HUIT.

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— Bianca? — ouvi uma voz longe, porém alta o suficiente para me acordar de vez.

— Porra, Miguel. De novo? — atendi a ligação sem me dar conta.

— O seu bom humor matinal me dá forças pra encarar mais um dia, viu? — Miguel gargalhava.

— Poxa, que bom, então. Sempre quis ser inspiração positiva na vida das pessoas. — bufei. — o que aconteceu?

— Nada, Bia. Eu só estava aqui acertando as coisas e me deu saudade de você.

— Miguel você jura que me acordou porque sentiu saudade? — fingi estar brava. — caraca, migo, que fofo. Queria que você trouxesse café na cama pra mim.

— Meu deus, só sente saudade disso, né?

— Jamais, Miguelito. Também sinto saudade de quando você cozinhava pra mim. — ouvi Miguel gargalhar, isso me animou.

— Bom, se é cedo pra você, que está há 4 horas a frente do horário do Brasil, imagina aqui. Levantei só para acertar o calendário de afazeres do Boca Rosa Beauty para que a gente não se perca. Vê se faz logo as fotos teste da modelo para mandar, ok? Eu te amo, se cuida.

— Tá bom, Miguel. Te amo também. — e me despedi com um aperto atípico no meu coração. Receava já estar sentindo saudades.

Estava há dois dias sozinha, aproveitei para comprar o resto das coisas que a casa necessitava, conheci alguns pequenos museus e cafés.

Eu e Mariana não conversamos durante esses dois dias. Porém, em breve, precisaríamos tirar as fotos teste para mandar para a equipe responsável pela campanha.

Hoje a tarde se iniciava de maneira quente. Paris vibrava uma luz que se aproximava de tons rosé gold, os raios solares deixavam a vista de longe turva, o céu era limpo e caloroso.

No entanto, hoje é domingo. E todo domingo é igual, seja em Paris ou em São Paulo. Nesse dia, por alguma razão, sempre se é necessário uma força interior maior do que o normal para te empurrar para fazer algo. Caso contrário, restará o tédio e um dia perdido por consequência da preguiça. Ainda não sabia o que fazer hoje, mas certamente não queria perder um dia.

— Alô? — atendi o telefonema enquanto ainda estava no banho.

— Oi, Bianca. É a Mari. Tudo bem?

— Ah! Oi, Mari. — eu gritava, assim evitava de pegar o celular com as mãos molhadas, embora eu tivesse desligado o chuveiro, eu não sai do box. — tudo bem, sim. Aconteceu alguma coisa?

— Não. Está tudo bem. — riu — queria saber se você gostaria de fazer alguma coisa nesse domingo horroroso de sol, sabe? A maioria das pessoas que eu conheço já estão habituadas com Paris, mas a cidade é novidade para você. Pode ser legal.

— Mari, você me salvou. Claro que eu quero.

— aí! Que bom, meu Deus, vou te levar em um lugar incrível. E é surpresa. Esteja pronta em uma hora que eu estarei em sua casa. Volte para o banho agora.

— como sabe que eu estou no banho? — perguntei desconfiada.

— Por Deus, você está gritando e o ambiente faz eco. Mas é bom, estará pronta em pouco tempo. Até mais, Bia.

Mariana era terrivelmente destemida. Quem olhava aquele jeito meigo, não imaginava tamanha ousadia. Ela não era medrosa, mas também não escancarava sua coragem. Isso ficava à espreita, nos detalhes, mas era visível. O que, de fato, me agrada muito.

Sempre acreditei que quem muito grita aquilo que é, deseja convencer a si mesmo de algo que nunca foi.

Eu sempre achei que eu era "porra louca". Mas muitas vezes me via surpresa diante de Mariana e sua ousadia, por menor que ela fosse. Talvez seja um embate entre sua personalidade e a minha primeira impressão. Já que, como mencionei, seu rostinho não deixava explícito.

Um café ou dois?Onde histórias criam vida. Descubra agora