XXV. A CABEÇA E A DELETORA

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Elliott abraçou Isabelle antes dela dizer “olá”. Os braços deles, antes acalentadores, tornaram-se desconfortáveis ao enlaçar seu corpo.

— Senti tanta a sua falta, meu amor. Tanto.

Isabelle constrangeu-se. O corpo pareceu muito pequeno nos braços do noivo, mas ainda assim ela quis diminuir até desaparecer. O cheiro de Elliott era o mesmo: masculino, amadeirado e forte. Era o cheiro predominante da sala de reuniões que ele ia o tempo todo. Aparentemente os homens de negócios eram apaixonados por perfumes amadeirados. 

Tentou relaxar e aceitar sem muitas objeções o amor que Russell lhe dera, mas soava errado, imoral. Isabelle poderia ter as memórias escassas e confusas; sabia, porém, que não estava agindo com caráter traindo o noivo. 

— Elliott, preciso falar com você. É algo importante.

O homem afastou-se devagar.

— Eu também tenho algo importante pra te dizer. Alguém pra apresentar a você. — Ele mexeu nos bolsos como se tentasse lembrar o que faria. — Vamos comigo até o café que você gosta. Você já comeu?

Ela negou com a cabeça e o seguiu até o ecosport estacionado na casa próxima. Por certo ele tinha comprado um carro novo e dado fim no antigo corolla. 

— Será que tem problema sair sem avisar ninguém? — indagou Isabelle olhando para os lados. — Não estou vendo nenhum policial.

— Acho que não, vai ser rapidinho — disse ele despreocupadamente. 

Entrando no carro, uma mulher de meia-idade estava sentada no banco traseiro. Tinha marcas de velhice no rosto e o cabelo pintado de preto; o rosto muito sério revelava que estava com a mente longe.

— Ah, boa tarde — cumprimentou Isabelle. Russell ligou o carro.

— Amor, essa é Laura — apresentou Elliott sorrindo. — Ela é minha mãe. 

A mulher virou-se para a nora com um sorriso diplomático; Isabelle, por outro lado, abriu a boca em choque.

— Como? Você conseguiu depois de tanto tempo? Que incrível,  Elliott! — ela estendeu a mão para a mulher. — É um prazer conhecê-la, Laura.

— O prazer é todo meu, querida — disse a mulher.

Elliott deu partida no carro.

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Peter foi xingado de quinze formas diferentes em menos de cinco minutos. O Capitão Pollack poderia ser um homem indigesto, mas era criativo. De inútil a irresponsável, o detetive ouviu diversas acusações de incompetência: deveria ter percebido que Stifler não era de confiança, a vigília deveria ser melhor organizada e Elliott deveria estar preso àquela altura. Na TV, o canal de notícias de Missouri apontava atualizações velhas do caso Stuart: o símbolo da Cerquilha estampava os jornais como se fosse pista nova. Era irônico pensar que embora estivessem em uma situação de vazamento de informações, a mídia sabia pouco do caso dos Stuarts.

Não houve tempo para que o Detetive Bane e o Detetive Lawrence revidassem as injustas palavras do superior; os dois, concentrados em seus trabalhos, estavam muito mais preocupados com a segurança de Isabelle.

— A secretária de Elliott disse que ele está de folga. Tentei ligar para o número que ele deixou, mas o celular está desligado. Não há ninguém na casa dele. Elliott está irrastreável. — avisou Roth, respondendo a um pedido anterior de Bane.

Richard coçou a cabeça.

— E agora? O que a gente faz?

— Já tentou rastrear o celular que demos a Isabelle? Ele tem um rastreador próprio — sugeriu Peter.

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