Lamento

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Lauren estivera ouvindo o murmúrio de vozes, como o zumbido irritante dos mosquitos no verão, durante vários segundos. Não entendera as palavras até ouvir aquela: "anjo".

Ela ainda estava lá?

A pergunta ao mesmo tempo a atormentava e aterrorizava. Lauren temia abrir os olhos e ver o lindo anjo moreno ainda ali com ela...

Tentou erguer as pálpebras e, por um momento, sua visão ficou turva, enevoada. À medida que clareou, ela viu uma mulher de cabelo claro, vestida de branco, murmurando uma despedida, sorrindo ao se virar e se afastar.

Confusa, Lauren manteve o olhar fixo nas costas da mulher até ela se aproximar de outra figura vestida de branco, que chamou a atenção dela. Aquela, uma mulher muito mais alta e de cabelo grisalho, levava algo parecido com uma bandeja, e caminhava em sua direção.

A mulher sorriu para ela com amabilidade ao passar. Lauren tentava forçar os lábios duros e secos para retribuir quando ela falou, a fazendo abandonar aqueles pensamentos:

— Sua paciente está acordada.

Paciente! Acordada? Num instante, Lauren notou que estava deitada numa cama... e não numa nuvem macia.

Seriam anjos aquelas mulheres ou enfermeiras? Se estivesse morta, precisaria de uma enfermeira? Onde ela estava?

Lauren se moveu com impaciência. A dor se irradiou pela parte superior direita de seu corpo.

Então ficou imóvel. Nesse momento, o agradável som da voz de Camila ecoou. Ela estava lá! Aquela voz suave, o seu anjo voltara...

— Como está se sentindo agora?

— Meu ombro dói. — Lauren respondeu, chocada com o som fraco e trêmulo de sua voz.

— Ficará assim por alguns dias. — O sorriso dela era gentil e compassivo. — Vou examiná-la agora...

— Me examinar! O que quer dizer? — Ela estreitou o olhar quando o anjo ergueu as mãos e tocou um aparelho tubular no pescoço. — O que é isso?

— Isso? — O suposto anjo franziu a testa, enquanto instalava as pontas do aparelho nos ouvidos. — É um estetoscópio. Com certeza já viu um antes, não? — Ela arqueou as sobrancelhas, com uma expressão admirada.

— Não. O que se faz com isso?

— Permite que eu acompanhe seus batimentos cardíacos. — ela explicou, demonstrando ao apoiar um disco de metal da outra ponta dos tubos no peito dela.

Lauren estremeceu.

— Está frio. O que você ouve? — indagou curiosa.

— Batidas fartas e saudáveis. — ela respondeu, deslizando o disco para outra parte do peito. — E seus pulmões estão limpos. — Ela sorriu, enquanto tirava o aparelho dos ouvidos. — Aliás, você está melhor do que se esperava.

Lauren teve uma surpreendente sensação de vazio que a confundia. Talvez não estivesse morta, afinal. Uma mulher não tinha necessidades físicas depois da morte... tinha? Tudo sobre sua situação era estranho, ela refletiu.

— Estou com sede e fome.

— Excelente sinal. Vou lhe dar um pouco de água, mas pela comida terá de esperar um pouco. Vão mudá-la daqui a pouco.

— Mudar para onde? Onde estou?

— Numa UTI.

A resposta rápida apenas aumentou a confusão de Lauren. Ela sentiu a própria expressão vazia.

Viajante - Camren GpOnde histórias criam vida. Descubra agora