Capítulo 8 - Artur

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Artur foi levado novamente a Zion, na mesma sala onde estivera antes. A diferença é que o público que tanto o intimidou já havia deixado o local, e agora ele estava sozinho com o comandante, apenas supervisionado por alguns guardas.

- Em alguns minutos, seu amiguinho e eu estaremos a caminho de Cefurbo. Porém, para colaborar, ele fez uma exigência: que você fosse levado junto. Não que ele possa pedir muito, morrerá de qualquer maneira. Mas queremos informações, e ele disse que não diria nem sob tortura, a menos que você estivesse junto. Não vamos dar cabo nele sem obtê-las. Portanto...

- NÃO! 

Não poderia ser. Artur assustou-se com o pedido de Lucas, ele não poderia querer algo assim sabendo o quanto fora difícil chegar ali, o mais próximo possível de seus pais. Zion ficou imediatamente desconfiado do grito em negativa dado pelo menino, por impulso, porém, recebeu aquilo com um sorrisinho no rosto.

- Não? Hm. Muito bom. E por que não?

Pense, Artur, pense.

- Eu... estou com medo e eu me sinto mais seguro aqui, na Central. Onde eu possa colaborar com o governo.

- Então agora o pirralho quer colaborar com o governo. Aham. Ótimo, vamos começar agora. - Zion caminhava de um lado para o outro, e Artur estava ficando tonto. Abaixou o olhar para recobrar a concentração e ficar atento ao que viria. As botas de Zion produziam um som que ecoava alto dentro da sala e o incomodava. Seu coração batia acelerado no peito, mas agora, sem a presença de tanta gente para assistir, ele sentia-se mais encorajado.

- Descobrimos alguns registros na Central com o seu nome. Artur, não é mesmo?

- Sim, senhor.

- Coisas que alguns de nossos... internos, deixavam escapar quando chegavam aqui. É claro que você não é o único Artur nesse mundo, uma pena. Contudo, trouxe aqui o responsáveis por terem tocado nesse nome idiota em algum momento. Se você reconhecer alguém aqui, ficará e vai colaborar conosco contando o máximo possível de coisas sobre o mundo lá fora, do jeito que nós decidirmos, é claro. Vamos fazer uma brincadeirinha.

Artur sentiu um fio de excitação percorrer seu corpo. Ficou surdo à menção de "uma brincadeirinha", porque a possibilidade de ver os pais varreu para longe a imagem da mulher tendo os pés cruelmente queimados bem na sua frente. Levantou a cabeça e viu que Zion fitava, os olhos tão excitados quanto os dele deviam estar.

- Venha aqui, moleque. - Artur hesitou. - Ande. Aqui. 

Com as pernas bambas, ele chegou perto de Zion, que o pegou pelos ombros posicionando-o de frente para uma bancada de madeira clara e polida. 

- Vê a bancada? As pessoas vão passar ali atrás, parar por alguns minutos e você vai me dizer se você conhece, ou se têm alguma ligação. Estamos entendidos? - Artur fez que sim com a cabeça. Poderia segurar o coração com as próprias mãos através da pele, tão forte ele batia. O peso das mãos de Zion ainda estavam sobre ele, como se o prendessem no chão. 

- GUARDAS! Tragam o primeiro. 

Um senhor de barba rala e branca foi trazido à sala, algemado e amordaçado, por um guarda. Eles posicionaram-se conforme a orientação de Zion, que indagou:

- Conhece esse homem, Artur?

- Não. 

- Choque.

Artur demorou um tempo para entender o que havia acontecido, já que o velho soltou um grito dolorido e desesperador, desfalecendo em seguida. O guarda estava com um pequeno cilindro metálico em mãos, o responsável pelo choque dado no senhor sob ordens expressas do comandante. Artur levou a mão à boca e, chorando, tentou se aproximar da bancada, mas as mãos de Zion não desgrudaram dos ombros dele por um momento sequer. 

- Entendeu, pentelho? É só pra garantir que você não vai mentir para mim. Agora que você sabe o que acontece com quem você não conhece, tenha certeza de que vai fazer a coisas certa com quem você conhecer.  PRÓXIMO!

O guarda saiu arrastando o senhor ainda desacordado pelos braços, dirigindo-se a uma porta nos fundos, a mesma por onde Lucas havia sido levado. A próxima pessoa a ser trazida por um novo guarda, era uma garota loira, de aproximadamente dezoito anos, que fez com que Artur se lembrasse dolorasamente de Anele. Onde será que ela e Makai estavam, a essa altura? Esperava que em um lugar melhor que ele. 

- E essa menina, moleque? Sabe quem é?

Se respondesse que não, Artur sabia o que aconteceria. E se fosse Anele ali, naquele momento? Os olhos da menina mostravam um enorme pavor.

- SIM! - gritou Artur. - Ela é... Lauren. Era... filha... de um vizinho. Sr. Mirven, é esse o nome dele. - tentou soar confiante entre fungadas e lágrimas que ainda escorriam. 

- Ah, é? - perguntou Zion, cínico. - CHOQUE.

Artur gritou novamente, quando a menina foi atingida no braço pelo guarda, com o mesmo cilindro de metal. Ela deu um muxoxo de agonia e também caiu no chão, sendo arrastada em seguida. 

- EU DISSE QUE EU A CONHECIA! EU DISSE! PRECISAVA TER FEITO ISSO? PRECISAVA? 

 Zion pegou Artur pelo braço bruscamente e agachou-se ao lado dele. Ficaram frente a frente. Artur tremia de medo e, quando Zion falou com ele, expeliu gotículas de saliva em seu rosto deixando-o ainda mais enojado. Parou de chorar com o susto.

- Você tem que entender uma coisa, garoto - as mãos do comandante apertavam seus braços com força - Você não vai, e o mais importante, NÃO PODE - ele fez uma pausa e abaixou a voz - salvar todo mundo que está aqui. Estamos entendidos?

O menino assentiu com a cabeça, sentindo as lágrimas secas repuxarem em seu rosto. Zion levantou-se e posicionou-se como estavam antes. As duras mãos nos ombros de Artur fizeram-no sentir raiva, agora. A menina e o guarda já tinham desaparecido de lá.

- PRÒXIMO! - berrou Zion. 

O coração de Artur parou e lágrimas lhe cegaram por um momento, porém, não caíram. Milagrosamente, ele conseguiu se conter. Uma cadeira de madeira escura foi arrastada. Com mãos amarradas, os olhos vermelhos e a boca amordaçada, estava sua mãe. Ela ainda estava com a cabeça baixa quando a viraram para Artur que, novamente, levou as mãos à boca. 

E, quando eles se encararam, os olhos da mãe em desespero e reconhecimento foram logo silenciados pelo gesto dele, que disfarçadamente levou o dedo indicador aos lábios pedindo silêncio, formulando em seguida a palavra fatídica sem emitir um som sequer:

- Desculpe. 


Crônicas da Nova Era - A RevoluçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora