Ferida do passado

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  Chegamos no local do evento e está tudo decorado. Segundo papai, é uma comemoração pela parceria entre a empresa em que ele e Mandy trabalham e uma outra.
   — Nós precisamos conversar com algumas pessoas, se quiserem, podem ir se sentando em uma das mesas. — papai fala, saindo com a Mandy pelo salão cheio de pessoas.
   — Tem uma mesa ali, vem. — Cole me puxa pelo braço.
  Nos sentamos e ficamos aproximadamente uns 5 minutos observando o lugar. É completamente entediante estar ali. Suspiro e levanto-me, prontamente para sair dali.
   — Aonde vai?
   — Pegar comida, oras. Não tem nada para fazer, então, prefiro fazer nada de barriga cheia. — respondo e saio.
  Pego um prato e encaro toda aquela comida que há na grande mesa. Tem frios, salgadinhos, carnes, salada, sobremesas e massas. Como não estou com tanta fome assim, pego alguns queijos, torradinhas com patê  e um pouco de salada. Volto à mesa e peço um refrigerante para um garçom que passa por mim.
   — Refrigerante? É sério? — Cole debocha, olhando para mim.
   — Ué? E daí?
   — Parece até uma criança. — ri.
   — Aaaah, desculpa aí, senhor alcoólatra. — reviro os olhos e começo a comer.
   — Eu quero essa torrada.
   — Vai lá pegar, ué. — ele ignora completamente o que eu disse e pega a torrada do meu prato, enfiando a mesma em sua boca. — Eeei!!! Seu chato.
  Ri da minha cara emburrada e beberica um pouco da bebida transparente que há em seu copo, a qual eu tenho absoluta certeza que não é água. Termino de comer e encosto minha cabeça na mesa, almejando estar logo em casa.
   — Não aguento mais ficar aqui. Vamos sair. — olho sem entender para ele.
   — Sair para onde? Papai e Mandy estão aqui, para de ser maluco. — revira os olhos.
   — Vamos só sair deste salão, acho que tem algum jardim aqui. Vem logo. — sigo ele até a saída.
Enquanto saímos, percebo que ele está segurando uma garrafa desconhecida por mim, quando ele havia pego ela??
— Aqui tá bom. — senta na grama e abre aquela garrafa.
— Que isso? — sento também.
— Jack Daniel's. Relaxa, você vai gostar.
— Não vou beber. Quando e onde você pegou isso?
— Enquanto a gente saía e no bar. — dá um gole. — Ahh, que delícia. Não quer provar mesmo?
— Okay, só um golinho. — entrega-me a garrafa e dou o meu primeiro gole. Sinto aquilo descer queimando.
— Gostou?
— É forte. — bebo mais um gole, dessa vez, mais longo.
— Vê se não exagera na bebida, senão vai vomitar...de novo. — gargalha, fazendo-me corar violentamente.
— Vai se ferrar.
Vejo ele pegar um isqueiro do bolso e um maço de cigarro.
— Sabia que fumar dá câncer? — ele me encara enquanto acende o cigarro.
— E você me dá dor de cabeça. — fala, soltando a fumaça.
— Babaca.
Conversamos e bebemos por bastante tempo, em consequência disso, estamos mais alegres que o normal e rindo absolutamente de tudo.
— Espera, espera...então quer dizer que você perdeu sua virgindade no seu aniversário de 14 anos? E a menina deu para você como presente? — rio alto sem acreditar naquilo.
— Pois é. — ri junto comigo. — Você sente falta do Brasil?
— Sinto. — dou mais um gole na bebida que já está acabando. — Foi lá onde tudo começou para mim e essa vida que eu to vivendo aqui é muito recente, mas eu sei que logo logo vou me acostumar com tudo isso.
  Deitamos na grama e nos viramos um para o outro. Encaro seu rosto admirando cada detalhe dele, ele é surreal de bonito. Ele também me encara, porém, eu estou meio alcoolizada, então não fico com vergonha como geralmente fico quando estou sóbria. Ele me puxa pela cintura, deixando-nos quase colados. Cole vem chegando perto de mim e...
   — O que aconteceu com o seu pai? — pergunto antes de sentir seus lábios nos meus. Izzy, sua burra, perguntasse isso depois do beijo.
  Sinto suas mãos, que antes estavam firmes na minha cintura, ficarem leves e em seguida, retira-as de lá. Acabei com o clima, droga.
   — Eu matei ele. — fala pegando outro cigarro. Demoro um pouco para raciocinar.
   — O QUÊ?? — arregalo os olhos chocada. Ouço sua risada baixa, tranquilizando-me.
   — Você realmente acreditou nisso? — ri mais ainda. — Bom, se bem que não é totalmente mentira. Ele morreu em um acidente de carro quando eu tinha 14 anos. Ia ter um show da minha banda favorita e queria muito ir, mas, naquela noite, estava chovendo muito. Eu insisti para irmos mesmo assim e ele, com pena de mim, concordou. Foi tudo muito rápido, a gente tava na estrada e bum, um carro bateu com tudo.
Ficamos alguns segundos sem dizer uma palavra.
— Ei, não foi culpa s-
   — Enfim, acho melhor voltarmos. — interrompe-me. Ele se levanta e segue para dentro.
  Levanto-me também, andando um pouco atrás dele. Merda, acho que cutuquei sua ferida. Estava tudo indo tão bem...que saaaaco.

{ Horas depois }
  Deito na minha cama e fico pensando na minha conversa com o Cole. Ele se culpa por aquilo até hoje? Me sinto pior ainda por ter tocado naquele assunto. Já são 3 da madrugada e eu ainda não consigo dormir. No carro, papai nos falou que poderíamos faltar no colégio hoje, graças ao bom Deus. Saio silenciosamente do meu quarto e vou até a porta que dá acesso ao quarto do Cole. Abro a mesma sem bater e logo fecho-a.
   — Sabia que entrar no quarto dos outros sem bater é falta de educação? — brinca. Apenas um abajur ilumina o quarto, possibilitando-me de enxergar mais ou menos.
   — Não consigo dormir. — falo e deito com ele em sua cama.
   — Isso foi um convite? — ele sorri malicioso.
   — Não, idiota. — respondo com vergonha. — Só não quero dormir sozinha hoje.
   — Okay, okay. Vou tentar resistir à tentação.
  Abraço ele. De onde eu tirei toda essa ousadia? Sua mão vai até o meu cabelo e começa a fazer um cafuné ali, deixando-me mais confortável ainda. Escuto seus calmos batimentos cardíacos, não demorou muito para eu cair no sono.

{ Dia seguinte }
  Acordo com o sol na minha cara. Abro meus olhos e... Estou no meu quarto? Vejo o horário e são 14:00 horas. Vou ao banheiro fazer minhas higienes, pego uma roupa qualquer no closet e desço para a cozinha.
   — Bom dia, Bela Adormecida. — Cole zomba de mim.
   — Boa tarde, né? — bebo um copo de água. — Como eu acordei no meu quarto?
   — Eu te levei lá. — faço uma cara confusa. — Acho que seu pai não ia gostar de ver sua filhinha querida na cama de um homem.
   — Ahh, faz sentido. — sinto minhas bochechas esquentarem.
   — Coma logo, a gente vai sair.
   — Para onde?? — questiono curiosa.
   — Vamos à praia com o pessoal. — sorrio animada. — E o Nate já chamou aquela sua amiga lá.
   — Mas hoje é terça...
— E daí? — sorrio mais ainda com o seu desinteresse e concordo com a cabeça.
Mandei mensagem para as meninas virem aqui em casa para irmos juntas. Estou super ansiosa. Seria a minha primeira vez indo à praia daqui! Nada poderia estragar o meu dia. Ou poderia?

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Quem me dera fosse só um "irmão"Onde histórias criam vida. Descubra agora