DIX.

585 55 60
                                    



Mariana.

Acordei com a bexiga estourando. Precisava ir ao banheiro, tentei me mover mas senti um peso na parte inferior do meu corpo, olhei e percebi que era uma perna de Bianca que estava, nem um pouco delicada, em cima de mim, e a outra perna...

Meu Deus, eu nunca vi isso?

A outra perna da Bianca estava para o alto. E ela dormia pesadamente.

Cutuquei com o dedo a perna levantada dela, engraçado que ela, mesmo dormindo, equilibrava, não caiu. O quão cômico isso se apresentou para mim, eu nem sei explicar.

Levantei devagar para não acordar a princesa adormecida e segui meu caminho até o banheiro olhando para trás e rindo baixo da cena que eu via.

A casa de Bianca tinha seu cheiro pelos ares. Respirei fundo. Era, no mínimo, engraçado a maneira como nos aproximamos. Semanas atrás eu estava indo vê-lá, pela primeira vez, extremamente nervosa e com medo de não ser aceita para o job.

Hoje a considero, intimamente, mais do que eu gostaria de considerar, devido ao pequeno tempo em que nos conhecemos. No entanto, a importância dela para mim não se importava com a ideia humana e relativa de tempo. Eu só me importava, essa era a única coisa que eu sabia. Por tanto, não me perguntem nem como, nem porquê.

Eu sinto uma resposta natural e gostosa do meu corpo toda vez em que eu estou em contato com Bianca. Isso me faz ter uma sensação relacionada a abstinência, fico corriqueiramente, com vontade de estar com ela e ouvi-la falar e gesticular o tempo todo.

Os momentos que propusemos uma a outra, era difícil de descrever de maneira clara, relembrar desses momentos diminuía o fluxo do meu sangue, me deixava com as pernas tão leves que parecia perder a firmeza. E eu conseguia sorrir e até mesmo rir de algumas lembranças que transcorria pela minha cabeça. Tal como, a feição de espanto no rosto e na postura de Bianca quando a levei para conhecer as catacumbas, ela estava tão inquieta que me divertida de maneira muito saudável. Tadinha, talvez ela não gostasse de saber que eu me diverti com seu nervosismo.

O mesmo acontecia quando eu lembrava do passeio de barco e da imagem que me acomete o imaginário, era ela, na golden hour. Sua pele reluzia de tal forma que suas tatuagens ficaram com aspecto de que acabara de ser feita. Parecia que o sol refletia o brilho que já tinha, naturalmente, nela. E como os cabelos voavam, Bianca era tão leve quanto os fios ao vento.  Ela era assim, delicada, serena e contagiante. Alma de borboleta.

— Bom, vamos levantar, Mariana. — eu disse somente para mim, a fim de criar coragem de vencer a ressaca que me arrebatava e trazia uma preguiça imensa. Desde que sentei para fazer xixi, aqui fiquei, refletindo.

Lavei minhas mãos e meu rosto. Percebi que não tinha escova de dente, vamos de improviso, né? Escovei com o dedo, mesmo. Voltei para a sala, tirei o short de Bia e vesti a minha calça, permaneci com o blusão que a mesma havia me emprestado.

— Acho que ela não vai acordar tão fácil — sussurrei pra mim. — vou buscar o café.

Destranquei e abri a porta bem devagar para que não houvesse nenhum risco dela acordar. Desci.

Não levei nem 20 minutos. A padaria era bem perto do apartamento de Bianca e não estava cheia. Um bônus de Paris é esse, ter por perto sempre uma boa padaria. Retornei ao apartamento trazendo duas caixas de suco de laranja, dois Pain au chocolat, uma baguete, algumas viennoiseries e geleias.

— Aí! Droga. — gritei após ter conseguido derrubar, com o cotovelo, enquanto procurava vasilhas, os dois copos que eu havia pego. O barulho foi imenso para aquela manhã silenciosa.

— QUEM É? — ouvi Bianca gritar.

— Eu, Bia. A Mari. — caminhei até a sala e me deparei com uma morena descabelada, com a maquiagem borrada, de pé e abraçada com uma almofada. — Desculpa te acordar, quebrei dois copos seus sem querer, depois te dou outros, tá bom?

— não precisa se desculpar, nem me dar outros copos. Está tudo bem.

— Então porque está emburrada? — questionei.

— Desde que cheguei em Paris eu sou, constantemente, acordada sem minha vontade. Você estragou meu sonho. — Bianca fingiu estar triste.

— Desculpe! Como estava sendo o sonho?

— Não lembro. — deu de ombros.

— Era sexo? — gritei em surpresa.

— QUE? Não! Porque seria?

— Ué, você está brava porque estraguei o sonho, e agora diz não lembrar? Conheço esse macete, viu, Bianca? Agora vem, vamos tomar café. — caminhei para a cozinha, Bianca veio atrás. — Não pisa aqui descalça, preciso limpar.

Juntei tudo com a vassoura e retirei da cozinha com a pá. Bianca acordou com uma cara altamente manhosa. Ela estava sentada, de braços cruzados, com um bico enorme olhando para o nada. Sorri com a cena que transbordava fofura.

Assim que servi a mim e a Bianca, ela pareceu sair do transe.

— você levantou cedo para comprar isso tudo? — sorriu pela primeira vez naquele dia. Um sorriso tão largo e reluzente que se assemelhava com o nascer do sol. Sorri junto.

— Acordei de repente. Aproveitei para te fazer um agrado por ser uma ótima patroa, patroa. — pisquei. — Os franceses não tem costume de servir mesas fartas no café da manhã. No entanto, espero que goste.

Sentamos juntas na cozinha e começamos a comer.

— Vou fazer café. — disse se levantando. — sirvo um, ou dois?

— Dois, Bia. Por favor.

Talvez eu tenha errado no suco de laranja. Pelo menos para as próximas, fica o aprendizado.

Meu celular e o celular da Bianca estavam em cima da mesa. E foi de um dos aparelhos que veio o som que ecoou, fazendo por dois segundos, o silêncio do ambiente se dissipar. Havia chegado notificação. Corri os olhos para os aparelhos. Não era o meu, era o dela.

Na tela era possível ler:
Bárbara: Bonjour, jolie fille*

O ambiente voltou ao silêncio conforme a tela do celular apagava. Bianca veio trazer os cafés expressos.

— O que é Jolie Fille, Mari? — perguntou sem tirar os olhos do celular.

— Menina bonita.

— Obrigada. A menina do PUB me mandou.

Engoli seco.

— Era com ela o sonho, Bia?

— Meu Deus, Mari. — Bianca riu desligando o aparelho. — Meu sonho não foi erótico.

— Exótico? — perguntei.

— Não, Mari. Não foi ERÓTICO, nem exótico. Eu realmente não me lembro. — ela ria balançando a cabeça negativamente.

Infelizmente e involuntariamente, não a acompanhei no riso. No entanto, ela não pareceu ligar, ficando em silêncio logo após a eventualidade perder a graça.

Silêncio. Era disso que eu precisava para entender, exatamente, onde eu fiquei incomodada.

🚀
Olá, menines.
Um capítulo pequeno pra vocês, me desculpem por isso. Estou ansiosa para desenvolver a história logo.
As narrações da Bianca, que são as principais, provavelmente serão mais longas. Tal como o capítulo anterior, onde eu consegui aumentar o tamanho do cap.
por enquanto, ainda estou desenvolvendo a perspectiva e o arco da Mariana.
Enfim, estou muito feliz com o crescimento da história, dia a dia recebo pessoas novas por aqui. Isso é muito gratificante. Obrigada, de verdade.
Espero que gostem.
Até breve. 👄♥️.

Um café ou dois?Onde histórias criam vida. Descubra agora