Maldição do dia oito

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~Toni's pov

-Senhorita Topaz?

-Sim? -Ergo a câmera para poder vê-la melhor. A morena de olhos castanhos me olhava com o cenho franzido.

-Você está fitando o chão faz tempo, achei melhor intervir. Tenho horário marcado no cabeleireiro, sabe?

-Ah, sim. Mil perdões. Podemos começar? -Mariana afirma. Ou era Juliana? Quer saber, eu era um perigo à nação trabalhando com a cabeça nas nuvens. Ou melhor, em Cheryl Blossom.

Passo quase duas horas fotografando a modelo de sorriso bonito e olhos cintilantes que deu em cima de mim a todo momento. Não sei o que estava acontecendo, não conseguia pensar em mais ninguém desse jeito. Ninguém que não fosse Cheryl.

Aqueles beijos, aqueles olhos cheios de desejo, aqueles seios fartos e deliciosos, aquela barriga alva, aqueles arfados que me faziam beirar à loucura... céus!

-Antoinette!

-Eita porra! -Caio da cadeira, vendo os olhos risonhos de Josie por cima da mesa. Levanto do chão, sentindo minha bunda queimar. -O que foi isso?

-Você estava sorrindo feito uma idiota para o nada e ninguém. Quer me dizer o que está acontecendo? Onde você foi parar ontem? -Suspiro, passando as mãos por meus cabelos de forma nervosa.

-Não te interessa.

-Ah, mas interessa sim. -Josie senta na cadeira ao meu lado, cruzando as pernas e roubando um amendoim de minha mão. -Pode ir me contando tudo.

Conto tudo que aconteceu entre mim e a ruiva marrenta. Desde nossos amassos no carro até a hora que precisei ir embora por conta do telefonema urgente dela. Josie me fitava com o semblante chocado, a boca entreaberta e os olhos arregalados, antes de soltar uma risada alta e escandalosa.

-Puta merda, você pegou a diretora dos teus sobrinhos. Você é maluca!

-Eu cometi um erro, isso sim.

-Contexto. -Ela pede.

-Saí feito uma maluca da casa da Blossom, no meio da madrugada. Não deixei recado, nem nada. Ela com certeza deve estar me xingando de todo tipo de coisa agora. -Tremo na base só de pensar.

-Não é isso que você costuma fazer com as modelos com quem passa a noite? O que Cheryl tem de diferente?

Suspiro.

-Não sei. Ela só...me chamou atenção desde a primeira vez que a vi. Não sei bem o motivo, mas não consigo me desprender, não consigo tratá-la como somente mais uma.

-Se não lhe conhecesse, diria que você está apaixonada pela Blossom. -Gargalho alto.

-Você é maluca, Mccoy.

-Aham, vou lembrar disso quando for chamada para ser madrinha do casamento de vocês. -Sinto meu rosto arder em vergonha. -Tem uma nova sessão marcada para às três. Tente não se afundar em lembranças.

-Otária.

Jogo uma bolinha de papel nela antes que a porta fosse fechada e seu riso cessado. Suspiro, novamente relembrando da noite de ontem. As marcas em minhas costas já não ardiam mais, apenas me traziam uma sensação boa da recordação.

Teria que convencer a fera de que não sou uma vadia completa.

Boa sorte para mim.

(...)

Sorrio de lado ao ver Alex balançando as perninhas no ar de forma ansiosa. Com certeza já era pela abstinência dos objetos eletrônicos. Chego de fininho, sentando ao seu lado no banco.

-Tia Toni! Achei que só viesse me buscar depois do balé. Eu estou esperando a professora chegar. -Sorrio, deixando um beijo em sua testa e tirando dela uma carinha totalmente desentendida.

-Isso é por ter gritado com você. Não sou assim, mas sempre tem aquela hora que você acaba estourando, sinto muito por ter sido com você. -Ela sorri.

-Está tudo bem. Nós também não facilitamos as coisas para você. Espero que não esteja com raiva do Tom, a ideia do alho foi minha. -Suspiro.

-Por quê? Por que você tem essa marcação em quem eu saio ou deixo de sair? -Ela fita as mãos em cima das pernas cobertas pela saia xadrez.

-Me sinto no dever de proteger você quando a mamãe não está por aqui. Mama Ronnie sempre disse como era difícil ver a senhora sozinha, sem o tio Fangs e com a vovó e o vovô morando longe. Não queria te deixar na mão, não enquanto elas não estivesse por perto para te ajudar.

-Oh, Alex. Eu não estou sozinha, tenho vocês, meus diabinhos. -Rimos.

-Só não queria que você voltasse a sair com várias pessoas sendo que a diretora Blossom está apaixonadinha por você. -Arregalo os olhos e pigarreio.

-Espera aí, o que você disse?

-Alexis! A professora está chamando você! Hora de se trocar! -Uma menina loirinha chama minha sobrinha que deixa um beijo casto em minha bochecha e sai correndo até onde a outra a esperava. Logo elas caminham para dentro da escola e eu continuo pensando no que ela falou.

A diretora Blossom está apaixonadinha por você.

Não, claro que não. Deve ter sido apenas uma conclusão errada que ela tirou. Afinal de contas, Alex é só uma criança.

Como não aguentava mais me culpar pelo erro de hoje mais cedo, caminho até a sala que já sabia de cor, abrindo a porta sem pedir licença. Blossom pula na cadeira, enquanto me fita com o cenho franzido e o óculos de grau meio borrado pelo frio que fazia ali dentro.

Não consegui não notar o quão sexy ela parecia com aqueles óculos...foco!

-Topaz, o que está fazendo aqui? -Sua voz sai fria, cortante e indiferente.

Linda!

-Não venha com Topaz para cima de mim! -Brado e ela abre a boca para responder, mas não permito. -Preciso me explicar, está bem? Precisei sair correndo da sua casa porque recebi uma ligação dizendo que Tom estava com muita febre. Eu não pensei direito, apenas agi por instinto. Nunca me perdoaria se algo acontecesse àqueles meninos. -Suspiro, fechando os olhos. -Me perdoa se você chegou a pensar que não gostei da noite ou se você acabou se sentindo usada. Eu não sou assim, pelo menos não mais. Você é diferente, Blossom. -Ela continuava me olhando com os olhos meio arregalados e a boca entreaberta. Quando vejo que não receberia resposta nenhuma em troca, apenas viro-me para ir embora, me achando uma inútil.

-Espere! -Paro na soleira, virando-me para ela. -Minha irmã conseguiu me convencer à fazer uma festa de aniversário. Será no sábado, às oito. Se quiser aparecer, você já sabe o endereço. -Tento conter a dancinha da vitória, apenas lançando-a um sorriso satisfeito. Cheryl arruma o óculos e volta a fitar a papelada em sua mesa.

Aquela era minha hora de sair.

Diferente de como cheguei, voltei para casa com o som alto do carro chamando atenção das pessoas na rua, e cantando animadamente uma música que nem lembro mais qual. Nada e nem ninguém tiraria minha animação.

Animação essa que tem nome, sobrenome, cabelos bonitos, um cheiro sensacional e um beijo de tirar o fôlego.

Uma tia nada normalOnde histórias criam vida. Descubra agora