Currículos

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Capítulo I

O despertador toca, demoro um pouco a abrir os olhos, a noite passada foi bem tensa para dormir. Quer dizer, todos os dias tendem a ser tensos para mim, nesse momento. Ainda mais com essa procura louca por um trabalho. Eu precisava, de verdade, colocar em prática todos os cursos que já fiz, não queria esperar mais nenhum dia. Não adianta estudar para caramba e ficar parado no mesmo lugar, mas, aqui na minha cidade, está bem difícil arrumar algo para fazer. A única coisa que temos por aqui, é cuidar de fazenda. Tirar leite de vaca, plantar, colher... Não que isso seja algo ruim, de modo algum. Até porque sempre vi meus pais fazendo isso a vida inteira deles, eles amam tudo isso. De verdade, acho que se meu pai e minha mãe ficarem um dia sem ordenhar uma vaca, eles caem em depressão.

É bem surreal, as vezes eu olho para eles e penso: Caramba! Como eles conseguem fazer tanta coisa em tão pouco tempo?!

Deve ser o costume, talvez.

Minha mãe ama cozinhar, sério. Ela é a melhor cozinheira que existe na face dessa terra e eu amo sua comida. A minha favorita, com toda certeza, é o frango que só ela sabe fazer. Ela aprendeu essa receita com a minha avó, Odette, que infelizmente não está mais aqui conosco. Não pensem, vocês, que é uma receita qualquer. Em toda a minha vida, jamais comi um frango como o que a minha mãe prepara, é realmente algo muito especial e único.

Meu pai... Bom, o meu pai é sensacional. Ele também cozinha, pesca, planta... Ele é um cara que podemos chamar de "mil e uma utilidades". Ainda não inventaram algo que meu pai fosse incapaz de fazer, mas, com toda a certeza, sua especificidade era fazer queijos. Ele costumava fazer os melhores queijos da nossa região e, assim como o frango de minha mãe, os queijos que meu pai preparava eram únicos. Eu nunca comi nada parecido com o que ele fez, nem de longe.

O que posso dizer? Tenho pais talentosos e eles têm um filho que se orgulha demais de tudo o que eles fazem.

E eu ainda estou aqui, deitado na cama, com os meus olhos fechados e o despertador tocando. São exatamente 6:30 da manhã e eu não estou a fim de sair do quarto, lá fora faz um frio danado e definitivamente, eu não estou com muita vontade de continuar a minha saga de enviar currículos de novo. Sério, eu estou cansado! Já tentei várias vezes e até agora nada. Nada aparece para mim.

Enfim, depois de tanto relutar, eis que sou vencido e acabo me levantado da cama, mas sinto meu corpo pesado. Minha cabeça parece que vai saltar fora do meu corpo, tudo dói e eu só queria continuar deitado na minha cama gostosa, macia e bem quente, nessa manhã.

É sábado, geralmente meu pai vai a cidade para vender os queijos e fazer algumas compras. Nós moramos relativamente longe da cidade, temos uma pequena chácara, que era dos meus avós paternos, Odette e Frances Moore, os melhores avós que um neto pode ter! Dói saber que eles não estão mais aqui, com a nossa família, mas fico feliz em saber que o tempo que eles estivera conosco, na terra, foi a coisa mais maravilhosa e importante para as nossas vidas. Eles deixaram um legado que jamais será esquecido e também nos deram o amor mais puro e verdadeiro que alguém pode oferecer.

Levanto da cama, meio sonolento ainda e quase bato com meu dedinho do pé na beira da minha cômoda. Sigo firme até o banheiro e me olho no espelho, levanto uma sobrancelha e me encaro, solto um sorriso de lado e, caramba, eu estou um caco.  Faço minha higiene pessoal, e mais uma vez me olho no espelho, encarando aquela aparência que não está nada boa, mas não vou nem reclamar, fui dormir às duas da manhã, não há muito o que fazer. Tiro minha blusa, a minha calça moletom, minha cueca box preta, abro o chuveiro, coloco a água bem quente e entro, deixando cair pelo meu corpo todo. Nossa,isso é bem relaxante e confortante.

Nove semanas de amorOnde histórias criam vida. Descubra agora