Leiam as notas finais*
Ricardo
As ondas da praia estavam cada vez mais agitada, o vento batia forte em mim, adorava vê as arrebentação na da areia, sempre fazia isso quando morava aqui e queria pensar, dá uma paz tremenda assistir a natureza, e claro quando mais jovem, olhar homens bonitos surfando, mas hoje mais especificamente, só quero admirar, surfar é tão lindo, mas ao mesmo tempo tão perigoso, só você, sua prancha, e a natureza. Se a conta não fecha, acidentes acontecem, acima de tudo, você precisa ouvir a natureza, e o bom senso, as ondas estão lindas, perfeitas, porém é muito perigoso, porque essas ondas, essa brisa, o tempo fechando, tudo indica que logo vai chover. A pouco estava com alguns companheiros da minha época de praieiro, deslizando sobre as ondas. Curtindo a sensação da água na pele, a adrenalina enquanto estou no tubo e paço de leve os dedos na água, e deslizo e finalizo no tempo certo, nem antes, e nem depois, sabe quando todos acham que você vai ser engolido pela onda? Mas não, você conclui, é muito satisfatório isso.
Entretanto agora estou aqui pensando em tudo que aconteceu nesses últimos tempos, meu enteado, a empresa, TUDO, uma sucessão de acontecimentos. De onde não tivemos folga nem um minuto para digerir o que aconteceu. Sabe, ter um filho, se descobrir pai, foi algo que mexeu de muitas formas com o Ivo, é um sonho antigo se transformando em realidade, e as vezes me dói um pouco, como se de alguma forma os atrapalha-se, pensando que talvez se não tivesse aparecido, eles pudessem ser uma família, porque com certeza o Ivo iria atrás dela, se não fosse meu conselho anos a trás, e isso me machuca, saber que de alguma forma mesmo sem saber posso ter impedido o grande amor da minha vida de ter realizado o seu sonho antes. Eu sei, a culpa não é minha por ela ter o deixando, afinal, a gente nem se conhecia, e eu e o Ivo só nos envolvemos tempos depois.
Mas é difícil expurgar esse sentimento de mim, pensar que eles poderiam ter se tornando de algum forma uma família feliz, os dois próximos hoje, eu sei que ele não demonstra, mas dói um pouco essa mágoa, por não ter acompanhado ele desde o começo, eu sei que ele era jovem na época, todavia não tenho dúvidas ele seria o melhor pai do mundo. E como eles são parecido, é como voltar ao passado toda vez que olho para o Gu, apesar do estilo totalmente diferente, em pensar que, talvez, nós jamais o conheceríamos se não fosse aquele advogado ter ido a trás do Ivo, afinal, ele simplesmente poderia ter largado o Gustavo num orfanato ou sei lá, mas não, e só em pensar isso meu coração aperta, com medo de imaginar em não ter ele mais em nossas vidas. Já me afeiçoei aquele moleque, aquele jeito tímido, meio envergonhado, mas com uma curiosidade no olhar, ele já sofreu tanto, então pouco tempo.
Algo onde muitos cederiam, demorariam, mas ele não, sempre firme, sempre em frente. E eu não vejo a hora dele transpassar mais uma barreira, e chamar Ivo de pai, e tenho certeza que este será um dos dias mais felizes da vida dele, pois ele pode não admitir, mas ele anseia por isso, o brilho dos olhos dele, se apagam um pouco quando o Gu não o chama por essas três letrinhas que tem tanto significado. Eu sei que o Ivo tenta se aproximar sempre que pode, porém é como se tivesse ainda uma barreira fina e transparente entre ele, onde por mais que ele tente não consegue alcançar, até porque neste momento não depende apenas dele, mas do Gus também. E nítido para todos que vem ou não, que minha relação com o Gustavo é mais leve e fluida, até porque sobre nos meus ombros não tem o peso do significado que a palavra PAI significa. Eu sou só o padrasto. O cara legal. Quem sabe um dia ele me veja como um segundo pai, e neste dia ficarei muito feliz, porém por enquanto, me contento com a felicidade que o meu amor vai sentir ao ser chamado de PAI.
Sou acordado dos meus devaneios por algo trombando em minhas pernas, primeiro tenho um susto e acho que alguém jogou algo em mim, e instintivamente olho em volta mas não vejo ninguém, só umas marcas na areia. Quando escuto uns resmungos e um leve choro é que olho para baixo e o que vejo me surpreende, é uma criança pequena, encolhida no chão, abaixo devagar para não assustar. Passo a mão delicadamente nos seu cabelos, que estão desgrenhados, fazendo sem querer se encolher com medo.
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De repente PAI
RomanceUm casal vê sua vida mudar de ponta cabeça quando um deles descobre que é pai de um adolescente de 15 anos. Ivo e Ricardo o casal perfeito, bem sucedido, quase um comercial de margarina ambulante, sempre sonharam em ser pais, só não imaginavam que...