SEPT.

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Chegamos em casa no início da noite. Fazia um sol agradável. Para quem não sabe, próximo do verão, o sol costuma se pôr, por volta das 21:35 aqui em Paris. Devo confessar que até hoje eu ainda estranho. É um tanto quanto bizarro chegar em casa após um longo dia na rua, e ainda ser DIA. Talvez com isso eu nunca me acostume.

Mariana entrou elogiando o interior do meu pequeno apartamento. De fato, era mesmo bonito. Simples. Muito simples. Também existe beleza na simplicidade, e aquele apartamento era a prova disso.

O interior desse apartamento transbordava a essência da decoração e do legado clássico parisiense. Paris vai além dos enfeites e quadros de Torres, do arco ou do Louvre. Paris ficava nas minúcias, nas particularidades que passavam batido quando se comparava ao impacto de se deparar com a famosa Torre Eiffel.
Paris se percebia no cheiro, nas particularidades da moda, nas grades da minha sacada e no tom rústico clássico que flertava com a modernidade. A vista era a principal parte do cenário. Arquitetura inconfundível.

Enfim, particularidades a parte.

Enquanto eu guardava as compras no quarto e trocava de roupa, Mariana me esperava na sala. Devo confessar que me é um pouco estranho, para não dizer que acho um pouco inadequado essa aproximação tão repentina com a modelo da minha campanha.

Será que alguém acreditaria se eu dissesse que, eventualmente, um primeiro encontro, pareceria mais um REencontro? Como se, em algum momento da vida, eu tivesse deixado alguém em determinado ponto do meu passado. Será que me entenderiam?

Parece que meu caminho com Mariana já fora traçado antes. Em nenhum momento eu senti desconforto em estar com ela. Mas eu tinha medo. Medo de estar construindo uma relação baseada na insegurança de estar em um lugar novo, com pessoas que não conheço, num lugar que não conheço também. Medo de ter visto nela particularidades em comum, e acabar confundindo um sentimento genuíno de amizade com a necessidade de preenchimento de companhia, já que a solidão poderia me açoitar em poucos dias.

Eu tinha completa consciência da metamorfose que meu sentimento poderia sofrer, uma vez que eu tinha predisposição para tal. Eu me conhecia. Mas nem sempre compreendia a natureza da evolução. Meu medo era, justamente, as razões dessa evolução.

Toda e qualquer evolução depende do tempo para mudar de forma. O tempo é tão batido pelo costume, já que ele é um evento repetitivo, que raramente pensamos sobre o que ele é. Muitas vezes eu achei que tempo era algo criado para nos dar a sensação de direção. Mas, para onde? Acontece que ele é relativo. A própria física diz isso, de maneira científica, o tempo passa diferente dependendo do observador.

Para determinados observadores, certas aproximações pulavam algumas etapas do tempo, se é que tem.

— Mari, podemos ir de pizza? Comprei alguns vinhos, poderia ser uma boa combinação. Você gosta? — perguntei me sentando.

— Ótimo, Bia. Eu amo pizza!

Pedi pelo iFood. O mundo globalizado e tecnológico é mesmo uma delícia, né?

— O que está assistindo, Mari? — voltei a atenção para a televisão.

— Imagine eu e você.

— Já assistiu?

— Já, é bem legal. A protagonista está se casando, no processo conhece a florista do casamento, as duas sentem, instantemente, uma atração. Aí, a noiva entra em um conflito interno sobre se deveria se casar, ou não. se aquela atração, de fato existia, e se era recíproco. É um romance, bem lindinho. — disse despreocupada e pausadamente.

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