Capítulo 2 - Artur

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Tão curto foi o tempo em que Artur ficou cara a cara com Lucas; mais curto ainda foi o tempo que os guardas levaram para separá-los. Ao mentir o nome do amigo, quase que de imediato Artur foi retirado da sala de julgamento por um guarda, mas não sem observar que o rapaz fora levado pessoalmente pelo comandante Zion por uma porta localizada ao fundo do ambiente.

Não demorou a ser atirado sem explicações na pequena salinha apertada onde tinha ficado por algumas horas ao chegar na Central. Estava sozinho novamente, mas agora, cheio de gás e energia para esmurrar a porta e gritar. Foi isso o que fez até que o sangue de suas juntas manchasse a porta e um guarda irado viesse acudi-lo, não sem antes estapeá-lo. 

- Fica quieto, pirralho! Você já está ferrado o suficiente, não precisa desse escândalo todo pedindo para morrer. Isso vai acontecer quando você menos esperar.

Artur limpou o sangue do nariz com a gola da camisa, anotando mentalmente que era do pai e que deveria ser limpa tão logo pudesse chegar em casa. Um pensamento bobo, talvez, mas que estava sempre presente independente da sua situação. Seu pai, sua mãe, casa, e nem mais um segundo daquele terror. 

- O que é que você quer, hein? Você não pode ver seu amiguinho Garlan. Aquele traidor do governo está nas mãos do Comandante Zion. As providências para enviá-lo diretamente para Cefurbo estão sendo tomadas neste momento e você não pode fazer nada. Na-da.

- Cefurbo? - Artur espantou-se. Não era exatamente essa sua intenção. Imaginou que Lucas seria poupado ao ser confundido com Theo Garlan, mas que ficaria para ser investigado ali mesmo na Central, perto dele, ainda que fora do seu campo de visão.

- É, moleque, Cefurbo. - O guarda olhou para um lado e para o outro, do lado de fora da sala. Aparentemente, não avistou ninguém. Sendo assim, entrou para dentro da sala e fechou a porta. Artur estava de pé a um canto, a roupa suja de sangue e as costas pregadas na parede. Achou que o guarda pudesse agredi-lo de novo e tentou ficar na defensiva.

- Veja bem, - prosseguiu ele. - eu me compadeço da sua situação. Você é só um menino. Mas aqui, estamos trabalhando para uma causa maior. Você acha mesmo que não capturamos outros caras que confundimos com Garlan? Na Central, nunca tivemos contato com ele, não sabemos ao certo como ele é. Nem o Comandante consegue identificá-lo com precisão, ele era um funcionário do governo e era lá que ele permanecia. Sempre o procuramos, é óbvio, mas estávamos às escuras. Pense em quantos jovens já matamos pensando que era Theo Garlan. Aprisionamos todos antes, é claro, mas quando vimos que não era ele, já era tarde demais; foram direto para o Abate. É Meridan quem vai conseguir identificá-lo e definir o que fazer com ele. Acontece que, no momento, ele está ocupado com outras questões mais sérias e não pode vir até aqui fazer isso. Então, temos que levar aquele rebeldezinho de meia tigela até lá. Entendeu? Eu nem sei porque eu estou te dando satisfações. Deve ser porque você não passa de uma criança e eu tenho pena do que sobrou para você.

Assimilando as informações recebidas (lembrou-se nesse momento da morte de Viktor Thiegan e supôs que a isso deviam-se todas as ocupações do tal suplente), Artur questionou:

- E o que sobrou para mim?

- Ficar aqui, é óbvio. Estão decidindo se te eliminam ou se conseguirão extrair mais algumas informações com alguma tortura. Se forem bons, ainda podem te deixar aqui e delegar serviço pesado em algum setor. Você é um pirralho, mas tenho certeza de que ainda consegue fazer alguma coisa que preste. Mas prepare-se, porque o seu destino aqui não vai ser dos melhores. É o que posso fazer para te consolar. Foi mal, moleque. Mas a Nova Era é assim: rígida. Imagine só o que vão fazer com os rebeldes lá fora. Já estão se formando aos montes, dizem. As falhas do rastreador atrapalharam todos os planos iniciais. Talvez seja melhor que você morra mesmo e não participe de mais nada que está por acontecer. E, se houver vida depois dessa, você volte em um mundo melhor.

Artur sentou-se no chão e analisou suas opções, sob o olhar desconfiado do guarda. Ali, na Central, talvez ele tivesse uma centelha de chances de encontrar seus pais. Alguma coisa em seu coração deixava-o com plena certeza de que ambos estavam vivos e muito perto deles. Porém, não conseguia desprender-se da ideia de que Lucas jamais poderia ficar sozinho em uma situação dessas, tendo sido ele próprio quem o colocara nessa posição crítica. Com o coração disparado, torceu para o que o amigo confirmasse a história e entendesse todo seu propósito. Que tentasse se salvar fosse aqui, fosse em Cefurbo. 

- Eu acho que talvez seja melhor mesmo que eu fique por aqui. - Artur decidiu sua escolha, por descuido, em voz alta.

- Como é que é?

O menino sobressaltou-se. Esquecera-se da presença do guarda, perdera-se em suas conclusões. Mas quão pior tudo aquilo poderia ficar? Ele duvidava que fosse muito. Agora já tinha resolvido que, para o seu bem, era melhor mesmo abraçar o destino com todas as suas forças. Respondeu:

- É isso mesmo. Prefiro ficar aqui, na Central. E ver o que estão reservando pra mim.

- Não que você seja digno de alguma escolha, moleque. Vão te jogar onde acharem melhor. Não vejo porque você desejaria ficar aqui de qualquer forma... A menos que... Como é o seu nome mesmo? 

- Artur.

- Artur. - repetiu o guarda. - Hm. Bom, não tenho mais motivos para me demorar aqui. Passe bem. Se quiser tirar uma água do joelho, grite, mas sem esmurrar as portas dessa vez. Muito embora eu acredite que você não terá motivos pra isso, de qualquer forma, visto que as ordens são te deixar sem água e comida até segunda ordem. - E saiu da sala, deixando Artur solitário na sala horrivelmente vazia.

Crônicas da Nova Era - A RevoluçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora