Encruzilhada

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Os primeiros raios de sol atravessaram as copas das árvores, feixes de luz de um amarelo esbranquiçado que acenderam as gotas sobre a relva úmida de orvalho.

O homem saiu da penumbra, seus passos passando da pedra gasta e empoeirada para a grama verdejante, os pés descalços ficando úmidos conforme caminhava lentamente sobre o chão macio. As vestes de algodão cru, claras e simples, faziam-no parecer quase uma entidade em meio à vegetação exuberante e às ruínas cobertas de trepadeiras.

Parou, a postura impecavelmente ereta, e fitou as folhas que brilhavam acima de si com os olhos doces e contemplativos.

Não havia nada nos arredores. Seu isolamento era absoluto.

Uma existência resumida a céu, mata e ruínas.

Silêncio.

Suas pálpebras se fecharam, cílios escuros encontrando-se sobre a pele alva, e lentamente ele ergueu o queixo em direção ao céu, os cabelos longos e negros caindo lisos em suas costas, chegando até a cintura. Respirou profundamente o ar puro, sentindo seu tórax se expandir e comprimir com o movimento lento do ar que entrava e saía.

Por um longo período, havia apenas o som baixo e ritmado de sua própria respiração, e o pulsar leve dos batimentos cardíacos.

O farfalhar de asas o tirou de seu estado meditativo.

Quando olhou, suas íris escuras encontraram o corvo pousado sobre um galho. As penas negras reluziam lustrosas sob a luz do sol. Ao encontrar seu olhar, o animal grasnou, e o shinobi ergueu o braço com suavidade, convidando-o a se aproximar. A ave levantou voo apenas por um momento, e ele logo sentiu as garras se fecharem sobre seu antebraço com firmeza, as asas ainda abertas enquanto se ajeitava e equilibrava em seu novo poleiro.

Trouxe-a para perto. Ela trazia uma mensagem.

A ave subiu mais em seu braço, fixando-se próximo ao ombro e chegando-se ao ouvido do ninja. Foram alguns segundos em que ela lhe transmitiu as novidades.

Os traços belos e suaves assumiram uma expressão carregada, baixando os olhos para o chão enquanto absorvia todas as informações.

— ... Rokudaime Hokage... Danzō? — murmurou.

Seus olhos levemente arregalados encontraram novamente os do animal quando ele se virou, mas antes que pudesse obter resposta, a ave levantou voo. Partiu em direção às copas das árvores, grasnando algumas vezes antes de desaparecer através das folhas, partindo para o céu azul, deixando-o sem resposta.

Deixou os braços caírem molemente ao lado do corpo, os olhos escuros fixados na direção que o corvo havia desaparecido, enquanto ele permanecia ali, imóvel e atônito.

——————

Os olhos negros de Sasuke se abriram de repente, observando a claridade que começava a tomar conta do ambiente com a chegada da manhã.

Seus orbes se voltaram, então, para a mulher que dormia ao seu lado, encolhida sobre si mesma enquanto respirava calmamente contra seu tórax. Tinha os cabelos cor de rosa bagunçados, espalhados sobre o tecido, emanando aquele cheiro característico de primavera, e estava nua, assim como ele. Sasuke percebeu, ao observá-la, que seus pêlos se eriçavam com o frio. Era sempre mais fresco àquelas horas da manhã, e a falta de roupas a fazia ter calafrios às vezes, mas nem por isto ela havia acordado.

Parecia imperturbável.

O Uchiha piscou algumas vezes e permitiu-se contemplá-la em seu sono, sentindo-se ao mesmo tempo estranho e calmo. Sua respiração contra a testa da kunoichi bagunçava os fios da franja pela proximidade. Seus olhos passearam pelo rosto feminino: contemplou o selo em formato de diamante no centro da testa, as sobrancelhas claras e arqueadas, os cílios longos e fechados que escondiam seus olhos impossivelmente verdes, o nariz curto e levemente arrebitado e os lábios naturalmente rosados, entreabertos, por onde a respiração saía ritmada e suave.

A Máscara da Lebre [SasuSaku]Onde histórias criam vida. Descubra agora