O DECIMO QUINTO DIA

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Raramente o dia seguinte aos castigos oferecia novos sinais de delinqüência. Não houveentão nenhum, mas severos como sempre, no artigo da permissão para se cagar de manhã,os Senhores só concederam tal favor a Hercule, Michette, Sophie e Desgranges, e Curvalperigosamente se aproximou de uma descarga ao observar a narradora em ação. Não sefizeram grandes coisas ao café, os amigos contentaram-se em acariciar algumas nádegas echupar um ânus ou dois; soou a hora, todos foram prontamente estabelecer-se no anfiteatro,Duelos enfrentou uma vez mais -a assistência, e assim se dirigiu a companhia:"Surgira ultimamente na casa da Fournier uma menina de doze ou treze anos, idadepreferida pelo singular cavalheiro de que lhes falei; mas duvido sinceramente que num longotempo tivesse devassado coisa tão atraente, inocente ou bonita. Tinha cabelos claros, era altapara sua idade, e merecia ser pintada, sua fisionomia era terna e voluptuosa, seus olhos osmais adoráveis que se podem imaginar, em toda sua encantadora pessoa havia algo doce eintrigante que a tornava uma verdadeira tentação. Mas a que degradação tal conjunto deatrações não iria ser sujeitado, e que vergonhosa estréia lhe fora preparada! Era filha de umcomerciante. de roupas finas, fornecedor do Palácio e homem de confortáveis meios, e suafilha fora sem dúvida destinada a uma sorte mais feliz do que a de puta; mas quanto mais ohomem em questão conseguia, mediante suas pérfidas seduções, levar suas vítimas a ruina, emais completa a depravação em que as deixava, maior seu prazer, mais feroz seu êxtase. Apequenina Lucille, imediatamente após sua chegada, foi destacada para satisfazer oscaprichos odiosos e sujos de um homem que, não contente com os gostos mais crapulosos,desejava, ainda mais, infligi-los na virgem.O homem chega: prova ser um tabelião cheio de ouro e que, juntamente com sua riqueza,tem toda a brutalidade que a avareza e a luxúria excitam quando combinadas num espíritoamadurecido. A criança é-lhe mostrada; bonita como pode ser, sua primeira reação é dedesdém; resmunga, rilha os dentes, murmura e pragueja, e diz que parece que já não se podeachar uma moça bonita em Paris; exige, finalmente, prova positiva de que se trata de umavirgem, garantem-lhe que sim, que o artigo é novo, Fournier oferece-se para lhe mostrar."O quê? Ver uma boceta, eu? Madame Fournier! Eu, olhar para uma boceta! Esperosinceramente que esteja dizendo isso por piada; já me viu perder tempo considerando taisobjetos desde que freqüento sua casa? Uso-os, é claro, mas de maneira que, estou certo, nãoatesta grande amor pelos mesmos"."Muito bem, Senhor", Fournier disse, "terá de aceitar então a palavra da casa: declaroque ela é tão virgem como uma criança nascida há cinco minutos".Sobem juntos e, como podem imaginar, curiosa com tal tête-à-tête, corro a estabelecermeno buraco. A pobre coitadinha é dominada por uma vergonha que só se pode descrevercom superlativos, e por isso não a descrevemos, porque essas expressões são necessáriaspara representar a impudência, a brutalidade, e o mau humor de seu amante sexagenário."Bem, que diabo está fazendo aí, você é uma pedra", diz numa voz ríspida. "Preciso delhe dizer que levante suas saias? Já devia ter mostrado sua bunda há mais de duas horas...Não fique aí como uma idiota, vamos"."Mas, Senhor, que devo fazer"?"O quê? Jesus Cristo, ainda se fazem perguntas destas? Que deve fazer? Levante assaias e mostre essa maldita bunda que estou pagando para ver".Lucille obedece, tremendo como uma folha de árvore e revela uma bundazinha branca tãoquerida e doce como seria a da própria Vênus. "Hum ... não está mal", resmunga o bruto,"traga-a mais perto..." Então, agarrando firmemente as duas nádegas e afastando-as comviolência :"Você tem certeza de que nunca ninguém lhe fez nada aqui"? "Oh, Senhor, nunca ninguémme tocou..." "Muito bem. Agora peide". "Mas, Senhor, não posso"."Bem, tente, pelo amor de Deus, trate de peidar".Ela esforça-se, contorce-se, um pequeno sopro de vento aromático escapa e produz umpequeno eco ao entrar na boca infetada do velho libertino, que parece encantado."Você quer cagar"? pergunta."Não, senhor"."Bem, eu quero, tenho uma coisa copiosa de que me quero libertar, isto se estáinteressada nos fatos pertinentes; portanto prepare-se para satisfazer esta necessidadeparticular que tenho... tire as saias".São tiradas."Deite-se naquele sofá. Levante as coxas".Lucille instala-se, o velho tabelião ajeita-a e coloca-a de modo a que suas pernas bemabertas mostrem sua boceta da melhor maneira possível, numa posição aberta e proeminenteque possa ser prontamente empregada como um vaso de noite. Usá-la assim era sua santaintenção; para que o recipiente reaja mais perfeitamente aquilo que dele se espera, começapor alargá-lo tanto quanto possível, devotando ambas as mãos e toda sua força a tarefa.Toma seu lugar, faz força, um monte pousa no santuário que o próprio Cupido não teriadesdenhado como templo. Volta-se, olha sua obra, e com seus dedos comprime e empurra oimundo excremento para dentro da vagina fazendo-o quase desaparecer; estabelece-se denovo em cima de Lucille e ejeta uma segunda e depois uma terceira dose, e cada uma ésucedida pela mesma cerimônia de enterro. Finalmente, tendo depositado seu último monte,empurra-o e tampao com um zelo tão brutal que a criança solta um grito, e através dadesagradável operação perde talvez a preciosa flor, ornamento da Natureza, oferecida àcriança como presente de Himeneu. Foi nesse momento que o prazer de nosso libertino atingiusua crise: encher a jovem e bonita boceta até transbordar de merda, atulhá-la e atascála demais merda ainda, era seu deleite supremo: entretanto, abre sua calça e retira uma espécie depau, muito flácido, e sacode-o, e ao mesmo tempo que se afasta com dificuldade na suamaneira odiosa, consegue derramar no chão algumas gotas de um esperma aguado edescolorado, cuja perda pode ser creditada apenas as infâmias que praticou. Depois determinar, retira-se, Lucille lava-se, e é tudo.Algum tempo mais tarde, encontrei-me com outro indivíduo cuja mania não me pareceumenos desagradável: era um velho magistrado do Supremo Tribunal. Fui obrigada não apenasa vê-lo cagar, não, houve mais do que isso: tive de ajudá-lo, com meus dedos, facilitando asaída da merda apertando, abrindo, agitando e comprimindo seu ânus, e quando acabou de selibertar de sua carga, mandou-me limpar com o máximo cuidado a área, usando minha língua."Bem, por Deus! eis um trabalho enfadonho, reconheço", disse o Bispo. "As quatrodamas que está vendo, e são nossas esposas, filhas ou sobrinhas, essas senhoras, nãoobstante, são obrigadas a desempenhar esse mesmo papel todos os dias, sabe. E que diabo,pergunto, para que serve a língua da mulher senão para limpar rabos? Francamente, nãoconsigo pensar noutra utilidade para a mesma. Constance", prosseguiu o Bispo, voltando-separa a encantadora mulher de Durcet, e que estava em seu sofá, "faça uma pequenademonstração a Duclos de sua proficiência na coisa; aí está, vou-lhe oferecer uma bundamuito suja, não é limpa desde hoje de manhã, conservei-a assim para você. Vamos, mostresuas habilidades".E a pobre criatura, acostumada demais a tais horrores, executava-os como esposaexemplar e meticulosa que era; ah, grande Deus! que coisas produz o pavor e a escravidão!"Oh, meu Deus", disse Curval, apresentando sua bunda imunda e feia a encantadoraMine, "ela não vai ser a única a dar exemplo de excelência. Trabalhe, putazinha", disse oPresidente a bonita e virtuosa moça, "exceda sua companheira".E conseguiu."Ora, Duelos", disse o Bispo, "acho que podemos continuar agora; quisemos apenasprovar que o pedido de seu homem nada tinha de invulgar, e que a língua da mulher só servepara limpar bundas".A amável Duelos desatou a rir e continuou:Permitam-me Senhores, disse a narradora, que interrompa o catálogo de paixões duranteum instante, para lhes poder revelar um evento que nada tem que ver com o mesmo; diz-meapenas respeito, mas como me ordenaram que contasse os episódios interessantes de minhavida, mesmo que não tenham relação com a antologia de gostos que estamos compilando,acho que o caso não deve ser passado em silencio.Já estava há muito tempo na casa de Madame Fournier, de há muito me tornara aprimeira por antiguidade, e na sua comitiva inteira era a mulher em quem a procuradora tinhamaior confiança. Era quase sempre eu quem recebia as pessoas e os fundos. Fourniertomara, gradual-mente, o papel da mãe que eu perdera, ajudara-me em momentos dedificuldades, cuidara de meu bem estar, escrevera-me fielmente quando vivi na Inglaterra, nomeu regresso abrira-me suas portas como amiga quando, em circunstâncias difíceis, uma vezmais desejei encontrar abrigo em sua casa. Mais de vinte vezes me emprestara dinheiro, emuitas vezes não o exigia de volta. Surgiu a oportunidade de mostrar minha gratidão e deresponder a sua ilimitada fé em mim, e os Senhores, julgarão com que ansiedade minha almase abriu a entrada da virtude e que fácil acesso esta teve: Fournier adoeceu, e seu primeiropensamento foi-me chamarme a seu lado."Duelos, minha filha, adoro você", disse-me, "você sabe bem ,e vou provar-lho com aconfiança absoluta que vou depositar em suas mãos. A despeito de seu espírito, que não ébom, acho-a incapaz de fazer mal a uma amiga; estou muito doente, muito velha, não sei queserá de mim. Mas logo posso morrer; tenho parentes que serão, é claro, meus herdeiros.Posso ao mesmo deixar-lhes alguma coisa, e quero faze-lo: tenho cem mil francos em ouroneste cofre; tome, minha filha", continuou, "tome, dou-lhos, mas com a condição de gastar estedinheiro de acordo com minhas instruções"."Oh, minha querida mãe", respondi, estendendo meus braços para ela, "suplico-lhe,essas precauções desgostam-me; são sem dúvida desnecessárias, mas, se infelizmentesucedesse o contrário, juro cumprir suas intenções"."Acredito em você, minha filha", prosseguiu, "e é por isso que meus olhos se fixaram emvocê; .esse pequeno cofre contém, portanto, cem mil francos em ouro; tenho escrúpulos,alguns escrúpulos, minha querida amiga, tenho remorsos da vida que levei, da quantidade demoças que arrastei ao crime e afastei de Deus. E por isso desejo fazer duas coisas porintermédio das quais espero que a divindade seja levada a tratar-me com menos severidade:penso agora em caridade e oração. Você pega em quinze mil francos desse dinheiro, eentrega-os aos Capuchinhos da rue Saint-Honoré, para que esses bons padres digam umamissa perpétua pela salvação de minha alma; outra quantia, também de quinze mil francos,será posta de lado, e depois de encerrar meus olhos, será entregue por você ao cura daparóquia a quem pedirá que a distribua pelos pobres do bairro. A caridade é uma coisaexcelente, minha filha; nada melhor repara aos olhos de Deus os pecados que cometemosneste mundo. Os pobres são Seus filhos, e Seu amado é aquele que os socorre e conforta;nada agrada mais a Deus do que a distribuição de almas pelos necessitados. esse overdadeiro caminho do Céu, minha filha! Quanto ao resto, assim que eu morrer, você entregasessenta mil francos a um homem chamado Pétignon, aprendi, de sapateiro da rue du Bouloir:esse pobre homem é meu filho, nada sabe de sua origem: é fruto do adultério. Depois demorta, quero que o pobre órfão beneficie dos sinais de ternura que nunca lhe manifesteienquanto viva. Sobram dez mil francos; peço que os aceite, minha querida Duclos, guarde-oscomo uma modesta lembrança de minha ternura por você, que possam ser uma recompensapelo trabalho que vai ter para distribuir o resto de minha fortuna. E possa esta pequena quantiaajudá-la a resolver-se a abandonar a pavorosa profissão que seguimos, ocupação da qual nãohá salvação, nem qualquer esperança. Porque não se é puta para todo o sempre".Intimamente encantada por me ser confiada uma quantia tão simpática, eincondicionalmente determinada, com receio de ser confundida pelas complicadas instruçõesde Fournier para a partilhar, a conservar a fortuna intacta e exclusivamente para mim, produzium mar de lágrimas muito artificiais, e arremessei-me nos braços da velha matrona, reiterei miljuras de fidelidade, e voltei todos meus pensamentos, a partir de então, para divisar maneirasde evitar os desapontamentos cruéis certos de ocorrerem se uma volta a saúde normalprovocasse uma mudança em suas resoluções. O meio apresentou-se a si próprio no diaseguinte; o médico prescreveu um emético, e como o seu tratamento estava a meu cargo, foia mim que o clinico entregou o remédio, chamando minha atenção para o fato do pacoteconter duas doses, e advertindo-me que tivesse todo o cuidado em administrar apenas uma decada vez porque, se lhe desse as duas ao mesmo tempo, a morte seria o resultado; se aprimeira não produzisse efeito, ou se este fosse insuficiente, a segunda podia ser empregadamais tarde, se necessário. Prometi ao médico ter todo o cuidado possível, e mal ele tinhavoltado as costas, banindo de meu coração todos os sentimentos que podiam deter umespírito timorato, pondo de lado todo o remorso e fraqueza, e pensando exclusivamente nomeu ouro, no doce encanto de o tornar meu, e na deliciosa titilação que se experimentasempre que se planeja uma má ação, no prognóstico certo do prazer que dá. pensando, diziaeu. em tudo isso e em nada mais, derramei logo as duas doses num copo e ofereci a misturaaos lábios de minha querida amiga: ela engoliu a poção sem um momento de demora e assim,com igual rapidez, encontrou a morte que eu ajudara a surgir.Não posso descrever os sentimentos de que fui possuída quando vi que meu esquematriunfara, cada um dos estertores com que exalou sua vida produzira uma sensaçãoverdadeiramente deliciosa em meu inteiro ser; emocionada, ouvi, observei, fiquei perfeitamenteembriagada de alegria. Estendeu seus braços para mim, disse-me um último adeus, fiqueiesmagada por essa sensação tão agradável, formava já mil planos para gastar o ouro. Nãoprecisei de esperar muito tempo; Fournier expirou nessa mesma tarde; o prêmio era meu."Duclos", disse o Duque, "seja honesta: você masturbou-se, a sensação penetrantementevoluptuosa do crime atingiu seus órgãos de prazer"?"Sim, Meu Senhor, confesso que sim; graças a minha travessura, descarreguei cincovezes antes do anoitecer"."Então é verdade", o Duque afirmou em voz alta e autoritária, "então é verdade que ocrime tem em si próprio um atrativo tão dominante que, sem ajuda de qualquer atividadeacessória, pode em si próprio ser suficiente para inflamar todas as paixões e lançar-nos nomesmo delírio ocasionado por atos lúbricos. Bem, que me diz"?"Ora, Meu Senhor", respondeu Duclos, "digo que fiz enterrar minha empregadora comtodas as honras, apropriei-me da herança do bastardo Pétignon, não gastei um tostão emmissas perpétuas, tampouco me incomodei em fazer uma única contribuição caritativa, porque,na realidade, sempre tive a caridade na conta da coisa mais horrorosa, independentementedos discursos, tais como o da Fournier, que ouvi pronunciar em seu favor. Afirmo que devehaver pobres neste mundo, que a Natureza deseja que os haja, que os exige, e que é voardiante de seus decretos pretender restaurar o equilíbrio, se é a desordem que ela quer"."Que é isso"! Durcet disse. "Então você tem princípios, Duclos? Fico encantado sabendodisso; porque, como você parece realizar, qualquer alívio dado a desgraça, qualquer gesto quemitigue a carga dos infelizes, é um verdadeiro crime contra a ordem natural. A desigualdadeque ela criou em nossas pessoas, prova que esse desacordo agrada a Natureza, uma vez quefoi ela a estabelecer isso, e uma vez que deseja que ele exista- na fortuna e no corpo. E comoos fracos podem sempre concertar as coisas através do roubo, os fortes têm igual permissãopara restaurar a desigualdade, ou protegê-la, recusando-se a dar ajuda aos infelizes. Ouniverso deixaria imediatamente de subsistir se houvesse uma semelhança exata entre osseres; é desta disparidade que nasce a ordem que preserva, contém e dirige tudo. É portantopreciso ter-se grande cuidado para não a perturbar; além disso, acreditando nela como umacoisa boa que se faz por essa miserável classe de homens, fazse idêntico mal a outra, pois aindigência é a reserva a que os ricos e poderosos recorrem em busca dos objetos de que sualascívia ou crueldade necessitam; priva-se o homem rico desse ramo do prazer quando,erguendo os desgraçados, se inibe esta classe de ceder aquele. E assim, minha caridade selimita a por uma parte da humanidade muito modestamente em meu favor, e fazer umprodigioso mal à outra. Assim, considero a caridade não só uma coisa má, em si própria, mas,o que é mais, considero-a um crime contra a Natureza que, tendo começado por tornar asdiferenças aparentes a nossos olhos, nunca pensou certa-mente em idéias que as eliminassemde nossas cabeças. E assim, longe de dar almas aos pobres, consolar as viúvas, socorrer osórfãos, se é de acordo com as verdadeiras intenções da Natureza que desejo proceder, nãosó deixo esses desgraçados no estado em que a Natureza os colocou, mas empresto ainda aNatureza um forte braço direito e uma ajuda, prolongando esse estado, e opondo-mevigorosamente a quaisquer esforços que eles façam por mudá-lo e, nesse sentido, consideroválidos todos os meios"."O quê"? exclamou o Duque, "mesmo roubá-los e arruiná-los"?"Ora, claro", respondeu o financista, "aumentando até o seu número, uma vez que estaclasse serve a outra, e porque, aumentando o tamanho de uma, embora fazendo-lhe um malpequeno, se presta um grande ser-viço a outra"."Isso, meus amigos, é realmente um sistema muito severo", disse Curval, "Não ouviramfalar nos doces prazeres de se fazer bem aos outros"?"Prazeres abusivos"! Durcet respondeu imediatamente. "Esse deleite a que você aludenão tem comparação com aquele que recomendo; o primeiro é ilusório, uma ficção; e segundoé autentico, real; o primeiro fundamenta-se em preconceitos vis, o segundo na razão; oprimeiro, por intermédio do orgulho, a mais falsa de todas as nossas sensações, pode dar aocoração a titilação de um breve instante; o outro é uma verdadeira tomada de prazer mental, einflama todas as outras paixões pelo fato de correr contra as opiniões comuns. Numa palavra,um faz com que meu pau endireite", Durcet concluiu, "e nada sinto praticamente com o outro"."Mas deve nossos sentimentos constituir o critério de julgamento de tudo"? Perguntou oBispo."O único, meu amigo". Disse Durcet; "nossos sentimentos, nada mais, devem guiarnossas ações na vida, porque apenas sua voz é verdadeiramente imperiosa"."Mas Deus sabe quantos milhares de crimes podem resultar de tal doutrina", observou oBispo."Deus sabe sim, e julga que isso importa"? Durcet inquiriu; "é segundo a qual a Naturezaagita o homem, o faz mover-se. Ou você não quer que eu seja movido pela Natureza nessadireção, bem como na direção da virtude? A Natureza necessita de atos virtuosos e de atostorpes; sirvo do mesmo modo a Natureza cometendo uns e outros. Mas entramos numadiscussão que nos poderia levar longe; a hora da ceia está próxima, e Duclos tem ainda muitoterreno a cobrir antes de completar sua tarefa. Continue. encantadora moça, prossiga eacredite quando lhe digo que você acaba de reconhecer um ato e uma doutrina que a fazemmerecedora de nossa eterna estima e bem assim da de todos os filósofos".Minha primeira idéia depois de minha boa patroa ter sido inumada foi assumir a direçãode sua casa e mantê-la no mesmo pé que ela achara tão lucrativo. Anunciei este projeto aminhas colegas, e todas elas, Eugénie acima do resto porque era minha amada, todas, dizia,prometeram considerar-me sua nova mãe. Não era jovem demais para pretender o título,estava então perto dos trinta anos, e possuía toda a inteligência e bom senso necessários adireção de um convento. E é assim, Senhores, que concluirei a história de minhas aventurasnão como uma puta pública, mas como abadessa, suficientemente bonita e ainda as vezessuficientemente jovem, na realidade muitas vezes, para tratar diretamente com nossosclientes; e tratar com eles eu fiz: terei o cuidado, na seqüência, de os notificar sempre quetenha sido eu a ocupar-me diretamente dos problemas. Todos os clientes da Fournier meforam fiéis, eu sabia como arranjar novos: meus apartamentos eram cuidadosamente limpos earrumados, e uma excessiva submissão inculcada em minhas meninas, as quais selecionavacom discriminação, lisonjeava grandemente os caprichos de meus libertinos.O primeiro comprador a chegar foi um velho Tesoureiro do Ministério da Fazenda, umantigo amigo da saudosa Fournier: dei-lhe a pequena Lucille, pela qual manifestou grandeentusiasmo. Sua mania habitual, igualmente imunda e desagradável para sua companheira,consistia em cagar no rosto de sua Dulcinéia, espalhar o excremento por toda ela e depoisbeijá-la naquele estado, e chupá-la. Por uma questão de amizade por mim, Lucille permitiu queo velho sátiro satisfizesse completamente sua vontade, e o devasso descarregou em suabarriga ao mesmo tempo que beijava e lambia sua odiosa representação.Não muito tempo depois, chegou outro; Eugénie foi escolhida para a missão. Mandou virum barril cheio de merda, mergulhou a moça nua no mesmo, lambeu cada milímetro de seucorpo, engolindo o que ia retirando, e só termina depois de a ter deixado tão limpa quanto oestava antes da imersão. Esse era um advogado famoso, homem muito rico e muitoconhecido. Possuía, para gozo das mulheres, apenas as qualidades mais modestas, falta queremediava com essa espécie de libertinagem que apaixonadamente cultivara toda sua vida.O Marquês de ..., uma dos mais velhos clientes da Fournier, chegou pouco depois da suamorte para manifestar seu pesar ao saber que ela não pertencia mais ao número dos vivos;garantiu-me também que patrocinaria a casa tão fielmente como antigamente, e para meconvencer de sua devoção, quis ver Eugénie nessa mesma noite. A primeira paixão do velhosafado consistiu inicialmente em beijar prodigiosamente a boca da moça; engoliu toda a salivaque possivelmente dela pôde arrancar, e depois beijou-lhe as nádegas durante quinze minutos,solicita peidos, e depois a coisa principal. Feito isso, conservou o monte em sua boca e,fazendo a moça inclinar-se para ele, mandou-a abraçá-lo com uma das mãos e esfregar-lhe opau com a outra; e ao mesmo tempo que saboreava os prazeres de sua masturbação ebrincava com a bunda cheia de merda da mulher, esta foi obrigada a comer o monte quedepositara na boca do safado. Embora estivesse preparado para pagar muito bem, haviamuito poucas moças que estivessem dispostas a cooperar na sua pequena abominação, e eraesse o motivo das freqüentes visitas do Marquês a minha casa; tinha tanto desejo de continuarmeu cliente, quanto eu tinha que fizesse freqüentes visitas a meu estabelecimento...Nesse momento, o Duque, muitíssimo quente, disse que como estava na hora da ceia,gostaria de, antes de ir para a mesa, executar a fantasia citada em último lugar. E foi assimque cumpriu sua palavra: chamou Sophie, recebeu em sua boca o monte da menina, depoisobrigou Zélamir a aproximar-se e a comer a criação de Sophie. Esta idiossincrasia talvezpudesse ser uma delícia para qualquer outra pessoa menos para uma criança como Zélamir;ainda insuficientemente amadurecido para apreciar a delícia, manifestou apenas asco, eesteve a ponto de se comportar mal. Mas o Duque ameaçou-o com tudo que sua cólera podiaproduzir se o rapaz hesitasse mais um segundo; o rapaz obedeceu. A graça pareceu tãodeliciosa aos outros que cada um deles a imitou, mais ou menos, pois Durcet sustentava queos favores deviam ser divididos equitativamente; era justo, perguntou, que os meninoscomessem a merda das meninas, e estas ficassem com fome? Não, claro que não, econsequentemente mandou Zéphyr cagar em sua boca e ordenou a Augustine que comesse amarmelada, o que a adorável e interessante menina prontamente fez, sendo seu repastoseguido com igual prontidão de convulsivos vômitos.Curval imitou esta variação e recebeu o monte de Adonis, que Michette consumiu, nãosem uma réplica das manifestações de Augustine: quanto ao Bispo, satisfez-se em emular seuirmão, e mandou a delicada Zelmire excretar um confeito que Céladon foi induzido a papar.Acompanhando tudo isso, houve certos sinais inconfundíveis de repugnância que, é claro,nossos libertinos consideravam com o maior interesse, pois em sua opinião, os tormentos quese afligem não têm paralelo na inspiração de satisfação. O Bispo e o Duque descarregaram,os outros dois não puderam, ou não quiseram, e todos quatro foram para a ceia, durante ocurso da qual a ação de Duclos foi alvo dos maiores encômios."Uma criatura muito inteligente", observou o Duque, cuja admiração pela narradora nãopoderia ser mais profunda. "Inteligente, digo eu, sentir que a gratidão é um disparate, e umaalucinação, e nunca permitir que os laços da amizade ou de qualquer outra espécie nos façamparar ou mesmo suspender os efeitos do crime, porque o objeto que nos serviu não podereivindicar qualquer direito a generosidade de nosso coração; esse objeto emprega-se a sipróprio apenas em nosso nome, sua mera presença humilha as almas vigorosas, e devemosportanto odiá-lo ou eliminá-lo"."Muito certo", disse Durcet, "tão verdadeiro que nunca se verá um homem sensato fazercom que os outros lhe fiquem gratos. É bem certo que a benevolência só cria inimigos, e ossábios só praticam as artes que sua sabedoria aprova para sua segurança"."Um momento", interrompeu o Bispo, "quem nos serve não procura dar-nos prazer, masantes se esforça por ganhar ascendência sobre nós, tornando-nos devedores. Bem, pergunto,que m r e um esquema assim? Não dizem, quando nos servem: sirvo-vos porque vos querofazer bem. Não, dizem simplesmente: coloco-vos em obrigação, a fim de vos baixar e subiracima de vós"."Estas reflexões parecem-me", disse Durcet, "provar abundantemente como são abusivosos serviços usualmente prestados, e como é absurda a prática do bem. Mas, dizem-nos, fazseo bem em proveito próprio e por nós mesmos; está certo que os pobres de espírito gozematravés de sua fraqueza de tais prazeres, mas aqueles que se revoltam com eles, como é onosso caso, grande Deus, seriam uns consumados idiotas se prestassem atenção a coisas tãotépidas".Tendo estas doutrinas inflamado suas imaginações, os Senhores beberam muitíssimo, eas orgias foram celebradas com vivacidade e brio. Nossos libertinos, perfeitamente irmanadosem seus pensamentos, mandaram as crianças dormir, e decidiram passar parte da noiteapenas com as quatro velhas e as quatro narradoras, e na sua companhia excederem-se unsos outros em infâmias e atrocidades. Como entre essas doze pessoas não havia uma únicaque não merecesse o laço, a grade ou a roda, deixo ao leitor imaginar o que se disse e se fez.Pois das palavras passaram as ações, o Duque voltou a esquentar francamente, não sei comoou por que aconteceu, mas dizem que Thérèse ficou com as marcas de sua afeição durantesemanas. Contudo, seja como for, deixemos que nossos atores se desloquem destas bacanaispara os castos leitos das esposas que tinham sido preparadas para cada um dos quatro. evamos ver o que transpirou no castelo no dia seguinte.

Os 120 Dias de Sodoma ou a Escola da LibertinagemOnde histórias criam vida. Descubra agora