Olhos vermelhos fitaram o sangue igualmente vermelho.
O brilho azulado aumentava e diminuía conforme o chakra se movia através dos dedos longos e manchados e o moreno se curvava sobre a figura desfalecida. Sasuke concentrou a energia na palma da mão, adensando-a para, então, dividí-la entre os dedos, fazendo as pontas brilharem. Seu chakra então reluziu com um negrume sinistro e ele hesitou.
Seria mesmo capaz de salvá-la?
Sua mão larga parou sobre o tórax de Sakura, vendo o ferimento brilhar e pulsar sob sua técnica. A luz refletia de um jeito estranho no líquido, mas ele tratou de afastar qualquer pensamento destrutivo que lhe ocorria.
A técnica roubada parecia queimar em suas íris, como se soubesse a energia sinistra de seu usuário. Sasuke se recordava de poucas vezes em que uma habilidade fora tão distinta de sua natureza. Estava apreensivo. A lógica martelou o fundo de seus pensamentos, avisando-o de que qualquer momento de hesitação custava um segundo de vida para a kunoichi.
Ele era incapaz de nomear o sentimento incômodo que apertava seu peito, mas sabia que era frio e entorpecente como um choque, mas ao mesmo tempo sujo e pegajoso como óleo.
Observou o tecido rasgado e destruído do que uma vez foram suas próprias vestes. Ele se lembrou do ato de colocá-las sobre o corpo vivo e desafiador de Sakura no que pareciam apenas segundos atrás. O sangue coagulava tornando-se a cada momento mais pegajoso, deixando-o nauseado. Havia tanto sangue. Sangue de Sakura. Um sentimento como um soco no estômago fez com que ele se curvasse, o gosto amargo de bile em sua boca. Ela estava prestes a morrer. Ela morreria de um ferimento causado por ele.
O pequeno leque bordado nas vestes que ela trajava estava tingido. Originalmente branco e vermelho, o símbolo Uchiha havia sido completamente tomado pela cor quase negra de sangue fresco. Sua garganta fechou. Apertou os dentes com fúria numa tentativa de recuperar sua concentração, enviando mais energia para as mãos, que continuavam incessantemente jogando seu chakra para o corpo dela. Comprimiu os lábios conforme concentrava a energia na parte mais funda do corte.
Prestes a perder a calma, Sasuke viu algo que o fez lembrar de respirar por um momento.
As fibras do músculo pareciam, pouco a pouco, estarem se reconectando. Ele viu quando a carne vermelha se entrelaçou, fechando um pouco a fenda por onde a vida dela insistia em vazar. Seu coração bateu mais forte, ele ouviu os próprios batimentos nos ouvidos como tambores. Ele iria salvar a vida de Sakura. Pela primeira vez desde que ele havia abandonado Konoha, Sasuke desafiou sua própria lógica, indo contra todos os seus princípios.
Sasuke a salvaria porque era o certo. Por que ele nunca deveria ter erguido sua espada em riste sem saber onde ela estava. Porque se não fosse por ele, ela estaria em Konoha, feliz e segura. Porque ele a estava roubando qualquer paz. Porque ele não tinha o direito de tirar sua vida.
Suas mãos estavam firmes quando gravitaram até mais próximo do ferimento. Ele estreitou os olhos, concentrando-se totalmente, e a luz que emanava de seus dedos pareceu mais forte. Ao longe, ele podia ouvir os soldados gritando. Segurou a respiração, os tendões de seu pulso completamente tencionados com a técnica.
Com uma velocidade tão lenta que era quase desesperadora, mas constante, os tecidos abaixo de seus dedos se refaziam.
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Naruto despertou.
Sem abrir os olhos, permaneceu imóvel na posição que estava, sentindo suas têmporas latejarem. Seus membros e juntas doíam e repuxavam, ainda que ele não estivesse fazendo qualquer movimento. O apoio abaixo de si era duro e rugoso, e ele sentiu o pinicar leve de grama contra o rosto. Através de suas pálpebras fechadas, a luz quente o fazia enxergar vermelho, e ele respirou, sentindo o cheiro de terra.
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A Máscara da Lebre [SasuSaku]
RomanceSakura, adulta e escalada capitã ANBU, é chamada para executar uma missão para a Hokage Tsunade. Ao receber as instruções, toma conhecimento de um fato chocante: Sasuke, ainda um nukenin foragido, foi localizado e cabe a ela e ao seu time trazê-lo d...