QUINZE.

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🚀

O caminho de volta para casa foi diferente do caminho que fizemos para chegarmos até o comércio. Dessa vez, ele pareceu mais longo, acho que devido ao buraco negro que se formou entre eu e Mariana por conta do peso do silêncio dela.

Eu estava inquieta. Me culpei por ter sido invasiva, eu já não gosto de guardar desaforos, quando bebo, meu senso justiceiro se evidencia e não há nada que o impeça. Eu vou, e faço.

No entanto, tentei me distrair com a vista que era linda e corria pela janela como vultos.

Ouvi a voz de Mariana agradecendo ao motorista. Percebi que havíamos, enfim, chegado.

Assim que entramos, Mariana já correu de encontro com Luete e ficou no sofá acariciando e conversando com a gata, que por sua vez, parecia não se importar.

Luete, se você soubesse a sorte que tem, não a trataria com esse desdém. Gatos, né? Eles tem suas formas peculiares de amar.

E talvez seja isso. Às vezes somos peculiares e não correspondemos aos clichês. O processo de assumir um sentimento, seja ele qual for, poderia ser, também, peculiar. E sua demonstração, uma consequência.

Enfim.

— Mari, você poderia parar de me ignorar? — perguntei sentando no sofá ao lado de Lua.

— Não estou, Bia. — ela não me olhava nos olhos. — quando iremos fotografar para as fotos oficiais? — mudou o assunto.

— Depois de amanhã, Mari. Precisamos encaminhar as fotos para a gráfica e para a agência o quanto antes. — lembrar desse processo me despertava cargas demasiadas de adrenalinas. Eu ficava, realmente, muito nervosa.

— Vai fazer o que com elas? — dessa vez ela me olhou.

— Iremos veicular para propagandas nos meios on-line e no PVD da boutique que irá inaugurar aqui em Paris. — sorri.

— O que?! — sua feição era de espanto — você vai inaugurar uma boutique aqui em Paris?

— Mas eu já não te falei sobre isso?

— Não! Claro que não. Eu sabia que era para Boca Rosa Beauty, mas só. — Mariana sorria abertamente. — você é uma mulher muito foda.

"Você é uma mulher muito foda." Essa frase ficou ecoando na minha cabeça, eu cheguei até a dispersar do assunto.

Acho que, finalmente, estávamos bem de novo. Eu gostava que com Mariana não era necessário tantos rodeios, ela conseguia dominar as tensões e transformá-las em leves ou pesadas quando quisesse, e geralmente ela esquecia, ou deixava o assunto que pesava pra lá. E sorria abertamente, esse sorriso, em específico, era como um abraço que promove conforto e acalenta.

Eu amava esse sorriso. Era sinal verde para que eu pudesse tirar o pé do freio e prosseguir sendo eu. Me tirava o peso e eu entendia que alguns conflitos são nossos, com nós mesmas.

— agradeço muito o seu apoio, Mari. Fico feliz que eu tenha te encontrado para escrevermos esse capítulo por aqui. — sorri.

Mari pegou na minha mão e sorriu. Observei o ato singelo. Ela me apoiava e não precisava dizer, eu sentia. Eu via ela fazer.

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