Quando Raelene ouviu a mulher presa na sala ao lado gritar ao ser arrastada a força para o lado de fora, agradeceu mentalmente por não ter sido ainda a sua vez. Já havia percebido que quem saía ali dessa maneira, nunca voltava.
Entendia tão pouco de onde estava! Sabia que era algo como uma prisão, que pessoas, além de guardas, trabalhavam ali, e que tudo aquilo fazia parte de alguma grande determinação governamental. Das poucas vezes em que pedira informações, recebia algum tipo de agressão, física ou psicológica, e era deixada em completa ignorância.
Percebia, conforme suas condições de saúde permitiam, que havia algum fluxo de pessoas que entravam e saiam daquele lugar, e que eram encaminhadas a diferentes locais ali dentro. E, é claro, já tinha entendido há muito tempo que se não saísse logo dali, morreria.
Não sentia mais suas pernas e se perguntava se algum dia voltaria a andar, ou abandonaria essa vida antes disso. Quando o último guarda que a visitara mencionara algo sobre a captura de garotos, o coração de Raelene bateu em esperança, mas ela já havia abandonado essa ideia. Era melhor que seu filho nunca, nunca mesmo, chegasse até aquele lugar terrível. Rezava para que ele tivesse encontrado um destino melhor que o dela.
Pela fresta da porta, depois de algum tempo, Raelene viu um peso morto ser arrastado por guardas, que passavam com suas botas pretas e brilhantes a passos rápidos. Ouviu algo como "tem que ser incinerado" e "livrem-se disso o mais rápido possível". Supôs (corretamente) que aquela era sua vizinha. Caiu em um sono inquieto e novamente acordou com as roupas sujas com suas necessidades. Aquela situação estava ficando insustentável. Gritou, porém, não foi atendida de imediato.
Só depois de muitas horas vieram acudi-la, duas enfermeiras, o que lhe causou estranheza, e dois guardas para acompanhar. As mulheres não ousavam encará-la e muito menos responder suas perguntas. Um guarda a estapeou como forma de silenciá-la. Foi carregada nos ombros de um guarda até uma sala particular; foi despida, limpa e enfiada em um horroroso macacão cinzento, bem maior que ela, mas que finalmente deu-lhe um pouco mais de conforto. Depois, foi informada pelo outro guarda:
- Você será apresentada ao Comandante Zion, junto com alguns outros prisioneiros. Seja esperta e só abra a boca quando se dirigirem a você. Se é que sua boca estará disponível para ser aberta.
Raelene assentiu. O medo tomou conta dela.
*
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Crônicas da Nova Era - A Revolução
AventureLIVRO 2. Seja pelos pais ou por respostas, a busca de Artur ainda não terminou. Agora, porém, ele não está mais sozinho: conta com a ajuda de alguns amigos para alcançar o que deseja, e também para desestabilizar a implantação de uma Nova Era em seu...