QUATORZE.

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Bianca.

Mariana chegou em minha casa e, de repente, tudo pareceu aos poucos, entrar em ordem. Era bizarro a desenvoltura acolhedora e a ternura que ela exercia, quieta, somente com o olhar atento em tudo que eu dizia. Seus conselhos eram ainda mais intensos que o som do seu silêncio, eram cirúrgicos. Mariana não tinha medo de se expressar, eu suponho até que ela nem pensava enquanto dizia. Ela somente dizia, e fazia. Por isso eu a acho abusadamente desinibida e acolhedora na mesma proporção.

Eu definitivamente, gostava disso. Ela me ajudava a resgatar a minha confiança. Mariana confiava em mim, eu sentia isso. E sentia que eu também tinha em quem confiar.

Nós duas conversamos sobre os episódios desconfortáveis que me afligiram durante a semana e afloraram quando um francês safado se apoderou de seu nacionalismo. Mas, Marina segurou as minhas mãos e a minha barra.

Ela ainda propôs que voltássemos a fazer o que eu tinha saído para fazer. E eu aceitei, afinal, era com ela. O que daria errado com ela?

Iríamos almoçar juntas. Escolhemos o bairro Montmartre. E devo confessar que o lugar é lindo. Talvez eu nunca me cansaria de ver sempre os mesmos cenários dessa cidade inteira.

Estávamos em busca de algum restaurante, no entanto, eu visualizei algumas barracas e eu precisei ir até lá.

Mari, vamos naquela viela. Olha, cheio de barraquinhas! — eu estava animada para conhecer outra coisa nova daqui.

Quando fomos até lá eu percebi que não se tratava de uma "viela". Era, na verdade, uma praça. A praça dos pintores.

— Essa é a Place du Tertre, esse bairro é muito artístico, Bia. — Mari conversava comigo enquanto caminhávamos por entre as barracas.

Eu estava muito feliz de estar ali. Realmente, sair de casa me fez bem. Mariana tinha razão, nem parecia que meus eixos haviam sido desestabilizados por conta de um qualquer.

Lembrete mental: agradecer a Mari por isso.

Parei numa barraca pequena, as molduras das obras não era tão clássica quanto as das outras. Eram molduras lisas e modernas. Porém, o gatinho que estava pintado correspondia ao estilo artístico Art Nouveau. Não tinha dúvidas: precisava levar essa quadro para casa.

A senhora que nos atendeu era cativante. Uma querida! E como a maioria dos vendedores daquele local, falava inglês. Afinal, era um lugar movimentado por turistas.

Quando me abaixei para observar a pintura, Mariana se abaixou junto e colocou uma de suas mãos, na minha coxa. Eu fingi que o toque era despretensioso, mas me causou pequenos choques por toda a extensão do meu corpo. Minhas pernas estavam descobertas, fazia calor, a mão de Mariana repousando sobre ela parecia mais quente que a temperatura daquela tarde. Eu tensionei.

Precisamos levantar para prosseguirmos com o dia, e também para eu comprar o quadro. Perguntei o preço, a senhora falou, e começávamos um breve diálogo.

— Eu gosto disso. Acho muito bonita a liberdade dos jovens de hoje. Na minha época éramos muito reprimidos. — a senhora dizia, embora algo triste de sua época, sua expressão era alegre.

— Sim, senhora. Repressões são sempre muito ruins e prejudiciais. Mas do quê, exatamente, você gosta?

— Do amor livre entre jovens. E ver que tantos de vocês se relacionam com qualquer tipo de pessoas que os atrai. Você e ela ficam lindas juntas. — a senhora sorria alegremente, seus olhos chegavam a se fechar.

Eu fiquei sem graça. Mariana não pareceu ouvir o que a senhora dissera, ela estava observando outros quadros da barraca ao lado.

Não sabia o que responder para a mulher que sorria em frente a mim. Então, concordei e retribui o sorriso.

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