VINGT.

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Bianca.

Um som longe me incomodava.

O mesmo som que estava no meu sonho.

Talvez eu estivesse realmente cansada e meu cérebro incluiu o som externo a alguma eventualidade que ocorreu em sonho para me poupar de despertar. Mas não funcionou, que pena.

Meu corpo pesava, doía e se recusava a se mover. Era involuntário. Eu não aguentava mais o som do celular me incomodando. Mas eu acordei tão desnorteada que eu não sabia se era o despertador ou alguém me ligando.

Eu sei que eu tenho compromisso pra hoje cedo, mas especificamente, oito da manha. Então, provavelmente era meu despertador.

Com muito custo e irritação eu me sentei na cama. Minha cintura ardia, olhei a região é minha pele estava marcada pela calça jeans. Espera! Eu dormi de calça jeans?

O som irritante do celular, de novo.

Levantei e fui até a mesinha que tinha no meu quarto, peguei o celular. O brilho me ardeu os olhos, mas, aos poucos, eu acostumei.

30 chamadas do Miguel??????

Meu deus! O que será que aconteceu no Brasil?

Meu corpo se encheu de adrenalina e agora eu estava aflita e preocupada. Desbloqueei o celular e imediatamente retornei a ligação.

— POR QUE VOCÊ FAZ UMA COISA DESSAS, BIANCA? — Miguel não gritava mas estava excessivamente exaltado e irritado. — Você tem noção? Onde você estava? Eu estava preocupado, Bianca!

— Calma, Miguel. Está tudo bem! — falei num tom de voz que eu acreditava poder convencê-lo de que esse excesso de preocupação não se fazia necessário. — eu saí ontem com a Mariana.

— Calma? Como você me pede para ter calma depois de deixar um francês extremamente irritado esperando por uma hora e meia? — seu tom de voz era ríspido. Ele me lembrou do meu compromisso e minha vista escureceu. — como você me pede calma sendo que marcamos com a payot para mandar a proposta ainda hoje? Você por acaso sabe que horas são aí em Paris? DUAS DA TARDE, BIANCA!

Eu não sei o que dizer.

Minha cabeça está girando. Minha vista perdeu o foco. Minha audição sumiu. Minhas pernas enfraqueceram.

2 da tarde?

Meu compromisso era as oito.

Fodeu.

E eu nem me lembro direito do que aconteceu ontem. E como aconteceu, isso SE aconteceu.

Sentei na cama. Desliguei na cara do Miguel. Eu precisava de uns minutos em silêncio. Eu precisava digerir. Eu precisava, de repente, sei lá, chorar em frustração.

Uma coisa é dar errado, você ficar triste porquê deu errado, mas por outro lado ter o conforto de que você tentou. No entanto, seus projetos escorrer pelo meio de seus dedos é uma situação lastimável.

Eu havia saído do meu país, eu troquei de continente, eu caminhei todos os dias para esse dia, para arcar com as responsabilidades que eu assumi e agir de acordo com as expectativas que me atribuíram. Eu movi toda a minha vida pra quando chegasse o dia de decidi-lá, eu simplesmente agir com imprudência, impulsividade e irresponsabilidade.

Eu estava, simplesmente, indignada.

Eu estava frustrada e envergonhada. Não era só eu quem estava envolvida nesse projeto. Tinha os meus sonhos e as pessoas que sempre apoiaram todas as minhas decisões, inclusive essa. Eu contava com isso. Meus sonhos contavam com isso. As pessoas contavam com isso. Meus fãs contavam com isso.

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