Lucas sentiu o suor escorrendo pelas têmporas. Sentiu-se imbecil por ter imaginado que ali dentro teria algum tempo. É claro, iriam reconhecer que sua face era provavelmente a mais distante possível da de Theo Garlan. Mas, esperançosamente, ocorreu-lhe que não seria confrontado tão de imediato. Queria manipular, pensar, se infiltrar. E, agora, tudo estaria perdido.
Tinha caminhado de boa vontade em direção à morte.
- Alguém aqui... poderia confirmar, por gentileza, o que a senhora Lorna Thiegan acabou de afirmar agora? - a voz de Meridan era surpreendemente calma e educada. Mas a mão dele no queixo de Lucas apertava; as pontas das unhas enterrando-se na carne.
Um dos membros do conselho levantou a mão.
- Sim? - indagou Meridan.
- Não, senhor. Sinto muito. Este não é Theo Garlan. A menos que as feridas tenham desfigurado o rosto dele por completo... p-posso afimar. C-com certeza. Não é ele. - O homem gaguejava de medo, sem ao menos levantar o rosto. O companheiro à sua esquerda também levantou o braço e comunicou:
- O que ele diz é verdade, senhor. Garlan, antes de chegar à posição de prestígio como assistente direto de Viktor Thiegan passou pelo meu departamento. Economia. Sabia das finanças de Cefurbo. Líder nato. E esses olhos... não são dele. Cabelo demais, pode apostar. Senhor, não é ele, sinto muito.
Meridan soltou o queixo de Lucas com violência. O rapaz sentiu as pernas levemente bambas. Estava definitivamente encurralado. Percebeu o comandante Zion dando um passo à frente e gritando, como sempre:
- BLASFÊMIA! COMO OUSAM DUVIDAR DA CAPACIDADE DA MINHA EQUIPE EM CAPTURAR E IDENTIFICAR UM PRISONEIRO? COMO OUSAM DUVIDAR DA MINHA AUTORIDADE?
Gesticulava com tanto fervor que acabou esbarrando em Lucas, que foi obrigado a dar um passo para trás para evitar um novo golpe. Afinal, ele ainda estava preso pela corda de Zion, que não a soltara e agora a apertava com força descomunal.
- CALADO. - era a primeira vez que Meridan realmente mostrava-se nervoso. Lucas notou que sua pele pálida agora estava manchada de vermelho na testa e nas bochechas. O sangue lhe subia. - Saia daqui, Zion.
- MAS, SENHOR, EU NÃO POSSO ADMITIR...
- SAIA DAQUI, ZION. Não me faça mandar novamente. Cuidamos de você depois. Vá para minha sala e fique lá.
O comandante, como uma criança mimada, bateu as botas no chão. Mas, em seus olhos, não havia simplesmente um olhar magoado. Era puro ódio. Lucas sentiu os pelos da nuca se arrepiarem. Zion saiu da sala.
Agora, finalmente, todos os olhos assustados dos membros do conselho o encaravam perplexos. Conseguira, ao menos, desmoralizar Meridan. Mas sabia das consequências.
- Chamem os guardas para mim. Eles vão prepará-lo para morrer. Independente de quem seja, jamais sairá vivo dessa. Os eventos prosseguirão! Vocês estão dispensados.
Lucas, com as mãos atadas, mexeu-se desconfortavelmente. Todos se levantaram e começaram a se retirar. Dois guardas vieram buscar-lhe, e, quando saía da sala escoltado e novamente com o capuz no rosto, pode escutar a voz de Meridan.
- Senhorita Lorna, por favor. Gostaria que ficasse por mais alguns instantes. Depois de tanto tempo isolada, espero que entenda que preciso fazer-lhe algumas perguntas. Afinal, a menos que tenha recebido visitinhas regulares do verdadeiro Garlan, não posso imaginar como o conheça. Não, não, Vernon. Você está dispensado. Quero falar com a moça... a sós.
Lucas rezou mentalmente por ela no caminho de volta para a cela.
*
![](https://img.wattpad.com/cover/24219799-288-k159451.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Crônicas da Nova Era - A Revolução
PrzygodoweLIVRO 2. Seja pelos pais ou por respostas, a busca de Artur ainda não terminou. Agora, porém, ele não está mais sozinho: conta com a ajuda de alguns amigos para alcançar o que deseja, e também para desestabilizar a implantação de uma Nova Era em seu...