Traição

73 10 1
                                    

ROMANCES MENSAIS

LIVRO IV – COMPETIÇÕES DE ABRIL

📅

CAPÍTULO XXIII - TRAIÇÃO

 O forte cheiro de morfo no local é a primeira coisa que noto quando chegamos ao esconderijo de nossos sequestradores. Eu estava com uma mordaça em minha boca e um saco preto em minha cabeça, impedindo que eu enxergasse alguma coisa. Eu estava em pânico. Sem qualquer senso de direção e menos ainda do que acontecia a minha volta, tudo o que eu conseguia fazer era chorar em silêncio e rezar para que Barry ainda estivesse vivo.

Sem qualquer aviso, a pessoa que me conduzia pelo local desconhecido me empurra contra uma cadeira de metal e por muito pouco não vou ao chão. Ele amarra meus braços e pernas na cadeira e sinto a corda usada machucar a minha pele. Pouco tempo depois, o saco que cobria minha cabeça é tirado e finalmente consigo observar o esconderijo, que mais parecia uma casa abandonada de madeira com muita bagunça, morfo e pó. 

Desesperada, começo a me debater, tentando me soltar, mas isso só fazia meus braços e pernas ficarem ainda mais feridos. Ao olhar para o lado, encontro Barry ainda desacordado e, assim como eu, amarrado em uma cadeira com uma mordaça na boca. Isso me deixa ainda mais angustiada. Ele havia levado um golpe muito forte na cabeça e já estava inconsciente há muito tempo. Sua blusa manchada de sangue também não ajudava em nada a me acalmar.

E então nosso sequestrador se revela mais uma vez. O rapaz de aparência jovial com cabelos que iam até os ombros, encarava meu namorado com os olhos preocupados. Isso chegava a ser irônico, já que ele havia sido o culpado por deixá-lo naquela situação. Cisco Ramon era um dos colegas de trabalho e melhores amigos de Barry. Jamais imaginaríamos que ele seria capaz de machucar qualquer um de nós. 

Apesar de não conhecer tão bem o rapaz, Barry já havia falado muito sobre ele e de como Cisco o ajudou a se adaptar ao trabalho com seu jeito divertido e alto astral. Nas poucas vezes que nos encontramos, ele também havia sido uma pessoa muito gentil e acolhedora, por isso, era difícil acreditar na traição do rapaz. 

Cisco então me encara e se encolhe ao sentir meu olhar nada amigável. Ele abre e fecha a boca algumas vezes, como se procurasse alguma forma de se justificar, mas não conseguia dizer nada. Um celular começa a tocar no local onde estávamos e isso o assusta. Um segundo homem aparece e sai do cômodo para atender a ligação, deixando-nos as sós.

Tomada pela ira, começo a xingar Cisco, debatendo-me cada vez mais, mas tudo que se torna audível são resmungo por causa da mordaça em minha boca. O rapaz parecia cada vez mais incerto sobre o que fazer. Seus olhos se alternavam entre Barry e eu, demonstrando toda a culpa que sentia pelo que havia feito. Ainda assim, eu não conseguia deixar de pensar em formas de esquartejar aquele maldito traidor.

- Para! Você vai se machucar! - Pede o rapaz, segurando minha cadeira no momento em que eu iria a chão de tanto me debater. - Fica calma! Não vamos machucar vocês. Eu vou tirar essa mordaça de você, mas tem que me prometer que não vai fazer escândalos.

Rio com ironia de sua afirmação. Ele suspira e olha para os lados, como se confirmasse que estávamos sozinhos. Cisco me encara como se exigisse uma resposta e isso me faz revirar os olhos. Bufo e assinto, angustiada demais por ter aquele pano na minha boca. Ele então tira a mordaça de minha boca e eu finalmente consigo respirar direito.

- Traidor! - Exclamo, encarando-o enojada. Ele se encolhe mais uma vez. - Como você teve coragem de fazer isso com o seu próprio amigo?

- Eu não tive escolha! - Cisco parecia desnorteado, enquanto leva a mão a cabeça e começa a andar de um lado para o outro. 

Competições de AbrilOnde histórias criam vida. Descubra agora