O interior da van era úmido e tinha cheiro de mofo. Porém, lá dentro havia tudo o que precisavam no momento: água, carne seca dentro de pães (um pouco duros, é verdade, mas era comida) e materiais para primeiros socorros.
Mesmo visivelmente debilitada, Anele limpou o ferimento de Lucas e fez o melhor que pode para ajeitar um curativo. Ele sorria, agradecido, e Artur sabia que era mais pelo prazer em ver-se reunido a ela e Makai novamente do que pelo alívio momentâneo da dor.
A estrada parecia bastante irregular, devido aos sacolejos que os ocupantes da velha van ocupavam. Artur trombava no braço de Lucas a todo momento, mas ainda assim as sacudidelas não foram suficientes para impedi-lo de comer pelo menos três pães com carne. Todos pareciam famintos e cansados, mas um pouco mais recompostos por estarem reunidos.
Anele e Makai distraíram o grupo contando tudo o que havia acontecido desde que tinham se separado involuntariamente de Lucas e Artur. O garoto ficou impressionado ao saber de tudo o que passaram.
- É por isso que Anele está assim - explicou Makai - Fraca e adoentada. - A luta contra os três guardas antes de encontrarmos Theo e os outros não foi fácil. Tenho que admitir, apanhamos muito antes de conseguir fugir. Mas posso garantir que aleijei pelo menos um!
- Eu mal posso acreditar que estou viva - murmurou a menina, os fios loiros caindo sobre os olhos, como se quisessem esconder todas as coisas horríveis pelas quais haviam passado.
Artur não pôde deixar de reparar no silêncio que dominava todos os membros d'O Bravo Manifesto. Sem Theo, pareciam deslocados e bastante enfraquecidos. Comeram, beberam, mas ali, espremidos, não demonstraram nenhuma outra reação. A moça de olhos claros, em especial, parecia a mais tristonha dentre todos.
Portis era quem dirigia a van, e foi ele quem abriu a porta lateral do veículo quando finalmente estacionou. Seu rosto era sombrio, e Artur tremeu. Em sua mente, sempre repetia: até quando? Até quando?
Um por um, desceram do carro, reunindo-se na frente de uma casa. A rua estava deserta, mas o ar transmitia uma certa urgência: as coisas não ficariam assim por muito tempo.
Amontoados na frente da moradia, confiando que as sombras da noite os escondiam, o grupo esperou, até que repentinamente Portis assoviou. Não era um som alto e fino, mas algo que parecia o pio musical de um pássaro. Parecia ter sido feito unicamente para determinados ouvidos.
Em questão de segundos, a porta de madeira da casa se destrancou.
- Entrem - ordenou Portis, em voz baixa - Fiquem quietos até que alguém venha buscá-los. Eu preciso me livrar do carro e depois me juntarei a vocês novamente.
Artur não pode deixar de pegar na mão de Lucas enquanto se encaminhavam novamente para a escuridão completa.
*
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Crônicas da Nova Era - A Revolução
PrzygodoweLIVRO 2. Seja pelos pais ou por respostas, a busca de Artur ainda não terminou. Agora, porém, ele não está mais sozinho: conta com a ajuda de alguns amigos para alcançar o que deseja, e também para desestabilizar a implantação de uma Nova Era em seu...