SEIZE.

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Mariana.

Costumo sempre manter uma boa disciplina, respeitar o espaço alheio e me preservar.

Porém, as vezes eu meto os pés pelas mãos.

Beijar Bianca era um desejo que se remexia ansioso dentro de mim. E esse tal desejo não me deixava mais em paz. As células do meu corpo, até a menor delas, ansiava por alguma interação com as células de Bianca. Qualquer toque, mesmo que despretensioso, queimava meu estômago em alarde: ela me tocou.

Em pouco tempo, eu idealizei ela. Eu a imaginava perfeita até em seus erros. Eu pensava nela nas horas mais aleatórias do dia. Eu via algo e pensava sobre o que ela diria se visse esse algo também, se ela gostaria, se riria comigo.

Eu não sei o certo como nomear essa sensação. Mas se juntarmos todos os sintomas, eu arriscaria dizer que, infelizmente, eu poderia estar cedendo a postura para a minha patroa. Para uma mulher que vai embora de volta para o Brasil em poucas semanas, a mulher que me escalou sem avaliar outras modelos pra sua coleção. Eu não podia entregar a única coisa que eu tinha — a sanidade.

Por conta disso, eu reprimi meus desejos. Eu matei a imagem de Bianca toda vez que ela vinha em mente. Eu repassava a imagem de vê-la beijando Bárbara num looping interminável. Eu desejava asfixiar as borboletas do meu estômago, para que elas não batessem asas quando percebecem a presença da patroa.

Mas quanto mais eu luto contra, mais eu esqueço de esquecer.

Descrevi o sorriso dela nas linhas do meu raciocínio, escrevi mil metáforas só pra falar dela. Ou tentar descrevê-la. Ou tentar justificar o que me ocorreu, e por quê. Aprendi que o nome dela deixava em minha boca um gosto doce. E eu sequer havia beijado-a.

Eram tantas questões. Eu tentava cessar todos os sentimentos que me ocorriam genuinamente, e ao mesmo tempo, tentava fazer sentido a eles. Mesmo que eu saiba que quando se fala em sentimentos, sentido não se faz necessário, não se precisa de lógica.

Bianca me pressionou a contar o que me incomodava, mas eu sequer me arrisquei em colocá-las em ordem. Como poderia partilhar os meus problemas, para o meu problema? Aquilo me irritou. Tentei evitá-la. Porém, o prazer de sua presença é maior do que as questões, então desejei ficar. Fui até sua casa com ela.

Bianca parecia preocupada, ficava tensa quando se aproximava de mim. Eu não desejava que nossa interação virasse receio. Mas não sabia o que fazer, foi quando Bianca ofereceu terminar o vinho. E sim, eu aceitaria qualquer coisa que ela me oferecesse.

Quando o vinho começou a penetrar as minhas veias, deixei com que a sensação fluísse. Me senti mais leve e desinibida. Me aproximei de Bianca.

Essa aproximação foi um súbito. Por mais que eu respondesse as perguntas de Bianca, eu estava falando era comigo mesma. E cheguei a conclusão que para lidar com uma consequência, é preciso tê-la. E foi por isso que me virei de frente a ela.

Quando me virei, ve-lá em minha frente me fraquejou. Bianca mesmo descontraída tinha a postura matadora, ela me desarmava e me desvendava como ninguém nunca havia feito antes. Mas eu não podia dar para trás, essa, talvez, seria a única chance que eu teria em dias. E estava ansiosa aguardando as consequências.

Levei meus dedos em seu braço e a morena enrijeceu. Fingi não me importar, contornei sua mandala do braço, de baixo até em cima. Ela não se esquivou. Subi a mão até sua nuca, e me aproximei mais.

Estava tão absorta em seus detalhes que eu não sei exatamente quando foi que ela se aproximou. E quando foi que ela quebrou a distância de nossas bocas.

Finalmente! finalmente eu criei coragem. Finalmente eu conheci o gosto do beijo e era exatamente o mesmo de quando eu falava sobre ela. Mesmo que ainda tivesse resquícios do vinho.

O mundo num instante, parou. Eu me senti nervosamente feliz, e se eu pudesse, anteciparia o ano novo.

No entanto, o mundo não é feito de idealizações. Quando nos distanciamos, pedi desculpa. E antes que me perguntem, ela é a responsável pelo meu emprego durante as semanas em que a mesma estiver aqui. E eu não saberia lidar. Por isso hesitei tanto para colocar em prática.

Eu trabalhava para Bianca. Eu era cidadã francesa por direito estrangeiro. Ela iria embora assim que a aventura acabasse, e eu não pretendia voltar.

A realidade é, eu tenho medo. Não dela, mas do que sinto.

Foi só um beijo.

Se ela soubesse o que "só um beijo" me causou, ela jamais o teria dito. Porém, me lembrei do que ela haveria dito sobre a Bárbara e sobre tantas outras e outros. Não durava muito e era só um beijo mesmo.

Mas não pra mim. Pelo menos, eu acho que não.

E eu não queria que ela dissesse para outras sobre mim, o que me disse sobre outras. Essa consequência eu realmente não cogitei.

Resolvi ir embora. Precisava me recompor, precisava colocar a cabeça no lugar e esfriar meus ânimos. E isso só poderia ser feito sozinha. A presença dela poderia interferir no diálogo que eu precisava ter com a minha razão e a minha emoção.

Além disso, gente ainda tinha uma relação profissional, e para a eventualidade, não poderia estar nessa guerra interna. Não podia colocar isso acima do meu profissionalismo, se não, não entregaria todo o meu potencial.

Assim que cheguei em casa, liguei o celular, haviam algumas ligações perdidas da Bianca e algumas mensagens também.

Seja como fosse, eu sei que ela se importa comigo. Eu não seria cuzona.

— cheguei em casa, Bia. E estou bem. Até mais 😗✌🏻

Eu espero encontrar forças para encontrá-la daqui a dois dias.

🚀
Olá, menines.
Queria agradecer pelos 7K de leitura. E como sempre, eu espero que vocês ainda estejam gostando.
Desculpem-me a demora. Prometo atualizar em tempos mais curtos.
Até breve. ♥️👄.

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