Rebelião

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O interior da caverna era escuro e frio.

Sakura andou com passos hesitantes, assustada com todo aquele negrume, incapaz de se guiar por entre o breu. Tateou as paredes, sentindo a frieza da rocha enquanto avançava, um pé de cada vez. Sentia-se esgotada, sozinha e assustada.

Sua canela deu contra um degrau, fazendo-a gemer de dor, e ela sentou sobre o avanço da rocha para massagear o próprio membro. Quando suas coxas tocaram a superfície, empertigou-se, sentindo um calafrio subir sua espinha. Estava nua, e o toque gélido contra sua pele pareceu trazer de volta sua consciência. Arfou, olhando em volta, sentindo os próprios braços trêmulos.

De repente, um facho de luz branca varou a pedra, como se um buraco tivesse sido feito na parede, e ela agarrou a si mesma com o susto.

A luz da lua tornou o ambiente pálido, estranho. Piscou, e quando seus olhos se abriram novamente, alguém estava diante de si.

Os olhos dele faiscavam à luz fria, a face nitidamente desenhada contra as sombras acizentadas.

Não precisou dizer nada.

Eu o reconheceria disfarçado ou em plena escuridão, pensou; eu o reconheceria mesmo se estivesse louca.

— ... Sasuke. — ela sussurrou.

Ele permaneceu imóvel.

— Sasuke! — sua voz tornou-se um clamor desesperado.

Levantou-se com rapidez para encontrá-lo, tocá-lo, mas quando se movimentou, sentiu algo estranho. Estava pesada.

Olhou para baixo, confusa. A barriga enorme a impedia de ver os próprios pés, tornava seus movimentos lentos, trôpegos. Pousou a mão no ventre, desesperada ao dar-se conta da própria gravidez, fitando com o mais profundo terror aquela forma redonda. Viu algo passar escorrendo por seus pés, um líquido escuro e espesso, molhando seus dedos.

Sentiu sua respiração acelerar. O que era aquilo? Onde estava?

— O que—

Quando olhou em volta, o líquido também escorria das paredes, em cascatas, escuro e pegajoso como óleo.

— Sakura. — Sasuke chamou.

Virou o rosto bruscamente. Pânico a invadiu ao fitá-lo.

Em suas faces, mãos, braços, tronco, as gotas escorriam, tingindo sua pele clara. Quando ele piscou, escorreu de seus olhos, do nariz e dos lábios entreabertos, como uma enxurrada descendo um rio. A luz da lua se movimentou como um holofote, colocando-se sobre ele e ela gritou ao ver a cor, acometida pelo mais puro terror.

Sangue, rubro e morno.

Vindo de todos os lados, o vermelho lavou o chão, as paredes, o corpo imóvel e rígido de Sasuke, até que a afogou em um aquário carmesim.

——————

Ensopada de suor, Sakura se sentou subitamente na cama, a colcha jogada no chão e os lençóis revirados, a camisola de hospital grudando na umidade do seu corpo.

Permaneceu desorientada por um tempo, respirando rapidamente. Passou as mãos pelo cabelo, sentindo a franja grudar-se à testa onde suava intensamente, deixando a raiz molhada.

Um pesadelo.

Recostou-se contra o travesseiro, tentando normalizar a respiração, olhos lacrimejando com o susto. Gemeu baixo para si mesma, consciente de seu estado de alerta e pânico, porém incapaz de fazer qualquer coisa que apaziguasse aquela agitação. Foram muitos minutos ate que finalmente pareceu respirar normalmente e acalmar as batidas do coração.

A Máscara da Lebre [SasuSaku]Onde histórias criam vida. Descubra agora