sem forças

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Paris, frança 16/05/1940

Confesso que pensei em não escrever-lhe hoje. Estou emocionalmente conturbado. Queria poder poupar-te de todo mal que vivo, mas a verdade é que se ocultar tudo que acontece de ruim aqui, está carta seria apenas: "estou vivo e com saudades, beijos James". Beatrice, eu matei um homem hoje. Eu sei que é estranho ouvir isso de uma pessoa que está na guerra, mas dessa vez foi diferente.


Entramos em combate a uns quatro dias na fronteira com a Itália, eu comandava a equipe aérea missão e fomos muito bem sucedidos. Eram sete contra três, abatemos todos e sobrevoamos sobre a cidade ajudando os soldados que lutavam no solo. Quando as tropas inimigas recuaram, pousamos as aeronaves. Tudo aqui é muito rápido e estavam precisando de ajuda para levar os feridos até nossa base. Enquanto levávamos um cabo para enfermaria, percebi uma movimentação irregular em uma pilastra não muito longe da nossa base e resolvi checar apenas para desencargo de consciência. Maldita hora para seguir minha intuição.

Assim que me aproximei, pude ver o uniforme inimigo em meio a sombra e com medo saquei minha arma ordenando rendição. O rapaz que saiu de lá estava aos prantos, se ajoelhou no chão e pediu piedade. Disse que só queria voltar para casa, sua mãe estava muito doente e ele lutava apenas porque foi convocado. Pude ver nas mãos dele a foto com a mãe e um terço enrolado no punho direito.

Eu estava pronto para deixá-lo ir, quando a voz de meu superior surgiu ao meu lado: "mate-o, agora! Inimigos não merecem piedade". Quando ouvi aquelas palavras tão desumanas, meu corpo gelou e minhas mãos ficaram trêmulas fazendo-me perder a mira. Meu superior ainda me encarava esperando que executasse sua ordem, mas meu cérebro havia parado.
Eu não escutava nada, não reagia, apenas encarava o homem tão desesperado agachado a minha frente. Em um ato de desespero o inimigo sacou a arma e sem pensar duas vezes meu cérebro retomou o controle, mandando a informação mais dolorosa que meu corpo já executou. Foram três disparos, precisos, sua alma foi sugada de seu corpo e junto com seu sangue se foram todos os seus sonhos.

Não faz muito tempo que isso aconteceu, mas para mim é como se eu ainda estivesse lá. Com certeza não dormirei bem hoje. Aquele rapaz... de alguma forma se assemelhava a mim a alguns anos atrás. Eu nem sei como vou digerir isso, acho que parte de mim também morreu hoje.

Sobre a sua carta, fiquei contente em saber que fizeram isso por mim, eu os amo muito e não vejo a hora de volta para ver a felicidade de minha irmã ao subir no altar. Saber que Dean voltou a cidade também é ótimo, não o vejo a anos! Me diga como ele está. Com certeza deve estar o mesmo de sempre, Dean nunca muda e é por isso que o amo. Gostaria muito de poder escrever mais, porém tenho que realizar minhas tarefas e se eu não for logo o capitão vai me castigar. Triz, eu te amo, você é a minha vida, não sei o que seria de mim sem você, não vejo a hora de te ver e sentir seu cheiro novamente trouxe um aperto em meu coração. Queria poder te abraçar e encher de beijos, quem sabe daqui a alguns meses!? Novamente ressalto que estou com saudades e que te amo.

Com carinho, James

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