A Máscara da Lebre [SasuSaku]

Recomeço

Itachi havia adquirido o curioso hábito da jardinagem.

Sempre havia gostado de plantas. Quando passou aquele tempo nas ruínas do País do Pássaro, ele havia estudado e analisado diversas espécies, recolhendo sementes, apanhando flores, cultivando-as despretensiosamente. Passado algum tempo que haviam se instalado naquele novo lar, o Uchiha mais velho logo tratou de expressar seu interesse e criou um canteiro particular no qual passou a exercer a jardinagem como um hábito.

Aparentemente, tinha certo talento para aquilo. Suas flores logo passaram de brotos pequenos e muito verdes para botões coloridos, ganhando vigor e altura com os cuidados que aplicava. Às vezes conversava com Sakura sobre fertilizantes, sementes e outras coisas. Ela tinha certo interesse por aquilo também, conhecia muitas plantas medicinais principalmente, mas pela gravidez não poderia ficar se debruçando e cavocando a terra, então se limitava a discutir o assunto e a observa-lo trabalhar enquanto tomava sol casualmente ao seu lado, a expressiva barriga brilhando sob a luz.

Já Sasuke achava o assunto completamente enfadonho. Não falava nenhuma palavra sobre aquilo, não parecia nutrir o menor interesse e não podia se importar menos se as roseiras estavam dando flores ou não. Itachi não ligava, afinal, desde sempre ele e o irmão tinham interesses e gostos muito diferentes.

Seu novo hábito demandava incursões até o pequeno vilarejo próximo dali, em busca de ferramentas, adubos ou remédios. Quando entrou na floricultura a primeira vez, a loja estava vazia. O sino na porta anunciou sua chegada, mas não havia ninguém no balcão. Ele aproveitou para estudar o ambiente calmamente, aspirando o aroma, tocando suavemente as pétalas de uma flor, sentindo a maciez sob seus dedos.

— Olá. — uma voz feminina fez com que erguesse os olhos escuros.

— Ah, olá. — respondeu, oferecendo um sorriso.

A reação que obteve foi imediata. Itachi se segurou para não rir, pois aquele tipo de situação era sempre muito curiosa, mas ao cruzarem os olhares, o rosto dela se ruborizou violentamente, toda sua linguagem corporal denunciava seu estado de perplexidade e agitação. Ele estava razoavelmente consciente da impressão que causava nas pessoas, sobretudo nas mulheres, mas não deixava de achar graça e, definitivamente, não se vangloriava daquilo.

Logo tratou de dizer alguma coisa, visto que ela parecia incapaz de respondê-lo:

— Você trabalha aqui?

— Eh...Sim. Sim. — Respondeu após parecer recobrar a compostura. Recuperando seu tom profissional, continuou: — No que posso ajudar?

— Preciso de adubo... e vermífugos. — falou simplesmente e observou-a sair de trás do balcão, trajando um avental de algodão cru por cima do vestido.

Acompanhou seus movimentos enquanto ia até as prateleiras. Passada a surpresa inicial, parecia ter se recuperado, e começou a explicar os tipos de produtos que dispunham. Não eram muitos, visto que estavam em um lugar muito simples e afastado: a maioria era de fabricação local e orgânica, e o Uchiha mais velho ouviu o início da explicação com atenção.

Estudou-a atentamente, a garota devia ser um pouco mais nova do que ele. Ela tinha uma beleza simples e honesta, mas cativante. Seus olhos eram verdes e muito gentis, os cabelos eram castanhos e longos, e estavam presos em uma trança que ia até o meio das costas. Brincos pequenos e prateados brilhavam ocasionalmente nas orelhas delicadas. Os lábios naturalmente rosados se movimentavam suavemente enquanto falava com muito conhecimento e prática sobre os diversos tipos de adubos, para que serviam e sua composição.

— Senhor?

Itachi piscou uma, duas vezes, cílios longos batendo sobre a pele clara.

— Sim? — viu-a ruborizar. Provavelmente havia perguntado alguma coisa, mas, entretido como estava em observá-la, não prestou atenção. Estava agachada no chão em frente a ele.