Salvá-la

6.5K 652 25
                                    


— Lauren!

Lauren, então, sofreu novo impacto. Mais uma vez ouviu os sinos da igreja convocando os fiéis, reviveu o choque da bala penetrando em seu peito e a queda lenta em direção ao cobertor macio de neve no chão.

Ela havia sido alvejada... numa tocaia!

Diante da lembrança ela estremeceu, e surgiu em sua mente uma pergunta estarrecedora: estaria morta?

A escuridão invadiu a consciência de Lauren, e a pergunta permaneceu sem resposta.

Confusão organizada era a única expressão capaz de descrever a chegada da ambulância e do carro de Camila ao hospital.

— Como estão os sinais vitais? — indagou a médica ao descer do carro, parado ao lado da ambulância diante da entrada de emergência.

— Ela está aguentando. — O jovem enfermeiro anunciou num tom um tanto admirado, sem desviar o olhar do ferido. — Não me pergunte como, mas ela ficou semiconsciente por um momento. Tentou falar, inclusive. Essa mulher é forte como um cavalo.

Deixando a porta do carro aberta, Camila correu para a ambulância para supervisionar a transferência da paciente do veículo para o hospital.

A porta automática se abriu, e Camila imediatamente começou a transmitir instruções ao pessoal do hospital que esperava com outra padiola. Revelando a estima que ela gozava entre os companheiros, suas instruções foram seguidas com eficiência sem questionamento.

Sem ter notado a radiopatrulha entrando na área de emergência poucos momentos depois, Camila se virou quando sentiu um toque de mão em seu ombro, preparada para repreender. Se conteve, ao ver o uniforme azul.

— Sim, Normani, o que é? — Seu tom traía impaciência.

— Preciso de algumas informações para o meu relatório. — Embora o tom da policial fosse educado, revelava um toque de inflexibilidade.

— Informação? — Camila repetiu num tom de espanto. — Normani, a mulher está inconsciente, quase morta.

— Bem... eu sei, mas... — a policial hesitou quando deparou com o olhar direto e frio dela.

Camila suavizou a expressão do rosto e respirou fundo.

— Ela está sendo preparada para cirurgia. Se viver, você obterá a informação necessária.

— E se ela morrer?

Camila sentiu um frio no estômago diante dessa possibilidade bastante real, mas escondeu os sentimentos.

— Aí você terá uma desconhecida no seu relatório, Normani.

— Certo. — Normani concordou, suspirando.

Seguindo seu instinto, Camila se virou. Dera alguns passos quando outra voz, feminina e ansiosa, a deteve mais uma vez.

— Dra. Cabello, espere!

— Sim, o que é? — ela atendeu, ansiosa.

A recepcionista da Emergência, uma mulher de meia-idade e de aparência aflita, parou num movimento brusco para não se chocar com Camila.

— Tenho de obedecer ao regulamento. Vou preencher o formulário de admissão. — a mulher explicou, ofegante, mostrando os papéis em sua mão. — Preciso de algumas informações da paciente.

Aí Camila perdeu a paciência.

— Não posso lhe dar nenhuma informação sobre minha paciente porque não tenho. — Ela respirou fundo e então continuou, mais controlada: — A mulher está ferida. Morrendo. Tenho de levá-la à sala de cirurgia.

A recepcionista ficou agitada.

— Mas, doutora, há custos! Quem será responsável?

— Eu, pronto! Não se preocupe!

Virando-se, Camila cruzou o corredor, apressada, na direção dos elevadores. Sua expressão severa era suficiente para desencorajar qualquer um que tentasse atrasá-la.

Quando chegou à sala de operação, ela encontrou a equipe a sua espera. Sua irritação deu lugar, em parte, a uma grande sensação de satisfação. Poucos minutos depois, já usando os trajes esterilizados para a cirurgia, estava diante da pia, esfregando as mãos e os braços.

— Onde achou esta paciente, doutora? — uma voz feminina indagou atrás de Camila. — Num estúdio em Hollywood?

Espantada, Camila parou, olhando por cima do ombro para a pequena mulher parada à porta.

— Está tentando me causar um ataque do coração, Allyson?

A mulher sorriu com a familiaridade tranquila de uma longa amizade. Allyson Brooke era a enfermeira-chefe de Unidade de Terapia Intensiva, e a melhor amiga de Camila. Sua aparência pequena e frágil enganava. Allyson era uma verdadeira usina de energia e tão resistente quanto aço temperado, e também a melhor enfermeira com quem Camila já trabalhara.

— Desculpe. — Allyson murmurou, sorrindo sem arrependimento. — A curiosidade me venceu.

— Curiosidade? — Camila franziu a testa. — Por que você se lembrou agora de um estúdio de cinema?

— Já reparou na sua paciente? Parece que ela acabou de sair do cenário de um filme do velho Oeste!

— Ah... sim! É mesmo. — Camila voltou a esfregar as mãos. — A polícia a encontrou estirada na rua com uma bala no peito.

— Interessante. Quem é ela?

— Não sei. A polícia não conseguiu identificá-la.

— Eles têm alguma ideia de quem atirou?

— Segundo consta, não há nenhuma pista. A vizinhança chamou a polícia porque ouviram tiros.

— Cada vez mais intrigante... Será capaz de salvá-la?

— Farei o possível.

— Nesse caso, vou preparar uma cama para a cowgirl.

Terminando de lavar as mãos, Camila sorriu agradecida pela confiança da amiga em sua perícia.

— Nesse caso... — ela anunciou — Mãos à obra!

Faltavam exatamente quinze minutos para as duas da manhã de Natal quando Camila respirou fundo e se aproximou da mesa de operação.






Viajante - Camren GpOnde histórias criam vida. Descubra agora