*Leiam as notas finais
Acordo meio perdido sem saber onde estou, olho em volta, a decoração parece familiar, apesar de ser estranha, aos poucos vou me lembrando, do filme, do papo com o Ricardo, do meu pai. Uma palavra tão simples, mas que carrega um peso enorme, e um significado maior ainda, algo que tanto sonhei em ter, um pai, quantas festas na escola nos dias dos pais passei sozinho, triste no canto, podendo contar apenas com a minha mãe e minha vó, pensar nelas me dói, saber que estou sozinho no mundo, sem minha base, minha referencia. Ela fizeram tudo que podiam para suprir a necessidade de um pai.
Sempre que perguntava para minha mãe desse assunto ela desconversava, mudava de assunto, e nunca respondia, com o tempo parei de perguntar. Eu via nos olhos dela o medo e a angustia, quando tentava falar com ela sobre isso. Ver meus amigos com um pai, uma referencia masculina, eram nesses momentos que me doía, e que um vazio aparecia, não posso necessariamente dizer que sentia falta, afinal, nunca tive um, era mais como uma peça de quebre-cabeça faltando.
Na minha visão precisava apenas de uma resposta dela, sendo negativa, ou não, para preencher, seja o motivo do abandono, ou porquê nunca o conheci, quem era ele? qual o seu nome? Essas coisas, para dar um sentido, um sentimento. Mas saber que nem uma das minhas alternativas era a verdadeira, doeu, saber que eu tenho um pai, que quis me conhecer, que sempre teve esse sonho, mas que foi privado de viver isso.
Dói não poder odiar, me revolta quando toda vez que olho para ele só vejo amor em seus olhos, e expectativa. Como posso ser tão parecido com ele? É como me ver no futuro. Sempre me achei diferente da minha mãe e avó, ou da minha família materna no geral, sempre procurei algo, algum traço que mostrasse nossa semelhança, já até me questionei se era adotado.
Agora eu sabia de onde vinha tudo, quando o vi aquele dia na casa do seu José, de alguma forma eu soube, não havia como negar, eu era uma cópia ambulante dele.
Mas largar tudo, minha vida, estabilidade que desde a morte da minha mãe não era muito, porém pelo menos era tudo familiar e menos assustador. E eu tinha ela, Beatriz, minha namorada, meu primeiro amor, estudamos juntos desde sempre, e assim que ganhei confiança, não pensei duas vezes e a pedi e namoro, e para minha total felicidade, ela disse sim. E apesar da nossa pouca idade, ela esteve lá comigo quando precisei, primeiro com minha mãe, e depois com minha avó, segurou minha mão, foi o ombro onde chorei minha dor e contei meus medos.
De tudo, esse afastamento, da unica pessoa que me restava, do meu ponto de alegria, é o que me dá mais medo no momento, saber que posso perde-la, que nosso namoro pode não forte o suficiente, nem maduro o suficiente para resistir a distância, por mais que tenhamos passado por tanto, em tão pouco tempo, estávamos lado a lado. E agora, eu estou aqui, em outro estado, e sozinho.
Com dois estranhos, entretanto, ligado pelo sangue por um deles. Eu vejo o amor neles, nos detalhes, em cada gesto, de certa forma é estranho para mim, mamãe nunca namorou ninguém, pelo menos que eu saiba, ou lembre. É diferente vê um casal apaixonado de perto, mais ainda quando é um homossexual, jamais imaginei viver uma situação como esta, como poderia, até sei lá, duas semanas, nem sabia que poderia ter um pai, e agora, como posso questionar ele ser gay, vou estar mentindo se disser quer nunca tinha tido contato ou visto um casal gay, mas tão perto é diferente.
Não posso dizer que estou sendo preconceituoso, porque não estou, afinal, jamais pensei nisso até conhecer eles, meu pai e padastro, pelo menos não é uma madrasta mala, que não quer saber dos filhos do marido, o Ricardo é um cara legal, me apresentou a faculdade, os alunos, vi a foto de mamãe jovem, onde ela estudou. Foi incrível, emocionante.
Por isso, e por outras coisas, é tão difícil. Como posso me abrir, confiar, e amar um pai? Como dói não ter certeza e não ter alguém para contar tudo, como eu queria correr e abraçar minha melhor amiga, meu amor, por mais que falássemos todos os dias por mensagem, vídeo chamada, não é a mesma coisa, sinto que falta algo.
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De repente PAI
Lãng mạnUm casal vê sua vida mudar de ponta cabeça quando um deles descobre que é pai de um adolescente de 15 anos. Ivo e Ricardo o casal perfeito, bem sucedido, quase um comercial de margarina ambulante, sempre sonharam em ser pais, só não imaginavam que...