A Máscara da Lebre [SasuSaku]

Caos

Kakashi conhecia Sakura.

Ele arriscava dizer que a conhecia melhor do que todas as outras pessoas. Havia convivido intensamente com a aluna enquanto fizeram parte do Time 7 durante todos aqueles anos, e diferente de Naruto e Sasuke, cuja ausência de maturidade na época os impedia de compreender profundamente as minúcias da personalidade humana, Kakashi a havia observado, estudado e conhecido verdadeiramente.

Era capaz de ler suas mais diversas facetas e estágios de humor, conhecia seus gostos, suas vontades. Sabia suas preferências, fossem elas culinárias, de combate ou passatempos.

Durante todos os anos que atuou como seu tutor, e porque não, companheiro de time, conheceu seu coração e a viu amadurecer e se tornar uma mulher. Na idade adulta, Sakura havia sido capaz de preservar aquilo que lhe era valioso e característico quando jovem, guardando em si sua animação, compaixão e determinação, e havia deixado para trás com sucesso as inseguranças, carências e incertezas de antigamente.

Como uma bela flor, ela havia desabrochado.

Por isso, quando Tsunade o chamou em seu escritório, expondo o assunto de extrema confidencialidade e urgência, ele soube que sua pupila havia sido levada contra sua vontade. Sakura, acima de tudo, amava Konoha. Amava suas ruas estreitas e apinhadas, as propagandas luminosas entre a fiação elétrica, os almoços no Ichiraku, os civis e ninjas que passeavam alegremente sob o sol da tarde. Amava as crianças que brincavam em frente à academia ninja, aspirando um dia serem grandes shinobis. Amava trabalhar no hospital e ser uma ajuda inestimável para as forças de combate. Amava executar missões para a ANBU e ter a gratidão de Tsunade-sama. A Vila da Folha era sua vida.

Ainda assim, quando recebeu a notícia, seu pesar foi imenso.

Se havia um conflito, uma questão mal resolvida, dentro do coração de Sakura, essa questão era Uchiha Sasuke.

Ao longo de todos aqueles anos, entre os treinos exaustivos de Tsunade, seus estudos para especializar-se como médica, suas missões e sua entrada na ANBU, os sentimentos com relação a Sasuke haviam passado para um segundo plano, mas nunca desaparecido. Ele era uma força motora poderosa para as motivações de Sakura, ainda que de maneira inconsciente. Assim como Naruto, ela aspirava quase desesperadamente trazer o amigo de volta, mas para além disso, nutria um sentimento que há muito havia deixado de ser um amor platônico e meramente infantil.

Ela o amava profunda e dolorosamente, e mesmo que não soubesse, em seu íntimo estava disposta a tudo suportar para encontrá-lo. Lutaria até a exaustão.

Kakashi não sabia como a presença de Sasuke a estaria afetando. Era provável que estivesse resistindo, lutando para manter sua independência, ocultar sua fragilidade. Ele queria, precisava, acreditar que ela era forte o suficiente, resiliente o suficiente.

Mas não podia ter certeza.

O barulho distinto de cerâmica se chocando com o tampo de madeira soou alto quando Kakashi entrou na sala do escritório de Tsunade. Seu único olho visível se estreitou brevemente conforme ele fechava a porta de madeira atrás de si, adentrando sem aguardar qualquer confirmação por parte da Hokage. Os olhos âmbar levemente nublados que o fitaram não o surpreenderam. Ela estava bêbada. E brava.

— Já era mais do que hora, Hatake! — a voz trovejou pelo ambiente assim que ela o reconheceu. Levando o copo de saquê aos lábios mais uma vez, a sannin bebeu todo o conteúdo em um gole só, batendo-o na mesa quando terminou, fazendo mais uma mancha redonda e molhada sobre o tampo.

Kakashi ergueu uma de suas sobrancelhas grisalhas.

— Eu vim o mais rápido que pude.

— É óbvio. — A Hokage suspirou, parecendo anormalmente exausta, largando-se sobre a cadeira. Apesar de tudo, conservava sua beleza jovial. Fitou-o por um instante, parecendo absorta em pensamentos. — Temos tão pouco tempo, tão pouco... — suspirou, parecendo recuperar o foco. — Você se lembra da proposta feita por Sakura há alguns meses, certo?