Febre

5K 280 179
                                    

Suigetsu encostou a cabeça contra a parede de pedra, sentindo seu olho inchado latejar. Do outro lado da estrutura úmida e mofada, ele podia ouvir o som abafado do casal que transava.

Devem estar usando aquela cadeirinha nojenta de guarda, ele pensou. A prisão escura e molhada não era o local mais agradável para ter relações sexuais, ele achava, mas ninguém ali ligava para sua opinião. Permaneceu de olhos fechados, escutando os gemidos femininos repetidos, e os sons de respiração masculinos, sentindo-se em parte enojado, em parte entretido. Não sexualmente, pois nada naqueles dois o atraía. Era apenas um passatempo cômico naquela prisão enfadonha. Estúpidos, pensou. Provavelmente usavam a salinha de depósito porque o guarda era um muquirana e se recusava a pagar um lugar decente para transarem.

Soltou um riso debochado de canto. Ele, Suigetsu, estava se tornando um voyeur, só que sonoro, já que a parede o impedia de visualizar o ato.

Quando viu a garota servil que trazia a comida a primeira vez (e lhe dera um susto dos grandes), jamais teria imaginado se tratar de uma cadelinha safada, com aqueles olhos grandes e inocentes e tendo surtos de pânico a cada frase proferida por ele. Não tardou para descobrir o "romance" - se é que poderia chamar daquele jeito os encontros sorrateiros dela e do agente torturador - e desde então tivera o desprazer de escutar alguns coitos entre os dois. Não dá mesmo para confiar em mulheres, ele ponderou. Se nem aquela rapariga sonsa era passível de confiança, quem diria uma desgraçada como Karin.

Karin. O que o levava ao seu objetivo inicial. E ao porquê dele estar se dando o trabalho de escutar toda aquela pornochanchada.

Esperou pacientemente o término do coito. Aquele jōnin nojento que adorava socá-lo na cara e quebrar seus dentes teve um orgasmo, como sempre, e a garota não - como sempre. Os próximos passos ele já sabia: ele daria um tapa no traseiro dela, o que a levaria a soltar um guincho agudo, então se vestiriam e sairiam da sala como se nada tivesse acontecido, com ele sutilmente voltando a aliança para o dedo anelar. Estava de olhos fechados ainda quando o torturador passou ao lado de sua cela, e gentilmente fez uma pausa para cuspir em sua camiseta através das grades antes de continuar. O ninja da névoa permaneceu imóvel, ciente do muco que escorria por cima do tecido.

A garota ainda demorou alguns bons minutos para sair. Talvez estivesse se vestindo, ela era, de fato, meio lenta. Suigetsu pacientemente permaneceu ali, encostado à grade, esperando que ela passasse. Não demorou a ouvir os passos pesados da civil no chão de pedra, e quando os escutou se aproximarem de sua cela, abriu os olhos violeta como um réptil pronto para o bote. Tão logo a canela dela apareceu à sua esquerda, as mãos ágeis e flexíveis do shinobi cruzaram as barras de ferro, e com um movimento rápido ele a havia capturado.

— Ah! — ela exclamou quando caiu como uma tábua no chão, soltando o ar de uma forma pouca natural quando seu peito e rosto bateram contra as pedras. Suigetsu então a puxou para si, arrastando-a sem qualquer delicadeza. — Não! Não! — ela guinchou enquanto ele arrastava e a erguia, pressionando contra a grade com as duas mãos, sua respiração bagunçando os cabelos femininos com a proximidade. — Por favor, me solte! Por fav—

— Cale-se. Você não quer atrair o seu namorado para cá, quer? Vou quebrar seu pescoço se fizer isso. — O pânico que tingiu os olhos da garota quase fez Suigetsu rir, mas ele estava irritado demais. Ela arfava, e começaria a chorar em breve. — Pare de fazer barulho. Escute. O que você sabe sobre Karin?

— Ka-Karin? — ela perguntou, arregalando seus grandes olhos amendoados. Suigetsu havia se esquecido que ela era completamente imbecil. Soltou um resmungo irritado.

A Máscara da Lebre [SasuSaku]Onde histórias criam vida. Descubra agora