrescenta, pondo o vaso de lado."Bem, Senhor, apressemo-nos, preparai vossa boca", disse eu, "porque realmente nãosou capaz de agüentar muito mais tempo". Deita-se no divã, pulo por cima dele enquantoopero, esfrego seu pau, ele apóia meus quadris com suas mãos e recebe, peça por peça,tudo que deposito em sua ávida boca. Fica emocionado por tudo, aproxima-se de seu êxtase,meu pulso quase não é necessário para provocar as torrentes de sêmen que saúdam meudesempenho; esfrego, concluo minha dejeção, nosso homem perde-se e a sua semente aomesmo tempo, e deixo-o encantado comigo, ou pelo menos assim tem a amabilidade de dizera Fournier, a quem ao mesmo tempo pede os serviços de outra moça para o dia seguinte. Opersonagem seguinte usava mais ou menos a mesma aproximação ao problema, massimplesmente conservava as lingüiças mais tempo em sua boca. Reduzia-as a fluido,enxaguava sua boca com as mesmas durante um quarto de hora, e cuspia pouco mais queágua desbotada.Um outro camarada ainda, se isso é possível, uma excentricidade ainda mais bizarra;gostava de encontrar quatro montes num vaso por baixo de uma cadeira furada, mas essesquatro montes não podiam ter nem uma gota de urina. Encerrava-se sozinho num quarto ondese encontrava seu tesouro, nunca permitia a presença de mulheres, e era necessário tomartodas as precauções para garantir sua solidão, não suportava o pensamento de poder serobservado, e quando finalmente se sentia seguro, entrava em ação; mas sou absolutamenteincapaz de dizer o que fazia, porque nunca ninguém viu; tudo que se sabe é que quando saíado quarto, o vaso era encontrado perfeitamente vazio e tão limpo como se pode imaginar. Maso que fazia com seus quatro montes só o diabo pode contar, se é que ide sabe. Podia jogá-losfora. também, podia fazer outra coisa com os mesmos.Contudo, o que nos fazia suspeitar de que não fazia mitra coisa com os montes, é o fatode deixar a obtenção dos mesmos inteiramente nas mãos de Fournier, e nunca manifestou amenor curiosidade com sua origem. Um dia, para vermos se aquilo que lhe dissemos oalarmava — pois seu alarma podia ter-nos dado um indício acerca do destino dos quatromontes — comunicamos-lhe que os tesouros servidos naquele dia eram de várias pessoassofrendo de sífilis. Riu alegremente conosco, não ficou em absoluto perturbado, reação quenão era de se esperar de alguém que fizesse outra coisa além de jogar os montes fora.Quando tentamos, uma ou duas vezes, levar nossas perguntas um pouco mais longe, mandounoscalar, e nunca mais conseguimos saber nada a respeito do assunto.Isso conclui o que tenho a dizer por esta noite, disse Duelos ; amanhã proponho-merelatar meu novo modo de vida, ou antes, a nova volta que meu mesmo modo de vida deu,quando conheci o Senhor d'Aucourt: e quanto a encantadora paixão que os Senhores tãograndemente favorecem, espero ter a honra de os distrair com exemplos da mesma, durantepelo menos dois ou três dias.As opiniões dividiram-se acerca do destino dos montes no episódio que Duelos acabavade relatar, e enquanto discutiam e raciocinavam a esse respeito, os Senhores fizeram produziralguns para si próprios; e o Duque ansioso por fazer notar a todos o gosto que estavadesenvolvendo por Duclos, mostrou a assembléia inteira sua maneira libertina de se divertircom ela, e a destreza, aptidão e prontidão, acompanhadas da linguagem mais estarrecedora,com que a narradora o sabia tão habilmente satisfazer.A ceia e as orgias decorreram sem incidentes invulgares, nada de importante teve lugarantes da tarde do dia seguinte, e por isso podemos mover-nos diretamente para as recitaçõescom que duclos iluminou o dia 12 de novembro.

Os 120 Dias de Sodoma ou a Escola da LibertinagemOnde histórias criam vida. Descubra agora