Capítulo 18 - Theo

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Theo Garlan cavalgava o mais rápido possível pela estrada que levava a Cefurbo. Sabia muito bem para onde Lorna tinha ido. Mal podia acreditar que seria necessário acelerar o plano de entrada na cidade. Por que Lorna fizera aquilo? Se tivesse esperado, todo o programa traçado por Moran poderia ter sido repassado e executado da maneira correta. Agora, teria que ser posto em prática no calor do momento. Esperava que os outros estivessem no mesmo ritmo que ele.

Maldita.

Ao se aproximar da fronteira de Cefurbo, Theo viu ao longe a silhueta de um cavalo e sua montaria cercada por alguns guardas que apontavam diretamente a ela. Lorna, deduziu. Acelerou sua própria cavalgada, porém, em determinado momento, já muito perto de onde ela estava, um alarme começou a soar e um anúncio metálico soou, seguido por uma sirene altíssima.

- ATENÇÃO, INVASOR. ATENÇÃO, INVASOR. ATENÇÃO, INVASOR.

Em seguida, uma voz feminina, no mesmo tom da anterior, avisou:

- PARE AGORA OU VÃO ATIRAR. 

Theo desacelerou o trotar do cavalo, parando aos poucos. Sentiu o suor escorrer pelas têmporas. Equilibrando-se levantou os braços em sinal de rendição. Outro grupo de guardas veio até ele saindo das laterais da estrada, marchando. Cercaram-no com mãos apontadas. Lorna não se virou para vê-lo.

- Nossa equipe principal está em processo de abordagem. - disse um dos guardas, indo até ele com uma arma apontada - Quem é você? 

- Eu preciso entrar em Cefurbo - disse Theo com firmeza - porque vim acompanhar a cerimônia de despedida de Viktor Thiegan.

- E de onde vem? - retrucou o guarda, desconfiado, sem abaixar a arma.

- Da primeira vila a norte de Ponta Quebrada. Meu pai mora aqui. Gostaríamos de prestar as últimas homenagens a Viktor Thiegan. Mas briguei com minha irmã no meio do caminho. É aquela ali. Veio na frente e arrumou encrenca. Por favor, peço que me autorizem a entrar e levá-la para que não cause mais transtornos. 

Theo tentava soar confiante e determinado, sem deixar a sua voz tremer nenhuma vez. O guarda pediu que ele aguardasse um pouco, ainda sob a mira de diversas armas, e dirigiu-se até o líder do outro grupo que cercava Lorna. Trocaram algumas palavras. O homem, que era corpulento e tinha um denso bigode preto, voltou e informou Theo dos procedimentos, com uma voz calma e novamente apontando um revolver comprido para o rosto dele.

- Sua irmã forneceu um nome falso para a checagem. Ela vai ficar detida. Você pode passar, caso informe dados válidos. Do contrário, terá o mesmo destino que ela, camarada. De qualquer maneira, vocês estão cercados.

Droga. Ela fez uma besteira pior do que eu imaginava que seria possível. Que bom que o plano vem a calhar. Só preciso sincronizar o tempo, agora.

- Há alguma maneira de tirá-la disso? - perguntou Theo - Tenho certeza de que ela estava nervosa e tentou criar confusão. - tentou transmitir preocupação, o que não era muito distante do que realmente sentia no momento - Ela tem... alguns problemas, sabe? Uma condição mental afetada. Talvez eu possa me explicar para os outros.

O guarda fungou, tentando analisar a situação. 

- As regras são rígidas, rapaz. Mas diga um nome válido e eu vou analisar a sua situação, se o que você diz sobre ela ser louca é verdade.

- Portis Hagar, é o nome do meu pai. Departamento de limpeza interna do governo.

O nome do pai de Moran. Infiltrado, aliado. Tem que dar certo. 

A informação foi berrada pelo guarda. Theo aguardou ansioso, contando números desgovernadamente em sua mente tentando calcular o tempo correto.  Um apito agudo soou duas vezes, seguido de um som musical, como uma flauta.

- Aprovado. - respondeu o guarda. - Informe seu nome.

- Moran Hagar. - informou Theo, sem hesitar. Ainda gostaria de conversar com Moran como conseguira ser tão discreto e cuidadoso em relação a sua identidade e participação n'O Bravo Manifesto. Não que fosse adiantar para ele a esse ponto, afinal. O mesmo apito e o mesmo som musical ecoaram novamente, depois que o guarda repetiu o nome em voz alta. 

- Autorizado. Mas como a sua... irmã, está criando problemas, vamos até lá primeiro. Desça do cavalo e não faça movimentos bruscos. Continue de mãos para o alto depois.

Theo obedeceu. Dali para frente, se o restante do grupo não agisse, ele não saberia mais como proceder. Foi escoltado até Lorna, que não ousou olhar para ele por sequer um momento. Mas ele viu que seus olhos estavam marejados de lágrimas. O guarda principal que apontava outro revólver pontudo para ela, manifestou-se:

- Por que a sua dita irmã não forneceu o mesmo nome que você para fiscalização? - perguntou bruscamente. Agora, os dois grupos de guarda os deixavam fortemente cercados. 

- Ela tem um problema mental. - disparou Theo. Lorna olhou para ele com o canto do olho. - Confunde nomes e há muito tempo está esquecida de quem sou e de quem nossos familiares são. É por isso que nos mudamos de Cefurbo; ela causava problemas em um local tão grande, se perdia e tudo mais. 

- Certo. Então, última checagem. Qual é o nome dela? 

- Marian Hagar.

Moran não tem uma irmã chamada Marian. Moran não tem nem mesmo uma irmã. Onde estão eles? 

- MARIAN HAGAR! - gritou o guarda.

Um apito agudo. Dois. Theo não ousou respirar em alívio, porque logo veio o terceiro apito e um som como de um animal selvagem. 

- MENTIROSOS! - berrou o guarda, com os olhos furiosos e maníacos girando nas órbitas - ATIREM NELES!

Theo estava preparado para sacar todas as armas possíveis escondidas e protegidas sob o casaco. Ouviu o barulho de gatilhos a postos e sabia que não resistiriam àquilo. Mas então, como que por milagre, veio em salvação. 

BOOM! Uma explosão que fez com que eles cambaleassem; alguns guardas caíram no chão com o impacto e a formação foi desconcentrada. Theo segurou-se no cavalo e em Lorna, para não cair, mas foi em vão, já que o cavalou relinchou com vontade. Lorna, pelo menos conseguiu se equilibrar, mas o bicho estava enlouquecido e correu pisando na perna de um guarda que estava no chão. Era o louco que ordenou que atirassem neles. Ele berrou de dor, deixando a arma cair no chão. Lorna tentava acudir o cavalo. Mas não deu tempo de ninguém se recompor. Um grupo de outros guardas ensanguentados corria até eles gritando:

- ATAQUE! ATAQUE AO LADO LESTE! VAMOS! RÁPIDO! EM MARCHA!

O grupo de guardas não pensou duas vezes. Um ataque com explosão era mais ameaça que a dupla de jovens tentando entrar em Cefurbo. 

- NÃO! - berrou o guarda com a perna machucada, no chão. - ALGUÉM TEM QUE CUIDAR DELES!

Mais guardas brotavam de todos os lados, indo em direção ao ataque. A fumaça preta já subia alta e ouvia-se som de gritos. Theo já tinha providenciado a montaria, atrás de Lorna, no cavalo enlouquecido. Nunca fizera algo tão difícil e admirava Lorna conseguir se manter ali por tantos minutos. Quando sentiu-se seguro, sacou dois facões do casaco. Infelizmente, alguns poucos guardas deram ouvidos ao louco no chão. Enlouquecidos, atiravam a esmo.

- PRA FRENTE! - gritou Theo para Lorna, rasgando o rosto de um guarda que se aproximara deles com uma arma - RÁPIDO! 

Ela colocou-se em disparada. A confusão era enorme. Theo acertou mais alguns homens com violência, mas já estavam nas terras de Cefurbo. Foi aí que aconteceu.

O barulho de um tiro, em direção a eles. Algum guarda estava sendo bem sucedido. Theo olhou para trás e viu um único guarda mirando um daqueles revólveres compridos para eles. Não teve tempo de voltar à sua posição inicial, pois uma dor intensa ardeu em seu ombro.

Tinha sido atingido. 

Crônicas da Nova Era - A RevoluçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora