sentimentos confusos

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Paris, França               30/10/1940

É engraçado o conceito de tempo. Todos os dias aqui parecem uma eternidade, cada minuto, cada hora se arrasta por longos momentos e nada parece sair do lugar. Entretanto, já fazem quase nove meses que estou longe de você, e essa parte do tempo passou sem que eu tenha percebido.

Há muitas coisas para dizer, sempre há, mas já não tenho vontade de dizer muito. Não são palavras que me faltam hoje, me falta afeto. Todos os dias todo tipo de diálogo acontece: os alegres com os meus amigos, os sérios com meus superiores, os rápidos por rádio quando estou no ar, e claro os suplicantes daqueles que não estão mais aqui. E em meio a tudo isso eu só consegui pensar em como eu sinto falta de beber chocolate quente com você.

Aqui o frio já está começando a se manifestar, e com ele a lembrança de como você fica feliz com a essa proximidade com o inverno. Me desculpa parecer distante nesta carta, acontece que eu estou muito cansado de tudo. Batalha pós batalha sinto parte de mim se perdendo, já não há espaço para medo. Faz tempo que não sinto isso, faz tempo que não sinto muitas coisas, entretanto sempre sinto saudades suas. Há coisas que nem a crueldade apaga.

Gostei de saber do seu aniversário, sua diversão é uma das poucas coisas que podem definitivamente alegrar meu dia. Também me deixa bem saber que gostou da carta que te deixei, embora não lembre muito do que escrevi, minha memória é afetada pelas novas cenas que vejo diariamente.

Eu queria poder te dizer mais, porém como disse, estou muito cansado. Espero que meus devaneios sejam o suficiente, já não tenho muito o que oferecer, tudo em minha mente parece fluído agora, volátil, e o não sei mais o que é certo.

De, James.

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