Sabe quando você sabe que vai fazer uma coisa muito boa para você mesma, mas isso te causa medo? Como se não fosse o certo a ser feito, mesmo sabendo que é? Aquele frio na barriga de fazer alguma coisa pela primeira vez? Tipo quando a gente viaja sem os pais, mata a primeira aula, come algo muito exótico ou se entrega para uma pessoa sem ter certeza de seus sentimentos. Então, é o que eu estou sentindo nesse momento.
Deixar minha família e meus amigos não é e nem vai ser fácil, mas é preciso quando se tem um sonho e com ele uma oportunidade. Finalmente poderei fazer o que eu sempre quis em toda minha vida, quem me conhece sabe o quanto não foi fácil, sempre julgada, menosprezada e deixada de lado. Onde já se viu menina negra querendo ser alguém fora desse país? Querendo ser alguém no meio da moda e da mídia ainda... Mas é aquele ditado né: o que não te mata, te deixa mais forte. E agora vou eu, sim, Olivia Goulart estudar moda na Parsons em Nova Iorque! Não foi do dia para a noite e muito menos algo que caiu do céu, mas tudo que eu sempre me dediquei e tentei desde minha adolescência. Claro que todo o apoio do pessoal de casa e dos meus amigos sempre me motivou, mas graças a meu santo Oliver Rousteing e tantas outras inspirações no meio, eu consegui! Bom, todas as dezenas de cursos online que encontrei no google e as técnicas que fui aperfeiçoando foram muito úteis e fizeram eu chegar lá, e fico grata por tudo isso! Todas minhas centenas ou talvez milhares de pesquisas me ajudaram muito, posso dizer que demorei até conseguir, mas o tão sonhado email com a confirmação da aceitação e a minha bolsa integral ainda estão me deixando com os olhos brilhando e nem sei mais o que fazer. Na verdade meu velho notebook está aqui aberto e eu estou relendo ele, sei lá, pela milésima vez para ter certeza se é real mesmo.
Agora que eu percebi que já falei um monte e nem se quer me apresentei, bom meu nome é...
-Liiiiiiv!! Vamos! Seu pai chegou com o carro, não pode perder o voo, menina!
Bom, tenho que correr que minha mãe está levemente desesperada.
Desligo meu notebook e o guardo em uma mala de mão pequena, olho uma última vez para meu quarto, minhas coisas, fecho a porta. Respiro fundo. Passo pela pequena e acolhedora cozinha que minha mãe sempre usou para preparar as comidas mais saborosas de todo o mundo. Sinto um leve aperto no coração, mas sigo até a sala de TV, abro a porta para a saída. Vejo meus pais me esperando e falando mil coisas ao mesmo tempo. Só consigo entender: mala, casaco, passaporte, papelada, celular, e mais algumas outras coisas. Desperto do meu transe quando lembro: o pingente da vó Thereza! Volto correndo para dentro e abro rapidamente meu guarda-roupas, e reviro o que sobrou nele até encontrar a pequena caixinha vermelha no fundo da minha gaveta de roupas íntimas. Abro e vejo uma pequena estrela brilhante prateada. Seguro a caixinha por alguns segundos quando ouço meu pai chamando. Fecho e coloco dentro da mala com o notebook. Agora preciso ir!
Entro no carro e me desligo dos meus pais, que toda coisa de ter juízo, tomar cuidado, e afins já cansei. Finalmente posso me apresentar.
Bom, sou a Olivia Goulart, como vocês já perceberam né. Tenho 22 anos, e estou de mudança para Nova Iorque, com meu inglês mais ou menos, mas muita noção do que eu quero. Me formei do ensino médio tem 4 anos e sim, só agora irei para a faculdade, ao contrário da maioria dos meus colegas, mas aproveitei esses anos para me dedicar aos meus objetivos e trabalhar para pagar por eles. Não foram anos fáceis, mas a recompensa se inicia agora.
Tenho cabelos castanhos cacheados, olhos castanhos e estatura mediana. Como deu para perceber amo moda e desenho, desde sempre. Passo a maior parte do meu tempo livre lendo sobre esses assuntos, produzindo meus croquis e ouvindo música. E eu nunca fiz nada tão grande assim, ainda mais sozinha e isso me deixa em pânico, mas extremamente feliz.
A viagem até o aeroporto é um pouco longa, por isso, optei por dormir e tentar descansar minha mente de toda a tensão que estou sentindo.
[...]
Quase duas horas depois estamos no estacionando no grande aeroporto internacional. Minha empolgação está à mil ao mesmo que minha preocupação com tudo. Vejo que minha mãe está nervosa, mas tenta fingir que tudo certo, enquanto meu pai já nem tenta mais mais disfarçar. Faço todo o procedimento para embarque e vamos até o setor específico. Sinto minhas mãos geladas e trêmulas. Meu pai já está chorando, enquanto minha mãe disfarça tomando um suco. Abraço fortemente cada um e logo minha mãe desmancha a pose durona e caí no choro. Sei que é um choro de preocupação, mas não resisto também. Logo ela fala:
Liv, não deixa ninguém te derrubar lá não! Você merece tudo isso e vê se não esquece de tudo que a mãe já te ensinou, filha. Você é forte e vai ganhar o mundo com seu talento...
Meu pai logo a interrompe:
Olivia, minha filha, vai! Mas não esquece de seus pais aqui! Oh minha estrelinha, logo vai ter o mundo nas suas mãos.
Não encontro palavras e tudo que consigo fazer é puxar os dois para um abraço coletivo e me despeço com um aceno e levo minha bagagem até o local para o embarque.
Agora não tem mais volta. Poucos minutos para entrar no avião e ver minha vida mudar e meus sonhos se aproximarem ainda mais. Eu não posso esperar!!!