–Eu morri?
Um garoto estava pelado no fundo de um oceano sem fim, em meio a escuridão não sabia distinguir o que era realidade ou ilusão.
–Sim, você morreu –Uma voz respondeu fazendo o garoto se virar surpreso, mas não havia nada para ver, na verdade nem sabia distinguir de que direção vinha aquela voz –Quais lembranças você ainda carrega?
–Lembranças?
O garoto viu seu pai sendo morto, lembrou-se de receber a notícia de que sua mãe e padrasto tinham tido o mesmo destino. Viu o velho Tar sendo morto, seus amigos sofrendo ao seu redor. Lembrou-se de ser controlado e obrigado a atacar seus queridos. Ele começou a afundar no oceano as piores memórias de sua vida o afligiam, antes destas muitas outras ocorreram, menos sangrentas, mas também dolorosas.
–Viadinho!
–Aberração!
–Por que você não se mata?
–Parem! –Gritou Francisco tapando os ouvidos –Será que só vivi para conhecer o desprezo dos humanos?
–Tem certeza que só foi isso que você recebeu? –Perguntou aquela estranha voz.
Francisco subiu no palco da boate Ambrosia e pela primeira vez encontrou um meio termo entre ser homem e ser mulher. "Eu posso ser os dois, ou nenhum deles, no fim só quero ser eu!". O público ia à loucura quando ele se apresentava! Eles o amavam! Amor? Seu pai apareceu num tornado de boas recordações, sempre o abraçando, o apoiando, lhe dizendo coisas como: "Não há nada que você possa fazer que me faça deixar de te amar".
–Eu gostaria de ter contado pra ele –Admitiu Francisco –Gostaria de ter contado que eu sou... –Ao invés de afundar, ele começou a subir –Eu sou uma Drag Queen!
–Acha mesmo que ele não sabia? Acha mesmo que você escapava no meio da noite duas vezes por semana e ele nunca soube? Use seus poderes veja o passado!
Francisco viu a si mesmo pulando a janela e depois viu seu pai saindo pela porta dos fundos para segui-lo. Francisco pode sentir a preocupação no peito do seu pai, um pouco de raiva e curiosidade, mas muito medo de que algo de ruim acontecesse ao filho. Naquela noite Francisco arrasou performando uma música usando pétalas de rosas. Na plateia seu pai boquiaberto começou a chorar, mas depois secou as lágrimas e aplaudiu o filho.
–Pai, você sabia?
–Sim, eu sempre soube que você era diferente –Disse Fernando, o falecido mecânico interagindo entre as memórias de Francisco.
–Isso é real?
–Claro que é, estamos no capítulo final de sua vida mortal.
–O quê?
–Você não pode seguir em frente enquanto não encerrar seus assuntos inacabados –Disse a voz misteriosa, se calando em seguida para deixar Fernando falar.
–Francisco, você sempre foi diferente, e sempre amei isso em você. O mundo já esta cheio de pessoas "normais", o que não é um problema, mas quando alguém nasce diferente, não deve se sentir como uma aberração, muito pelo contrário, sinta-se alguém especial. Eu morri sem arrependimentos, pois vivi com todas as minhas forças o amor da minha vida: você –Felipe segurou o rosto do filho –Te amei e sempre te amarei com todas as minhas forças! O amor é eterno! É imortal! É um deus.
Francisco abraçou o pai e chorou sentindo seu coração transbordar de alegria. Logo tudo se desfez e ele se viu diante do dono da voz misteriosa, um contorno humanoide de luz.
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Gemidos
RomancePhao levava uma vida pacata na Terra 24, bem, pelo menos até aquele dia quando tudo mudaria para sempre. Acordou com um estranho barulho, recebeu um telefonema de sua amiga Alisha lhe contando sobre uma mulher pelada que aparecera no meio de uma pal...